sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Resenha - Ilusões perdidas

BALZAC, Honoré de. Ilusões perdidas. São Paulo: Abril, 2010. (Clássicos Abril Coleções).


Vou começar confessando o meu pecado. Não li o livro até o fim. Não dei conta, tenho mais o que fazer. Não vou nem contar ele pra lista de livros lidos neste ano (embora tenha gastado um tempo razoável nessa joça). Bom, mas vamos tentar fazer uma análise por alto mesmo assim. 

A primeira coisa que salta aos olhos são os parágrafos muito extensos. Naturalmente estamos falando aqui de marcas de uma época. Sem o auxílio audiovisual, os leitores precisavam (e até gostavam) destas descrições longas que ajudavam a imergir no contexto. Aliás, não posso negar que, apesar de extensos, os parágrafos são bem concatenados.  
"A avareza começa onde cessa a pobreza." (p. 15)
Há algumas frases no livro que são interessantes de registrar. E vi algo interessante. Stephen King falou que pessoas gostam de ler histórias sobre trabalho. Ninguém sabe por quê, elas apenas gostam. E vejam o caso deste livro: fala da prensa francesa do século XIX. E o pior: é super interessante!

Agora passando para o cerne da questão, tenho várias coisas a comentar. Antes, porém, me pergunto se o livro tem o linguajar culto mesmo ou foram as escolhas da tradução que dificultaram. Tem várias palavras ali que são desnecessárias, visto que há outras que transparecem melhor o significado. Não me entendam mal, não defendo um "empobrecimento" da língua (se é que isso é possível!), mas uma aproximação com o leitor. Ojeriza-me a erudição em excesso. (viu?)

Não há divisão em capítulos, apenas "partes" (que totalizam as 800 e tantas páginas do livro). Isso me fez falta, tornou a leitura menos fluida. Some-se a isso os parágrafos gigantescos. Pff. Você tem que ser um nobre francês do século XIX pra ter tempo e ficar lendo sem fazer mais nada.

Volto novamente a falar das descrições longas. Ainda que típicas da época, são extremamente maçantes e não levam a narrativa pra frente. Aliás, não só descrições, mas divagações sobre fatos e personagens que não influenciam em nada na história estão presentes em vários momentos.

Fico cada vez mais convencido do que falou o professor brasileiro Charles Kiefer por ocasião do seu livro "Para ser escritor": 1) naquela época, um livro bom era necessariamente um livro grande; 2) para que o livro valesse a pena ser impresso, ele tinha que ter muitas páginas. Pra garantir isso, os escritores enchiam as páginas com mil e uma descrições, para aumentar o total no final. O famoso "encher linguiça".
"Os costumes da região haviam levantado barreiras morais tão difíceis de transpor quanto as ladeiras pelas quais descia Lucien." (p. 44)
Tentando voltar novamente ao enredo do livro, as barreiras desta citação acima estarão presentes nos amores proibidos e conflituosos de Lucien pelo livro. O grande tema, na verdade, é o contraste entre a vida provinciana (Angoulême) e a metropolitana (Paris); e as ilusões perdidas são a decadência do jovem Lucien pelo livro. 

Dividido em três partes, o livro é muito chato. E olha que eu gosto de clássicos, e olha que eu gosto de cotidiano. Existem algumas frases bonitas, algumas filosofias embutidas, e um bocado de revelações sobre a sociedade francesa da belle époque -- que, diga-se de passagem, não é nada que você já não tenha visto em filmes ou outros livros.

Olha, que o livro é bem denso, cheio de muitos temas e personagens até complexos, eu não nego. Eu compreendo que o livro é uma obra-prima da literatura, uma vez que inaugura um novo tipo de romance e até o consolida. Que há méritos, eu não desprezo e tampouco minimizo.

Mas, no fim do dia, eu não sou professor da área e, pra ser bem sincero, não creio que um dia serei um grande mestre desta arte. Será que é tão errado assim só querer fazer uma leitura despreocupada? Já passei do tempo em que lia coisas só pra ter o "status" de dizer: "Eu li Balzac". Por isso, talvez esta seja uma leitura para um dia em que eu tiver bem mais maturidade, tempo e paciência (e talvez falta do que fazer). 

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