terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Resenha - A história de L

CARVALHO, Nelson. A história de L. Brasília: Edição do autor, 2015.


Bom, vamos lá. Pra começo de conversa, o livro já inicia com uns 30 agradecimentos e dedicatórias. Achei demais. É livro ou TCC? Olhando pra trás, este deveria ter sido minha primeira indicação da qualidade literária do livro.

A capa é bem trabalhada, me chamou a atenção. Embora seja uma autopublicação, a gente vê que o trabalho teve qualidade. Está bem diagramado, o papel é de boa qualidade, em suma, tem bom acabamento.

O primeiro parágrafo do livro já me deixou com um pé atrás -- e, novamente, já deveria ter sido um indício claro do que viria pela frente. O que acontece é que, via de regra, quando estou lendo ficção, não gosto de ver isso misturado com poesia. E logo o primeiro parágrafo já foi um puro lirismo em prosa (o que está ligado com a formação de poeta do autor).

O livro tem o grave defeito do "muito show e pouco tell", e o pior é que isso não acontece de vez em quando. É durante todo o livro! Aliás, quer uma definição bem precisa do que é esse livro? É muito simples: Livro de tiozão. 

Não sabe contar história. Quer dizer, pelo contrário, parece que tá contando história num bar e não realmente escrevendo uma ficção. Não coloco em cheque as credenciais de poeta, mas o uso de onomatopeias daquelas bem cafonas e o excesso de advérbios de modo me fazem questionar a bagagem do autor como escritor. Tem algumas descrições do cotidiano que quase valem a pena aproximar da poesia, mas não demais. Gostei de algumas que foram comedidas.

Bom, de maneira geral, o livro conta a história da menina "L" e suas aventuras em São Paulo, logo após a mudança da família. Seu pai é porteiro num prédio e ela acompanha a mãe em diversas andanças. No prédio, há alguns personagens memoráveis, mas a sequência narrativa faz a gente se perder entre eles e, o pior, perde o timing da história. Mais tarde, ela também vai contar suas andanças por Brasília.

O livro parece um relato de viagem, de reminiscências e memórias que só trazem nostalgia na cabeça do próprio autor, que tenta socar no leitor (com vários adjetivos, por sinal) uma impressão qualitativa forçada. Trata-se, na verdade, da somatória de narrativas razoavelmente interessantes, na vã esperança de que o conjunto delas produza um todo coerente. Se calculasse as probabilidades, teria valido mais a pena jogar na loteria.

Os diálogos são ridículos, mal construídos e exageradamente infantis (mesmo que a personagem principal não seja adulta, basta ler Nárnia pra saber como um bom escritor faz). Novamente destaco o uso de onomatopeias de péssimo gosto, que em nada contribuem para a narrativa. E falando em construção de narrativas, meu Deus, quem faz uma página inteira só com um parágrafo?

Acho que o autor tentou fazer uma espécie de flashback, alternando entre as histórias em Brasília e São Paulo; mas, na verdade, só findou deixando tudo mais confuso. Diante desse pandemônio literário (porque em determinado momento, achei que o livro era de poesia, e não ficção), a tentativa de quebrar a quarta parede no final se tornou risível.

Em resumo, o livro é péssimo. Sigam o conselho de Stephen King e pelo amor de Deus não percam o tempo de vocês lendo essa porcaria. Aliás, se alguém quiser ler é só me falar. Estou doando o meu exemplar.

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