sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Resenha — A wizard of Earthsea

LE GUIN, Ursula K. A Wizard of Earthsea. New York: Bantam Books, 2004.


Esse não comprei. Meu amigo Brennan McPherson teve a bondade de me emprestar esse livro porque eu tinha acabado de terminar The catcher in the rye e não tinha nada para ler na viagem de volta. É o primeiro livro emprestado que pego em muitos anos. 

É uma história que chamaríamos de "alta fantasia". Eu não gosto muito desses termos, uso este aqui só para fins didáticos e porque me dá menos trabalho pra explicar. É um mundo onde a magia é comum, num período pré-industrial, onde magos, feiticeiros e bruxas fazem parte da dinâmica. 

Aqui acompanhamos a vida de Sparrowhawk, ou Ged (que é seu Nome Verdadeiro), na sua jornada a´te se tornar um mago. Começa como um pobre menino de um vilarejo, passa pelo ensino do seu primeiro mestre, depois abandona o primeiro mestre e decide ir para a Escola de Magia, onde seu orgulho e arrogância provam-se seus piores inimigos. O resto do livro inteiro é Ged lidando com os problemas que ele mesmo criou por causa dessa falha de caráter.

Neste ponto, a história é extremamente profunda. É uma história sobre as consequências dos nossos atos impensados, como um único deslize é capaz de mudar o curso da nossa vida inteira e nem damos atenção a isso, não raro pensando que algo assim jamais aconteceria conosco.
But need alone is not enough to set power free: there must be knowledge. (p. 9)
A história de fato tem muitos elementos que tornam o livro como um clássico do gênero. Porém, devo dizer que não foi um livro que transformou minha vida, achei-o, quando muito, "ok".

Acontece que o estilo como a história é contada foi muito cansativo pra mim. Vejo que a autora usa abordagem que muitas vezes se aproxima do mito ou do épico (tal como Tolkien faz em O Silmarillion). 

Meu problema com essa abordagem é que a leitura fica muito complicada, truncada, o ritmo não é agradável. Aliás, Várias vezes tive que voltar a frase ou o parágrafo do começo pra entender o que de fato estava sendo dito. 

Somado a isso senti falta de diálogos, ou cenas. Às vezes (digo, muitas vezes) é só narração atrás de narração. Embora os fatos narrados sejam de fato interessantes, esse "mais do mesmo" cansa. Eu não quero só que me contem uma história, eu leio livro para que me mostrem uma história. Eu não quero saber de fatos, eu quero viver as vidas dos personagens que estão no livro. E, para mim, A wizard of Earthsea peca nisso.

No fim, permaneço assim. Achei o livro bonzinho, devolverei-o com votos de agradecimento, mas sempre na consciência de que ele não ficará na minha estante. 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Resenha — The catcher in the rye

SALINGER, J. D. The catcher in the rye. Boston: Little Brown and Company, 1991.


Livro que adquiri ano passado por míseros 2 dólares. Honestamente, esse é o tipo de investimento que gosto de fazer. Uma besteirinha por algo tão grande. É até difícil explicar por que eu gostei de Catcher in the rye (O apanhador no campo de centeio, em português). Mas vamos ver o que eu consigo falar aqui.

Vamos começar falando logo do que me causou um efeito "tapa na cara" já na primeira página do livro: o estilo da narração.

Se vocês acham que meu estilo é casual ou coloquial, vocês não viram nada. Sou um iniciante, amador, uma criança perto do estilo despojado de Salinger. Tá certo que a narração é em primeira pessoa, o que justifica bastante, mas, ainda assim. O uso de maneirismos e a constante repetição de palavras, fazem a gente sentir como se o narrador-personagem estivesse conversando com a gente no muro de casa.
Girls. Jesus Christ. They can drive you crazy. They really can. (p. 73)
Além do estilo em si, vi o uso de alguns efeitos de escrita sensacionais, como o uso brilhante do itálico como nunca tinha visto antes. 

Usamos o itálico para enfatizar uma palavra de maneira discreta, mas dando peso a ela na narração: "Ela disse isso" é diferente de "Ela disse isso". O que Salinger fez aqui foi usar o itálico não na palavra, mas na sílaba que ele quer enfatizar. Em vez de dizer "anything", ele diz "anything", desse jeito mesmo, com metade da palavra sem itálico. É louco e brilhante, porque traduz exatamente como o narrador pronuncia a palavra.   

Agora, quanto à história em si, é interessante dizer que, conforme eu estava lendo, me dei conta que não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. Na verdade, a impressão que tive é que não estava acontecendo nada. Só no capítulo 5 e 6 é que parece haver alguns eventos que desdobram a trama. O estranho é que eu já havia sido fisgado antes disso. O que foi que me prendeu?

Chego no final e entendo melhor o que está me prendendo. É que Salinger é um tipo de Dostoiévski norteamericano. Ele fala, em suma, de um personagem doente, instável que ironicamente está enojado pela natureza humana. Um personagem problemático que, ao mesmo tempo, parece muito consciente de si mesmo e cego.

Este é o grande tema do livro, penso eu. Nós acompanhamos Holden Caulfield, um adolescente de 17 anos que foi expulso da escola. Holden, de uma família abastada, não quer voltar pra casa, então acompanhamos ele num fim de semana em Nova York dos anos 1940, com direito a bebidas, cigarro e prostituição. Tudo de pior que aquele mundo tinha para oferecer. 

