sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Resenha - Heretic: Betrayers of Kamigawa

McGOUGH, Scott. Heretic: Betrayers of Kamigawa. Renton: Wizards of the Coast, 2005. 312p. Paperback.


Comprei esse livro nos idos de 2008-2009, na época dos EUA. Naqueles tempos eu já conhecia um pouco do universo de Magic: The Gathering (MTG), mas não tinha noção de sua profundidade ou complexidade. Por conta disso, comprei o Livro II do Ciclo de Kamigawa, sem ter noção nenhuma do que era um ou outro. Na época, comprei-o por 1 dólar.

Eu já começo a review com a verdade: leiam esse livro! É muito muito bom! Sabe aqueles livros de ficção fantástica que valem a pena ler? Que tem magos, ogros, dragões lendários, kamis, cidades flutuantes, fortalezas, cabanas no pântano, mocinhas, vilões, heróis, heróis em dúvida? Pois é, tem tudo isso. Se você não conhece o mundo de MTG, dá uma googlada porque é uma quantidade boa de informação. No resumo: é um universo de magia, monstros e guerreiros. Fantasia.

A mini-resenha non-spoiler é: Uma história cativante de um guerreiro com dúbia lealdade que encontra-se no meio de uma guerra e, mesmo sem querer isso, vê-se cada vez mais levado ao centro dos acontecimentos. A linguagem não é complicada, os eventos são bem encadeados e deixam o leitor curioso para saber o que vai acontecer. Enfim, é como todo livro de ficção fantástica deveria ser. É o tipo de livro que eu leio e penso: caramba, que legal! Um dia eu quero escrever algo assim.

Só uma grande pena: não tem ele traduzido para português. Quem sabe num futuro não tão distante eu me meta a ser escritor mesmo, faça uma especialização em tradução e não traga essa literatura pra português? Quem sabe.

A partir daqui: SPOILERS. Decidi spoilar o livro porque, como não tem em português, há chance de que uma boa parcela de leitores não venha a conhecer essa história, então vamos lá.

Esse livro é o "Livro II" do Ciclo de Kamigawa. Nesse ciclo, somos apresentados à terra de Kamigawa, que remete ao Japão, lá há o Daimyo, seus samurais, ninjas, o mundo espiritual, cachoeiras, montanhas, planícies, pântanos e florestas. Não li o primeiro livro da série, mas pela leitura do segundo percebemos: 1) Toshiro Umezawa, o personagem principal, aparece no primeiro livro, recebendo uma missão para sequestrar Michiko, a filha do Daimyo Konda. No percalço, ele acaba não cumprindo a missão conforme mandado e Michiko é capturada de volta. 2) Toshiro tem um pacto com o ogro Hidetsugu e saiu numa missão com Kobo, o aprendiz de Hidetsugu; na missão, o aprendiz morre e o ogro fica furioso e jura vingança. 3) Toshiro é visitado pelo Kami da Lua Crescente e apresentado à Myojin do Alcance Noturno, um poderoso espírito que auxilia os devotos ladrões e sorrateiros da noite.

Tendo isso aí em mente, só pra dar uma base. O segundo livro (que foi o que eu li), já inicia com Konda em Eiganjo. A grande fortaleza abriga o que restou do vasto império do daymio: o que antes eram 5 milhões de pessoas, reduziu-se a 100 mil.

A Guerra dos Kami já se estendia por mais de 20 anos e foi Konda o maior afetado por essa batalha. Os Kami são espíritos, que habitam o mundo espiritual. Ao leitor não fica evidente qual a razão do conflito, mas vem o spoiler: no dia do nascimento de Michiko, a filha de Konda, o daymio executou um ritual e abriu um portal para o mundo espiritual (Kakuriyo). Lá, ele roubou "O Que Foi Tomado". O roubo desse artefato gerou um desequilíbrio no mundo espiritual, que resultou na Guerra dos Kami, que passaram a adentrar o mundo físico (Utsushiyo) para recuperar o artefato.

Mas onde eles apareciam, eles destruíam tudo. Não se resumia apenas ao império de Konda: as montanhas de Sokenzan, o pântano de Takenuma, a floresta de Jukai, a Academia Minamo; nem mesmo a cidade flutuante de Otawara, onde habitam os Moonfolk.

Konda é, e sempre foi, um desprezível. Ele é um ditador maníaco. Depois que roubou O Que Foi Tomado ficou mais louco ainda. Com suas manias de grandeza, ele usa seu poder para subjugar o povo e construir seu exército. Sob o comando de Takeno, o samurai general, o exército de Konda garantiu que eles ainda não fossem dizimados pelos Kami.

Em Eiganjo, Konda reúne seus súditos para afirmar que eles não teriam mais que se preocupar com as investidas dos espíritos, pois ele havia invocado a força do dragão protetor Yosei para proteger o reino. A multidão inicia um protesto contra as atitudes do ditador, mas são silenciados por ele.

