quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Resenha — The catcher in the rye

SALINGER, J. D. The catcher in the rye. Boston: Little Brown and Company, 1991.


Livro que adquiri ano passado por míseros 2 dólares. Honestamente, esse é o tipo de investimento que gosto de fazer. Uma besteirinha por algo tão grande. É até difícil explicar por que eu gostei de Catcher in the rye (O apanhador no campo de centeio, em português). Mas vamos ver o que eu consigo falar aqui.

Vamos começar falando logo do que me causou um efeito "tapa na cara" já na primeira página do livro: o estilo da narração.

Se vocês acham que meu estilo é casual ou coloquial, vocês não viram nada. Sou um iniciante, amador, uma criança perto do estilo despojado de Salinger. Tá certo que a narração é em primeira pessoa, o que justifica bastante, mas, ainda assim. O uso de maneirismos e a constante repetição de palavras, fazem a gente sentir como se o narrador-personagem estivesse conversando com a gente no muro de casa.
Girls. Jesus Christ. They can drive you crazy. They really can. (p. 73)
Além do estilo em si, vi o uso de alguns efeitos de escrita sensacionais, como o uso brilhante do itálico como nunca tinha visto antes. 

Usamos o itálico para enfatizar uma palavra de maneira discreta, mas dando peso a ela na narração: "Ela disse isso" é diferente de "Ela disse isso". O que Salinger fez aqui foi usar o itálico não na palavra, mas na sílaba que ele quer enfatizar. Em vez de dizer "anything", ele diz "anything", desse jeito mesmo, com metade da palavra sem itálico. É louco e brilhante, porque traduz exatamente como o narrador pronuncia a palavra.   

Agora, quanto à história em si, é interessante dizer que, conforme eu estava lendo, me dei conta que não tinha a menor ideia do que estava acontecendo. Na verdade, a impressão que tive é que não estava acontecendo nada. Só no capítulo 5 e 6 é que parece haver alguns eventos que desdobram a trama. O estranho é que eu já havia sido fisgado antes disso. O que foi que me prendeu?

Chego no final e entendo melhor o que está me prendendo. É que Salinger é um tipo de Dostoiévski norteamericano. Ele fala, em suma, de um personagem doente, instável que ironicamente está enojado pela natureza humana. Um personagem problemático que, ao mesmo tempo, parece muito consciente de si mesmo e cego.

Este é o grande tema do livro, penso eu. Nós acompanhamos Holden Caulfield, um adolescente de 17 anos que foi expulso da escola. Holden, de uma família abastada, não quer voltar pra casa, então acompanhamos ele num fim de semana em Nova York dos anos 1940, com direito a bebidas, cigarro e prostituição. Tudo de pior que aquele mundo tinha para oferecer. 

Essa desilusão com a condição humana é algo que passa pela narrativa perturbada de Holden o tempo todo. E vemos o constante embate das duras realidades que ele aponta com as ironias do seu próprio comportamento e forma de pensar.
The best thing, though, in that museum was that everything always stayed right where it was. Nobody'd move [...]. Nobody'd be different. The only thing that would be different would be you. (p. 121)
Consigo ver como esse livro pode ser bem desagradável para algumas pessoas, especialmente aquelas que não curtam um estilo mais despojado de narração. O narrador constantemente faz digressões, mas nelas traz outros temas à tona que depois passa a aplicar na situação em que se encontra. 

Honestamente, o livro permanecerá na minha estante não só porque é bom e eu gostei, mas também porque consigo sentir que há ainda mais camadas, mais significados que Salinger colocou ali e eu talvez não tenha conseguido captar. 

Em suma, que livro sensacional.

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