Essa desilusão com a condição humana é algo que passa pela narrativa perturbada de Holden o tempo todo. E vemos o constante embate das duras realidades que ele aponta com as ironias do seu próprio comportamento e forma de pensar.
The best thing, though, in that museum was that everything always stayed right where it was. Nobody'd move [...]. Nobody'd be different. The only thing that would be different would be you. (p. 121)
Consigo ver como esse livro pode ser bem desagradável para algumas pessoas, especialmente aquelas que não curtam um estilo mais despojado de narração. O narrador constantemente faz digressões, mas nelas traz outros temas à tona que depois passa a aplicar na situação em que se encontra. 

Honestamente, o livro permanecerá na minha estante não só porque é bom e eu gostei, mas também porque consigo sentir que há ainda mais camadas, mais significados que Salinger colocou ali e eu talvez não tenha conseguido captar. 

Em suma, que livro sensacional.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Resenha — Bag of bones

KING, Stephen. Bag of bones. New York: Scribner, 1998.


E começamos 2024. 
Bag of bones ("Saco de ossos" em Português) é uma obra de Stephen King. Pronto, só de falar o autor já dei pistas o suficiente. Nela acompanhamos a história do escritor Michael Noonan, que logo no começo do livro perde sua esposa Jo, e acaba se mudando pra sua casa de campo, tentando entender a causa dos seus pesadelos constantes e mistérios envolvendo sua esposa.

Sobre a narrativa do livro, tenho duas observações, uma boa e uma ruim. A boa é que Stephen King não é um grande escritor à toa, ele realmente sabe o que está fazendo. A história é bem narrada porque consegue engajar a gente na leitura e ficamos sempre querendo continuar, querendo saber o que vem depois.

Por outro lado, não gosto de quanto King demora entre uma fala e outra. Várias vezes dá vontade de pular e só seguir com o diálogo. É como assitir um filme com alguém comentando cada cena que acontece, fica um saco. Isso sem falar das várias referências que ele faz; são tantas que me pergunto se 20 anos depois (considerando que a obra foi escrita em 1998) elas mais ajudam ou atrapalham a leitura.
Not every thirst should be slaked. Some things are just wrong [...] (p. 340)
Stephen King é conhecido por ser um escritor do gênero terror e, de fato, no começo do livro tem alguns elementos que dão medo. Os pesadelos do personagem principal, fatos estranhos que acontecem ao redor dele, menções a coisas que parecem não fazer sentido mas que prendem nossa atenção... Porém, isso infelizmente logo passa.

Na metade do livro parei de me assustar, porque o herói parou de se assustar também. Se ninguém corre perigo, não há necessidade de ter medo. Como o personagem simplesmente se acostumou com as "manifestações" que ocorrem na sua casa de campo, não dá nem nervoso, fica quase chato. Ou seja, é um livro de terror... que não dá medo.

E confesso que me irritei em alguns momentos com problemas de verossimilhança. Vou citar só dois. O primeiro é que acho meio absurdo como King traz alguns fatos aterrorizantes (o cara acordar e ver no gravador que ficou ligado a noite que uma mulher falou o nome dele — sendo que ele tava sozinho numa casa) e depois simplesmente ignora. Ah aconteceu isso foi? Então, aí no dia seguinte ele foi passear à beira do lago ......ôsh?!

Além disso, tem coisa que só acontece em livro mesmo. Olha só. A mulher do cara morre. Ele começa a ter pesadelos com a casa de campo deles. Em um desses pesadelos ele sonha que tem um corte na mão, quando acorda o corte está lá. Ele sonha que tem três girassois bem na frente da casa, aí quando mostram uma foto dele, lá estão três girassois aleatórios. Ou seja, vários sinais de coisa ruim. 

Aí o que ele decide fazer? "Sabe de uma coisa, vou lá pra minha casa de campo!". AFF! É igualzinho aqueles filmes de terror que claramente tem alguma coisa assustadora e perigosa do lado de fora e o personagem sai com uma lanterninha dizendo "Tem alguém aí?". Faça-me o favor. Nessas horas eu fico é torcendo pro personagem morrer, pra largar de ser burro.
[...] any good marriage is a secret territory, a necessary white space on society's map. (p. 90)
Apesar dessa ruptura (livro de terror que não dá medo), a história tem um elemento redentor que pra mim a torna muito relevante: família

O livro conta a história de um homem que perdeu sua família, que procura uma nova família, que faz de tudo para salvar sua família. É por isso que — vejam só — em determinado momento minha esposa me pegou chorando ao ler o livro. Pois é, me emocionei lendo um livro de terror. 

Apesar de todos os poréns, há beleza na história. King realmente sabe nos cativar e ele faz isso de dois ângulos: curiosidade e esperança. Nós ficamos curiosos: "O que será que tem na casa?", "Quem será que fez/falou aquilo?", "Por que personagem X está se comportando assim?". E também esperançosos: "Espero que ele consiga falar com ela", "Olha como ele está feliz, espero que ele consiga alcançar esse objetivo." 

Em suma, como já disse, King não é um grande autor à toa. Ele sabe o que está fazendo. Embora Bag of bones não seja pra mim o suprassumo da sua literatura, ainda é um livro que me divertiu e até fez eu me emocionar. Por enquanto, permanece na minha estante. Curti.