Enquanto isso, a diplomata kitsune Pearl-Ear é expulsa de Eiganjo, deixando para trás Michiko, a filha do daymio, que na verdade fora criada pela diplomata kitsune. Michiko, feita prisioneira na torre mais alta da fortaleza pelo próprio pai, desenha num papel os símbolos mágicos de um feitiço kanji, numa tentativa de chamar Toshiro Umezawa para libertá-la. Sim, o mesmo cara que há poucos meses havia raptado-a. Ele parecia ser sua única chance de sair dali.





Toshiro tem uma espada samurai, mas ele quase não a usa no livro. Seu estilo é mago rogue, com magias para se esconder e usar a furtividade ao seu favor (seu jitte, por outro lado, é uma arma bem poderosa no jogo de cartas). Ele trabalhava para Uramon, a líder do crime organizado nos pântanos de Takenuma. Depois de muito esforço, ele conseguiu não trabalhar mais para ela, seguindo uma vida de mercenário independente.

No começo do livro, porém, ele é chamado à sua presença, sendo escoltado pela jushi (feiticeira) Kiku, que ele já conhecia de outras vindas. Uramon queria que Toshiro fizesse uma missão para ela, mas o rapaz tinha outros planos. Usando a bênção da Myojin do Alcance Noturno, ele assume forma fantasmagórica e, bem no meio de todo mundo, desaparece da vista e deixa de ser forma corpórea. Com isso, ele rouba um anel de Uramon e foge. A chefona, por sua vez, manda seus mercenários em seu encalço, incluindo aí Kiku e o nezumi (homens-rato) Marrow-Gnawer. Toshiro foge para o único lugar onde ele acha que tem alguma chance: as montanhas de Sokenzan.




Em Sokenzan, Toshiro escolhe um caminho amaldiçoado que leva para cima das montanhas. Os nativos da região sabem que não devem entrar ali, mas ele se arrisca. Os seus perseguidores não ficam satisfeitos em ter que segui-lo por ali. O que tem lá é um kami poderoso e sanguinário: Yuki-onna, uma espécie de loura do banheiro sanguinária e com poder de congelar os inimigos. O problema é que mesmo com seus feitiços, Toshiro só pode tentar direcionar ela, nunca pará-la. 

Funciona por um tempo, mas não tem jeito. Yuki-Onna acaba voltando-se contra Toshiro também. Toshiro usa a distância que conseguiu de vantagem (algumas horas a frente de seus perseguidores) e prepara uma armadilha. Na hora H, porém, ele é encontrado em seu esconderijo por Kiku e Marrow, que não haviam mordido a isca. Porém o que eles não sabem é que a armadilha não era para eles, e sim para o kami assassino. Os três são encontrados por Yuki-Onna que está prestes a matar todos, então Toshiro ativa a armadilha.

Porém, a armadilha precisaria do poder dos 3 ali para funcionar. Kiku e Marrow, sem escolha, dão as mãos para Toshiro e juntos ativam o feitiço que prende Yuki-Onna em um amuleto. Mas isso tem uma consequência: a partir daquele momento, Kiku e Marrow eram irmãos de pacto com Toshiro, o mesmo que ele havia feito com Hidetsugu, o pacto dos Hyozan. Com isto, agora eles estão vinculados um ao outro, correndo sérios riscos caso traiam um ao outro. Isto fica gravado neles como uma tatuagem na mão.

Depois disto, eles se encaminham para a casa de Hidetsugu, que fica nessa região. O ogro não é nada amigável e ainda está furioso com a morte de seu aprendiz. A única garantia que Toshiro tem é que como eles são irmãos de pacto, então Hidetsugu não poderia matá-lo. O ogro é um poderoso e sanguinário xamã, que serve ao Todo-Consumidor Oni do Caos (All Consuming oni of Chaos), uma espécie de demônio do reino espiritual que se antagoniza com os kami. 

Ainda encurtando a história, Hidetsugu conta a Toshiro sobre seu plano de ir à Academia Minano matar todo mundo porque eles foram os mandantes do assassinato de seu aprendiz. Movido apenas pelo ódio, Hidetsugu então planeja dizimar tudo e todos. Nessa ocasião, Toshiro entrega a ele o amuleto que contém a Yuki-Onna e recebe dele um outro amuleto que contém um oni poderoso, que depois descobrimos ser o Oni dos Lugares Selvagens.

Para deixar meio confuso e dar o gostinho de quero-mais aos leitores, informo que depois Hidetsugu vai dar o amuleto da Yuki ao bandido Godo, para que ele use contra os soldados de Konda e tente expandir suas fronteiras para além das montanhas de Sokenzan. O bandido vai aceitar a proposta e usa o amuleto nas fronteiras com o império do Konda. Acontece a mesma coisa: no começo funciona, os soldados do Konda começam a ser dizimados, mas depois a Onna se volta contra tudo e todos. Godo se lascou.

