segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Resenha — I, Robot

ASIMOV, Isaac. I, Robot. New York: Bantam Books, 1991.


Esse é da categoria de livros que eu encontrei por aí a um valor tão acessível que não tive escolha se não levar, ainda mais sendo Asimov. O mestre da ficção científica não tem esse título à toa e eu já sabia que seria bom. O lance é que (desculpem-me a ignorância) eu achei que o livro era igual o filme. Então foi uma quebra de expectativa ver que não é nadinha igual. 

Enquanto no filme acompanhamos Will Smith como um detetive que investiga um robô, no livro nós temos um repórter entrevistando a Drª. Susan Calvin, autoridade mundial em robopsicologia. Ela está no fim da carreira e o repórter está fazendo um documentário sobre sua vida. Isso serve como pano de fundo para ela contar histórias da robótica.

O livro então funciona como uma série de contos, conectados pela experiência da Drª. Calvin. O autor usa isso pra contar a história da robótica naquele mundo, começando com robôs bem mecânicos que executavam apenas funções simples, até terminar nas Máquinas, capazes de direcionar a história da humanidade.

O ponto chave de todas as histórias são as leis da robótica:
1. Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2. Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que entrem em conflito com a Primeira Lei.
3. Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.
Em certa medida, todos os contos exploram essas leis e os limites ético-racionais delas na atividade dos robôs e dos seus relacionamentos com seres humanos. O autor propõe não somente histórias interessantes, mas reflexões bem profundas sobre os limites da própria robótica. Interessante notar que ele não soa fatalista quanto ao tema, ressaltando bem a necessidade do ser humano:
These reactionaries of the Society claim the Machine robs man of his soul. I notice that capable men are still at a premium in our society; we still need the man who is intelligent enough to think of the proper questions to ask. (p. 265)
Das histórias, fiquei bem impressionado com uma em que o robô desenvolve uma personalidade quase religiosa, enquanto dois homens estão presos com ele numa estação em Marte. Também achei  interessantes as aplicações da história onde, por acidente, um robô é construído com capacidade de ler pensamentos.

No fim, se pensarmos no contexto em que o livro foi escrito, há 70 anos passados, Asimov se mostra absolutamente revolucionário e até hoje suas histórias tem ecos interessantes, mesmo para uma sociedade já informatizada como a nossa.

Certamente o famoso "Eu, Robô" não é um livro que vai mudar minha vida, mas com certeza faz pensar. Não vejo motivo para me desfazer dele. Quem sabe o que eu ainda vou aprender com Asimov daqui a uns 20 anos, quando o futuro for tão diferente?