terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Resenha — Bag of bones

KING, Stephen. Bag of bones. New York: Scribner, 1998.


E começamos 2024. 
Bag of bones ("Saco de ossos" em Português) é uma obra de Stephen King. Pronto, só de falar o autor já dei pistas o suficiente. Nela acompanhamos a história do escritor Michael Noonan, que logo no começo do livro perde sua esposa Jo, e acaba se mudando pra sua casa de campo, tentando entender a causa dos seus pesadelos constantes e mistérios envolvendo sua esposa.

Sobre a narrativa do livro, tenho duas observações, uma boa e uma ruim. A boa é que Stephen King não é um grande escritor à toa, ele realmente sabe o que está fazendo. A história é bem narrada porque consegue engajar a gente na leitura e ficamos sempre querendo continuar, querendo saber o que vem depois.

Por outro lado, não gosto de quanto King demora entre uma fala e outra. Várias vezes dá vontade de pular e só seguir com o diálogo. É como assitir um filme com alguém comentando cada cena que acontece, fica um saco. Isso sem falar das várias referências que ele faz; são tantas que me pergunto se 20 anos depois (considerando que a obra foi escrita em 1998) elas mais ajudam ou atrapalham a leitura.
Not every thirst should be slaked. Some things are just wrong [...] (p. 340)
Stephen King é conhecido por ser um escritor do gênero terror e, de fato, no começo do livro tem alguns elementos que dão medo. Os pesadelos do personagem principal, fatos estranhos que acontecem ao redor dele, menções a coisas que parecem não fazer sentido mas que prendem nossa atenção... Porém, isso infelizmente logo passa.

Na metade do livro parei de me assustar, porque o herói parou de se assustar também. Se ninguém corre perigo, não há necessidade de ter medo. Como o personagem simplesmente se acostumou com as "manifestações" que ocorrem na sua casa de campo, não dá nem nervoso, fica quase chato. Ou seja, é um livro de terror... que não dá medo.

E confesso que me irritei em alguns momentos com problemas de verossimilhança. Vou citar só dois. O primeiro é que acho meio absurdo como King traz alguns fatos aterrorizantes (o cara acordar e ver no gravador que ficou ligado a noite que uma mulher falou o nome dele — sendo que ele tava sozinho numa casa) e depois simplesmente ignora. Ah aconteceu isso foi? Então, aí no dia seguinte ele foi passear à beira do lago ......ôsh?!

Além disso, tem coisa que só acontece em livro mesmo. Olha só. A mulher do cara morre. Ele começa a ter pesadelos com a casa de campo deles. Em um desses pesadelos ele sonha que tem um corte na mão, quando acorda o corte está lá. Ele sonha que tem três girassois bem na frente da casa, aí quando mostram uma foto dele, lá estão três girassois aleatórios. Ou seja, vários sinais de coisa ruim. 

Aí o que ele decide fazer? "Sabe de uma coisa, vou lá pra minha casa de campo!". AFF! É igualzinho aqueles filmes de terror que claramente tem alguma coisa assustadora e perigosa do lado de fora e o personagem sai com uma lanterninha dizendo "Tem alguém aí?". Faça-me o favor. Nessas horas eu fico é torcendo pro personagem morrer, pra largar de ser burro.
[...] any good marriage is a secret territory, a necessary white space on society's map. (p. 90)
Apesar dessa ruptura (livro de terror que não dá medo), a história tem um elemento redentor que pra mim a torna muito relevante: família

O livro conta a história de um homem que perdeu sua família, que procura uma nova família, que faz de tudo para salvar sua família. É por isso que — vejam só — em determinado momento minha esposa me pegou chorando ao ler o livro. Pois é, me emocionei lendo um livro de terror. 

Apesar de todos os poréns, há beleza na história. King realmente sabe nos cativar e ele faz isso de dois ângulos: curiosidade e esperança. Nós ficamos curiosos: "O que será que tem na casa?", "Quem será que fez/falou aquilo?", "Por que personagem X está se comportando assim?". E também esperançosos: "Espero que ele consiga falar com ela", "Olha como ele está feliz, espero que ele consiga alcançar esse objetivo." 

Em suma, como já disse, King não é um grande autor à toa. Ele sabe o que está fazendo. Embora Bag of bones não seja pra mim o suprassumo da sua literatura, ainda é um livro que me divertiu e até fez eu me emocionar. Por enquanto, permanece na minha estante. Curti.

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