Por sua vez, Toshiro vai usar o amuleto com o oni lá na cidade de Otawara, a cidade sagrada dos Moonfolk. Ali na cidade onde nenhum humano sequer tinha pisado antes, ele se infiltra, arranja briga com um dos maiores guerreiros da cidade, dá uma pisa e solta o cachorrão doido pra atacar a cidade e causar o caos. Mas isso acontece bem depois.


Voltando: saindo da casa do Hidetsugu. Toshiro finge estar capturado e volta para a casa de Uramon, em Takenuma, porque ela ainda tem uma coisa que Toshiro quer. Ele chega lá escoltado por Kiku e Marrow, mas claro que é tudo uma armadilha. Quando estão na sala principal, bem na frente da chefona, eles atacam todos ao redor. Uramon rapidamente ativa sua passagem secreta e vai se esconder até a luta acabar.

Era exatamente isso que Toshiro queria. Ele usa a bênção da Myojin e segue ela em forma fantasmagórica. Uramon então vai para seu esconderijo e lá pretende usar um objeto, uma espécie de disco negro que ativa o Shadow Gate (Portal das Sombras), mas infelizmente ela não consegue fazer isso sem o anel que Toshiro roubou. Com a faca e o queijo nas mãos, Toshiro derrota Uramon e ativa o Shadow Gate.

Esse artefato dá ao usuário a habilidade de teleporte ou viagem rápida pelas sombras. Basicamente, com isso, Toshiro pode entrar numa sombra e sair em outra em qualquer outro lugar, não importa a distância. Ele usa a primeira vez logo ali no esconderijo de Uramon, para ver como funciona. Ele é sugado para uma espécie de vácuo, onde não há nada, mas ele sente o movimento. Em determinado momento da viagem, porém, ele ouve uma voz falar com ele: a própria Myojin do Alcance Noturno o chama e leva-o para o seu Honden.

Lá no Honden da Myojin ele se encontra com a poderosa Kami da Noite. Com sua atitude irreverente, Toshiro demonstra estar à disposição da Myojin para alguma missão que ela tenha. Por sua vez, a kami decide deixar suas opções em aberto, porém concede um presente maior e muito importante para Toshiro: ela funde o artefato que dava acesso ao Shadow Gate ao próprio corpo de Toshiro. Pronto. Toshiro agora pode usar o teleporte das sombras a seu bel-prazer, podendo viajar por qualquer sombra (por menor que seja) até um destino onde haja sombra. No começo ele se cansa um pouco e isso o desgasta, mas com o tempo se acostuma.


Com esse novo poder em mãos muita coisa acontece e não vou detalhar muito: Toshiro resgata Michiko de dentro do castelo do Konda (chega até a conhecer brevemente o Isamaru, o cachorro do Konda) e leva-a para a aldeia das kitsune que ainda restavam. A partir deste ponto, a história foca um pouco nas andanças de Michiko com Pearl-ear e sua turma. Eles se reúnem e decidem ir à Academia Minamo para solicitar apoio a Hisoka, o líder da Academia e entender porque Konda é alvo dos Kami e porque essa guerra toda aconteceu (até aqui ninguém sabia ainda).

Se não perceberam ainda, a Academia Minamo vai se tornar um epicentro de acontecimentos: Hidetsugu está indo para lá matar todo mundo, a delegação de kitsune (junto com Michiko) estão indo para lá e tem os interesses do Kami da Lua Crescente e os moonfolk (também chamados de Soratami) por trás disso. Abaixo um exemplo de um kitsune e um moonfolk só pra exemplificar, essas cartas não aparecem na história.



Como já mencionei, os kami são seres espirituais que habitam o mundo deles, mas todos têm relação com o mundo físico de alguma forma. Quando O Que Foi Tomado, então, foi roubado, eles se revoltaram e passaram a ir para o mundo físico para atacar e conseguir o artefato de volta. O problema é que os kami nunca deveriam ir para o mundo físico de maneira tão abrupta, por isso quando eles chegam estão tão deformados e irados que atacam tudo que veem. A descrição do livro é como se eles passassem por um mar de espinhos para chegar no outro lado. Não é que eles não possam atravessar, mas é que isso deveria acontecer de uma maneira específica.

Tanto é que há vários kami que se manifestam no mundo físico sem problemas, um deles é o Kami da Lua Crescente. O gordinho azul, como chamo, tem uma agenda própria em todos esses acontecimentos. A gente descobre depois que ele foi um dos que ajudou para que Konda conseguisse abrir o portal e roubar O Que Foi Tomado. Mas nem mesmo o gordinho azul imaginava a desgraça que isso tudo traria. Aí ele mudou a estratégia: ao invés de impedir a destruição do mundo físico por causa da Guerra dos Kami, ele usaria isso a seu favor.

Há uma série de manipulações aqui em que o gordinho azul está no topo. Ele é adorado pelos moonfolk e dá conselhos a eles. Por sua vez, os moonfolk manipulam a Academia Minamo e Hisoka, o seu líder. O grande plano do azulzinho é, como os moonfolk moram na cidade flutuante, que lá embaixo todo mundo se mate e os moonfolk reinem soberanos em Kamigawa depois disso. E o gordinho é esperto: esse era o plano dele desde o começo da Guerra dos Kami, ou seja, ele já está se preparando para isso há mais de 20 anos.

