Atroz competição;
Do egoísmo a epítome,
Do interesse desmedido,
A última lesão.
Corre, se deita e se abaixa!
Não olha pra cima
Abraça e olha pra sua amada:
A hora final se aproxima.
Da janela vejo minha cidade
Nos escombros reconheço
Meu pai, minha mãe,
Toda minha verdade.
No refúgio busco reconstruir
A custos altos o que perdi.
Os olhos vorazes me perseguem
Não são mais meus inimigos
São os habitantes do lugar...
Tenho medo que me carreguem.
Minha casa está destruída e só essa vida me resta
Busco um abrigo, que não essa existência funesta.
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Victoria, minha filha, tem fome
Pego o pacote de biscoitos
Só tem dois
Dou metade de um pra ela
Como as migalhas.
Hoje faz muito sol
Nossa água está quente.
Vejo um posto policial,
Mais à frente.
Nele me tomam o pouco dinheiro que tenho
Só me resta continuar andando.
Victoria está cansada, pego-a no colo.
Sigo caminhando.
Foram cinco dias nesta batalha
Minha filha hoje tomou uma sopa
E eu estou contente
Mas tem essa dor latente...
Consegui uma matrícula pra minha filha
Ela disse que consegue contar minhas costelas
Eu finjo que acho graça.
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Quando o furacão chegou
Todos correram, todos caíram
Tinha um navio, de um amigo
Me carregou.
Minha irmã morreu na viagem
Cheguei numa terra estranha
Todos me olhavam e não me viam.
Uma miragem.
Consegui um emprego
Vendo gelado no palito
Aí levaram todo meu dinheiro
Porque tanto mal comigo?
Aqui faz sol, mas já estou acostumado
Alguns dias até vendo uns bocados
E me resta essa existência.
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“Extra! Extra!
Tomaram-lhe a vida!
Extra! Extra!
Quem foi?
Só pode ser…
Foi por causa da bomba
Que ceifou sua família.”
“Últimas novas do dia:
A primeira delas morre no nosso hospital
Sua filha chorava alto, incomodava a todos!
Os médicos disseram que havia outros
Que já estava saindo do normal.”
“No noticiário de hoje
Anunciaram um assalto:
Foi um homem
Que falava engraçado.”
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E deslocados, seguem
Por falta de opção
A vida que lhes foi imposta.
Viver não é mais diversão
É buscar alento nos pequenos momentos
Sobrevivendo no locus destas idas.
Quem sabe não exista ainda quem os acolha?
Que entenda o sofrimento, essa falta de escolha?
E assim seria muito melhor
Ter um amparo, em tempos de mal a pior.
Poema publicado na 148ª edição da coluna Rede Literária, no blog Cultura de Roraima.
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