Ele armou os moonfolk, garantindo que eles criassem um exército e ficassem na surdina, preparando-se para a batalha e a dominação depois. Enquanto isso, os moonfolk manipulavam a Academia Minamo para garantir a segurança em terra, fazendo com que eles se aliassem ao Konda. Assim, os moonfolk mantinham uma rede de controle e conhecimento necessário para ficar só esperando o momento certo.

Em tudo isso o gordinho azul estava criando as condições para o que ele sabia que eventualmente ia acontecer. Vamos voltar para Eiganjo. Está lá o Takeno fazendo a ronda da cidade, ficou sabendo dos ataques de Godo na fronteira e vai falar com Konda pra saber o que fazer. Ele encontra o daymio no estado em que ele fica de uns tempos pra cá: no seu santuário, simplesmente admirando O Que Foi Tomado. Seus olhos vazios, suas palavras às vezes sem sentido, o dia todo ali, feito um boneco diante do seu precioso artefato.

Takeno chama a atenção do mestre e Konda, para tranquilizar Takeno, leva-o ao pátio da fortaleza, para lhe garantir que está tudo bem, que com a ajuda de Yosei eles estavam seguros. Aliás, até decide enviar Yosei pra dar uma pisa em Godo e seus bandidos, seria coisa fácil e... mas... espera... o que é aquele ponto escuro no céu? Takeno, Konda e todo mundo olhando. O próprio Konda diz quem é: O-Kagachi, o Kami Vingativo.


Enquanto o bichão que é a desgraça maior chega em Eiganjo, a delegação das kitsune, e a princesa Michiko escondida, chegam a Minamo (lembrando que Michiko tinha que ficar em off porque ainda era fugitiva da torre do Konda). Lá eles são recebidos por Hisoka e vão lá conversar. As kitsune querem que Hisoka conte o que sabe sobre o início da Guerra dos Kami e o que foi que Konda fez pra dar início a tudo. O velho Hisoka, porém, é um decrépito, ele fica com medo e acaba desmaiando. Aí aparece quem vai contar tudo: o gordinho azul.

Monitorando tudo à distância, ele e os moonfolk estavam esperando a hora de intervir, porque sabiam que Hisoka era mole. Com o velho desmaiado, o azulzinho conta o que nós já sabemos, de Konda roubar O Que Foi Tomado no mesmo dia que Michiko nasceu e que neste exato momento O-Kagachi estava indo para Eiganjo para matar tudo e todos, a fim de recuperar o que lhe pertencia. Mas e o que é esse artefato afinal de contas? O que é isso que levou a toda essa desgraça?

Primeiro a gente tem que entender quem é O-Kagachi. Ele é considerado como uma divindade pelos próprios kami. Esse dragão-espírito tem tanto poder por um motivo: é ele quem guarda a divisão entre o mundo espiritual e o físico. Aliás (e o livro é meio confuso nessa explicação -- penso eu que propositalmente), o mundo físico e o espiritual são tipos de manifestações do próprio O-Kagachi.

Esse ser muito poderoso teve algo arrancado de si no dia que Konda roubou o artefato: seu próprio coração. Porém o azul gordinho explica que não é bem o "coração" dele, mas em termos humanos, é como se o Konda tivesse roubado a filha de O-Kagachi, também no mesmo dia em que ela nasceu. E como o mundo espiritual é parte de O-Kagachi, todos os kami foram afetados e todos então ficaram enfurecidos e passaram a ir para o mundo físico para tentar recuperar o artefato.

Por isso que esse artefato tão poderoso causou todo esse rebuliço. Além disso, é por causa dele também que Konda garantiu sua imortalidade e conseguiu tanto poder para dominar, antes do ápice da Guerra dos Kami, em que ele foi forçado a se retrair cada vez mais. Só que tanto poder deixou o daymio desvairado, sem condições de conseguir governar como convém.

Enquanto o gordinho azul contava isso tudo, Toshiro aparece na sala, questionando as palavras do Kami. Toshiro afirma não confiar nele porque sabia que ele tinha um estratagema por trás. É nessa hora que o leitor fica sabendo do plano dele com as moonfolk pra dominar tudo. E aí vem o que já esperávamos: lá embaixo, Hidetsugu e sua turma chegaram pra destruir geral.

Nessa hora ainda fica ainda mais evidente que o Kami da Lua Crescente serve apenas aos seus próprios interesses. Quando questionado pelas kitsune se ele não salvaria seus aliados da Academia Minamo desse inimigo que estava chegando pra destruir geral, ele se limita a responder: "Que aliados?".

E o Hidetsugu chega pra quebrar mesmo. Antes, ele até tinha desejo de ensinar seu aprendiz, mas depois da morte dele, seu único desejo era sangue e morte. Vingança contra os assassinos de Kobo era a ordem do dia. Ele chega em Minamo sem dificuldades, acompanhado de seus guerreiros Yamabushi. E isso é uma lasqueira para os kami: esses guerreiros são especialistas em guerra contra espíritos e destroem eles com facilidade.

Por algum motivo que não descobri exatamente no decorrer do livro, Hidetsugu tem controle total desse grupo de guerreiros (com ele para o ataque em Minamo vão uns 9 ou 10), eles o obedecem cegamente, sem reação emotiva nenhuma, parecem zumbis mesmo, mas eles são inteligentes, respondem aos comandos e são muito, muito eficientes. Eles lutam de maneira coordenada, fazem estratégias para derrotar os inimigos e são variados: um é mago, outro luta com espada, outro com arco e por aí vai. A Academia Minamo não estava desprotegida, claro, e de cara eles recorrem à sua arma mais poderosa: Keiga.

Sendo um dos dragões protetores (tal como Yosei), Keiga proporciona uma batalha feroz aos inimigos antes mesmo de eles conseguirem entrar em Minamo (que estava lá sobre as cachoeiras). Só que ela não é párea: os Yamabushi são especialistas em lutar contra espíritos, e ela é um dragão-espírito.

Mesmo conseguindo matar alguns dos guerreiros, Keiga cai depois dos ataques dos Yamabushi, auxiliados por Hidetsugu, que, aliás, usa todas as magias de fogo que tem direito. Depois que ela cai, o ogro ainda tem a audácia de ir lá, arrancar um pedaço da sua carne e comer na frente de todos.

O ogro está andando em direção à academia, usando magia para subir e de repente os céus se abrem, as nuvens se afastam, uma lua minguante aparece de maneira não natural. Moonfolk montados em nuvens, empunhando espadas, arcos, cajados. Hidetsugu sorri de alegria com mais uma batalha. Mas não acontece o que ele esperava. Os moonfolk ignoram toda a situação e prosseguem sua marcha adentrando a floresta e seguindo outro rumo. Minamo estava perdida e tremia nas bases com a chegada do ogro.

A Academia, por seu nome, era um lugar de estudo. Havia guerreiros, claro, magos de diversos tipos. Porém, onde é mais fácil encontrar bons guerreiros: num quartel ou numa escola? A resposta é óbvia. Mesmo os guerreiros de Minamo não eram páreos para a selvageria do ogro e seus guerreiros. Muitos até fugiram com medo e vários vários morreram. Uma grande parte dos magos se escondeu e usava suas magias para fazer os alunos da academia fugir para a terra, tentando salvar a vida deles.

Neste ponto, Hisoka acorda do seu desmaio e é informado da desgraça toda. Toshiro dentro da sala ainda informa a todos do plano de Hidetsugu pra matar geral. O velho Hisoka tem uma atitude admirável, mas coitado do velho. Ele achava que seria possível falar com o ogro e conseguir algum acordo. Ele sai da sala e vai descendo as escadas, os corredores vazios, magos correndo e o barulho da batalha ao longe, vê alguns magos tentando conter o ogro, porém suas magias não eram suficientes. (A figura ao lado não aparece no livro, é só pra ilustrar).

Hisoka era um grande acadêmico e um excelente gestor, mas infelizmente não era um guerreiro, sequer era um mago. Ele teve que assistir inerte aos outros magos conjurarem feitiços para auxiliar os estudantes a fugir, nem isso Hisoka sabia fazer, não era sua área. Hidetsugu chega e encontra o velho. Não tem como conversar, Hidetsugu não se satisfaz com nada menos do que o caos e a destruição. Para mostrar isso, o ogro levanta o velho com uma das mãos e abocanha sua cabeça fora.

Depois dessa demonstração macabra de seu objetivo, Hidetsugu mostra que ainda tinha algo pior em mente. Ali mesmo onde estava, num dos pátios da Academia, ele ordena que os guerreiros Yamabushi parem a invasão por um momento. Ele então desenha alguns símbolos no chão e invoca seu Oni: All-Consuming Chaos. O nome já diz tudo. O demônio devagar ergue-se e passa a destruir tudo em seu caminho. Hidetsugu volta a atacar e destruir.

Enquanto isso, lá na sala do Hisoka, estava a turma reunida. Toshiro diz que é pra eles ficarem ali, porque é o lugar mais seguro da Academia. O gordinho azul diz que ele pode sair a hora que quiser e não tá nem aí, até porque ficou assustado ao saber que tem Yamabushi na área. Só que Toshiro joga um feitiço nele e o paralisa. Toshiro some nas sombras dizendo que voltaria para resgatá-los.

A desgraça comendo solta em Minamo, mas não era só lá. A esse ponto, já era possível divisar as 3 cabeças de O-Kagachi e Takeno já havia começado a tomar algumas medidas para garantir que nem todo mundo morresse com o ataque do dragão-espírito.

Ele pegou todos os guerreiros que tinha e preparou a cidade para o combate final, havia samurais, guerreiros montados em mariposas, magos (ainda que em menor quantidade) e um grupo de samurais designados para escoltar a população refugiada pelo portão norte da fortaleza (considerado o único portão seguro para fugir -- também foi por esse portão que Takeno libertou Isamaru para fugir e não morrer na cidade).

Nesse momento o samurai general Takeno percebe a desgraça. Não tem como lutar contra O-Kagachi, Konda estava louco! Não tem como derrotar aquele monstro. Mesmo que Yosei ainda estivesse ali protegendo, Takeno estava certo que não teria como derrotar o monstro. Ele era gigantesco. O livro diz que apenas uma de suas cabeças já era do tamanho da fortaleza do Konda em Eiganjo. Takeno em determinado momento achava que, se quisesse, O-Kagachi poderia simplesmente devorar tudo de uma vez só.

E nessa hora eu sinto raiva e pena do Takeno. Essa lealdade cega dele ao Konda transformou-o num instrumento de maldade. Konda oprimia o povo, lançava guerreiros à morte, subjugava espíritos pacíficos, tinha delírios de poder e glória. E tudo isso era tornado possível com a ajuda do próprio Takeno. Nessa hora ele tem um vislumbre disso. Por causa dessa cegueira, os últimos samurai do império de Konda estavam prestes a morrer com a chegada de O-Kagachi.

Da sacada da fortaleza, Takeno assistia a aproximação do dragão-espírito, empunhando seu arco e flecha para dar as ordens de ataques aos diferentes batalhões. Mas o primeiro a lutar contra o dragão quando ele chegou foi Yosei. Sinto dizer que ainda que o dragão branco tenha conseguido causar algum dano em O-Kagachi, ele foi literalmente torado ao meio. O grande dragão-espírito (que nesse ponto já tinha 4 cabeças) comeu a cauda e uma boa parte de Yosei, que fugiu pelas nuvens, sangrando éter.

Takeno viu tudo aquilo e só teve mais certeza da destruição iminente. O-Kagachi começou a atacar Eiganjo, destruindo as paredes externas. Takeno deu o comando de ataque. Todos morreram. As cavalarias, os feitiços dos magos, os ataques dos guerreiros alados, nada sequer afetou a trajetória de O-Kagachi. Na descrição do autor, eram como "formigas atacando um urso". Takeno se retira da sacada e vai para o santuário onde Konda está, para proteger o Daymio.

Enquanto isso, o grupo de sobreviventes que saiu pelo portão norte era tudo o que restava do império de Konda e as planícies de Towabara pareciam ser a única solução. O grupo de samurais enviou alguns guerreiros à frente para garantir que o caminho estava livre. Pois é, não estava.

Para a surpresa de todos os samurais, ali estava um grupo de goblins Akki, preparando-se para um assalto, liderados por ninguém mais ninguém menos que os irmãos Yamabushi, o braço direito do bandido Godo. A batalha foi feroz e os guerreiros samurai basicamente foram derrotados. Havia alguma bênção sobre os goblins, provavelmente de seu Myojin, que os fazia proliferar-se e alguma magia trazia vários deles de uma vez só.

O pequeno grupo de samurais não estava preparado para aquele tipo de batalha. Só o que salvou eles foi Yosei, que apareceu no último segundo, só o pedaço voando. A última notícia que temos dele é que ele estava todo acabado, sangrando ainda, e se encaminhando para a origem do ataque dos goblins, sendo acompanhado pelos guerreiros samurai.

Em Eiganjo a desgraça estava completa. O-Kagachi eliminou todo mundo e começou a atacar a fortaleza do Konda. Lá dentro do santuário dele, Takeno fazia guarda, olhando para o daymio desvairado. Takeno mais uma vez se decepciona com o mestre, mas mantém seu juramento de protegê-lo até a morte. E ele colocaria isso em prova em pouco tempo. Com os ataques de O-Kagachi, a própria fundação da torre estava ficando em cheque. Em determinado momento uma explosão envia um bloco de pedra bem na direção de Konda. Num último sacrifício, Takeno joga-se na frente do mestre e salva sua vida.

É só com a morte do velho amigo que Konda, ainda relutante, tira os olhos do seu artefato precioso, ele olha ao redor e vê a destruição. Ele caminha para perto de Takeno, vê-o morto e então ouve uma voz zombeteira: "Ah! Então quer dizer que esse é o tal O Que Foi Tomado?". Konda, catatônico, olha pra trás e vê um jovem apoiado no pedestal de seu precioso artefato: era Toshiro Umezawa.

Konda surta. Só a ideia de ter alguém próximo de seu artefato o deixa mais insano ainda. Ele pega a espada de Takeno e vai pra cima de Toshiro. Mas o jovem consegue desviar fácil das investidas. Ele recua das investidas de Konda, até que em determinado momento parece que Konda conseguiu pegar ele, mas no último segundo Toshiro usa a bênção da Myojin pra ficar fantasma.

Isso era uma armadilha de Toshiro. Ele estava atraindo Konda para fora do santuário, numa posição em que O-Kagachi, que já estava atacando a fortaleza, conseguisse ver Konda. Deu certo. O dragão-espírito rugiu ferozmente e foi na direção de Konda, que, por sua vez, louco como estava, ainda chamou pro fight, dizendo que dava conta.

Nesse ínterim, Toshiro pega O Que Foi Tomado e usa seu teleporte das sombras para fugir. Konda dá um urro de raiva, acompanhado por O-Kagachi. Konda sai correndo para fora da fortaleza, enquanto o grande dragão dá meia volta e voa novamente, em busca do seu artefato precioso. Konda então olha ao redor e vê a destruição total. Eiganjo acabada, apenas alguns soldados de pé, tentando se recompor. E aí sua surpresa: uma forma fantasmagórica de Takeno aparece ao seu lado, todo distorcido, empunhando sua espada perguntando; "Quais são suas ordens, daymio?".

Konda olha para aquilo intrigado e vê a cena se repetindo por toda a extensão de Eiganjo. Os soldados levantam-se, todos deformados, mas empunhando armas fantasmagóricas também e repetindo frases de lealdade ao ditador, que, com um sorriso cruel, afirma que irá retomar O Que Foi Tomado. (Imagem meramente ilustrativa, não estava exatamente presente no livro).

Como já falei, os kami nunca deveriam ter vindo ao mundo físico da forma como vieram e o mesmo vale para O-Kagachi, ainda mais ele, de quem o mundo espiritual faz parte e o mundo físico é reflexo. Quando o dragão-espírito matou os soldados do Konda, o espírito deles também foi dilacerado e eles não puderam entrar no mundo espiritual, ficando atrelados ao mundo físico mas sem forma corpórea, ligados ao seu antigo líder, Konda.

Vimos que Toshiro pegou o artefato e fugiu com ele pelo Shadow Gate, mas no meio de sua viagem ele ouve novamente a voz da Myojin do Alcance Noturno chamando ele pro seu Honden. Lá ela diz que estava vendo o que ele fez. Toshiro, irreverente, diz que se ela quiser o artefato é só falar de uma vez que ele dá sem problemas, o que não quer é estar com ele de boas e depois ela pedir.

A Myojin responde que não tem interesse nenhum em O Que Foi Tomado, porque onde esse artefato estiver, também estará O-Kagachi. Inclusive, foi por isso que ela chamou ele ao Honden: ele estava proibido de usar o Shadow Gate para transportar o artefato, nunca mais deveria tentar usar o teleporte das sombras enquanto tivesse aquilo em mãos. Toshiro diz que sem problemas.

A intenção de Toshiro nunca foi ficar com o artefato, porque ele tinha o mesmo pensamento da Myojin: ele não quer atrair O-Kagachi. Então ele se despede da Myojin e corre para fazer o que havia planejado. Ele volta para Minamo. Hidetsugu ainda não tinha terminado de destruir e não tinha ainda alcançado a sala onde estavam as kitsune e Michiko, além do gordinho azul, ainda congelado.

Ele pega O Que Foi Tomado, joga no chão do lado do azulzinho e diz que vai levar todo mundo para algum lugar seguro. Michiko faz menção de pegar o artefato mas é impedida, ela sabia que aquilo era o artefato do pai e queria entender a sua relação com ele, mas precisava fugir. Também, Toshiro não sabe até que ponto o gordinho azul está congelado mesmo ou só disfarçando, mas também não se importa e leva todo mundo para um lugar seguro.

Por fim, a cena final nos mostra Toshiro de volta em sua caverna, no pântano de Takenuma, onde uma última revelação ocorre. Lá, ele recebe uma visita da Myojin do Alcance Noturno, que requer dele mais uma demonstração de lealdade: ao lado de uma fogueira, Toshiro executa um ritual que remove da sua mão a marca dos Hyozan. Ele não é mais companheiro de pacto com Hidetsugu, Kiku ou Marrow-Gnawer.

Pra finalizar, a Myojin dá a ele uma visão do futuro, que é o spoiler do terceiro livro: ele aparece lutando contra os ex-companheiros de pacto; Godo é visto nas montanhas, seus soldados congelados; e, as duas principais revelações.

O-Kagachi é visto lutando contra o Oni All-Consuming Chaos, o mesmo invocador por Hidetsugu. Achei que faria mais sentido mesmo que a batalha final não fosse contra Konda, mas sim contra outro ser espiritual que, aparentemente, é o antagonista do O-Kagachi (kami) no mundo espiritual.

A outra importante revelação é que ele vê Michiko segurando O Que Foi Tomado, empunhando-o com lágrimas nos olhos. A meu ver, isso aponta para a relação que Michiko tem com o artefato e, deduzo eu, no terceiro livro ela vai pegar o artefato e se sacrificar, devolvendo O Que Foi Tomado a O-Kagachi e colocando um fim à Guerra dos Kami (sem alguém souber não me fale!).


Pois é gente, essa aí foi a história do livro. Eu confesso que achei muito bacana, eu nem vi as folhas passarem, quando menos esperava já estava pra terminar. A leitura é fluida, tem alguns vocábulos japoneses no meio que tive que googlar e uma ou outra palavra em inglês que não conhecia. Mas a linguagem é bem acessível e o encadeamento muito bom, sempre tinha alguma coisa acontecendo.

Porém, neste meu projeto de escritor ao acaso, tenho algumas críticas literárias sobre o livro. A primeira delas talvez nem seja tão relevante, mas tem personagens que não fazem diferença nenhuma, nem mesmo como complementação. Pelo que entendi, algumas dessas eram personagens no primeiro livro e apareceram no segundo por uma questão de continuidade, mas talvez tenha-se dado caracteres demais para eles quando se podia focar em outras coisas.

Sempre tem algo acontecendo, mas nada é muito denso. Já li outro livro de MTG sobre Mirrodin e nele acontecia muita coisa, bem mais do que nesse. Mas pensando bem o livro não peca por isso, apensa sofreu um pouco por causa da minha expectativa de comparação. As duas próximas críticas é que são mais sérias e acho que elas são relevantes.

A primeira foi a morte de Takeno: não tinha como ser mais clichê? Se jogar na frente do mestre e morrer? E porque o medo do autor em explorar mais a dúvida no coração de Takeno? Porque fazer ele voltar à lealdade cega no último segundo? Impulso por causa da vida de servidão? Talvez. Mas isso também é minha expectativa com Takeno, que tinha tudo para ser um grande personagem, mas viveu à sombra do infeliz do Konda, a quem tanto se dava importância, e quem menos a merecia.

O último problema que vejo é um pouco grave, porque afeta toda a trama da história, do começo ao fim: perceberam que tudo que o Toshiro quer fazer, ele consegue? Roubar Uramon? Conseguiu. Desviar da Yuki-Onna? Deu certo. Prender a Yuki-Onna com auxílio dos outros? Bem-sucedido. Voltar pra Uramon e consegui acesso ao Shadow Gate? Tá na mão.

Tudo que ele faz dá certo, ele não tem empecilhos. Ele é cauteloso e tal, mas nunca faz uso de um plano B. E dar a ele o Shadow Gate de forma embutida é um truque literário desleal: o personagem simplesmente tem poder demais e faz tudo o que quiser, não tem dificuldades reais. O autor talvez não tenha percebido essa armadilha, porque até mesmo em O-Kagachi colocou algumas restrições sábias, mas não em Toshiro.

Cara, Toshiro foi até a cidade dos moonfolk sem ser visto! Ele entrou na fortaleza do Konda, protegida por mil feitiços só com o teleporte. Depois ele entra na Academia Minamo com o teleporte de boas também, mesmo ela sendo protegida por trocentos feitiços. Tudo bem que isso era a bênção da Myojin, mas outros personagens têm seus Myojins também (até os goblins!), tinha que ter balanceado melhor o cara. E esse é o problema sério: Toshiro consegue fazer tudo que quer, seus planos sempre dão certo e o personagem perde verossimilhança, mesmo para uma obra de ficção fantástica.

Ele não tem oponente real em nenhum momento do livro: no começo parecia ser Uramon e Kiku, mas ele facilmente os engana; Hidetsugu que era perigoso, perto de Toshiro era uma beleza, conversava e tudo, dava pra negociar de boas; depois ele entra em atrito com o Kami azul gordinho, mas sequer sofre ameaça do kami da lua crescente e consegue até mesmo enganar o enganador com um feitiço que o deixa congelado, bem na hora do ataque do Hidetsugu! Que conveniente! A mana de Toshiro nunca acaba, ele nunca tem fome, ele nunca tem sono, ele nunca é pego de surpresa completamente, seu jitte nunca cai, ele nunca encontra um oponente que consiga bater de frente com ele, e, mesmo usando feitiços que precisam desenhar símbolos, ele sempre consegue.

Infelizmente do ponto de vista literário isso enfraquece a obra. Talvez porque o livro esteja apoiado por todo o universo de Kamigawa presente nos card games e o próprio contexto de MTG, o escritor tenha achado que podia escrever como bem entendesse o personagem, para fazer a história encontrar a expectativa do leitor informado, que é: ver seus personagens favoritos ganharem vida numa história. Porém fora desse contexto, o livro peca gravemente em falta de verossimilhança do personagem principal e deslealdade literária ao criá-lo incontestável. Uma tentativa de fugir à "Jornada do Herói"? Quem sabe. Não obstante, faltou essa profundidade.

Mesmo depois dessa crítica, eu reitero: vale a pena ler o livro! Já faz muito anos desde que eu li um livro de literatura fantástica tão bom, daqueles que dá gosto mesmo, que te deixa pensando e imaginando, curioso pra saber o que vai acontecer, desenhando cada acontecimento na imaginação.

É justamente para isso que serve a ficção. E esse livro cumpriu seu papel.

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