E aqui estamos nós de novo. Acabou-se o ano. É a época de rever o que fizemos e ficar triste em ver que não cumprimos quase nada das metas que estabelecemos para nós mesmos. Pra minha sorte, não tive meta nenhuma e ainda assim consegui dobrar a meta de decepção. Vamos ao resumo da ópera.
1. Livros resenhados
Não tive um bom ano literário e, por isso, as leituras sofreram. Conquanto tenham sido melhores que ano passado, não dá pra dizer que menos de dois livros por mês é algo do qual se orgulhar — muito embora a pesquisa oficial sobre leitura no Brasil desse ano tenha mostrado que menos de 50% dos brasileiros sequer folheiam um livro durante o ano todo.
Jan | 1) Bag of bones; 2) The catcher in the rye; 3) A wizard of Earthsea |
Fev | 4) For now, forever |
Mar | 5) Jogador nº 1; 6) Ready player two; 7) Under the dome |
Abr | 8) Of a feather; 9) La catedral del mar |
Mai | 10) Corra, Alex Cross; 11) Vidas secas; 12) O segredo do best-seller |
Jun | 13) Incidente am Antares; 14) Hidden child of the Holocaust |
Jul | 15) Ultima: The Technocrat War (book I, Machinations); 16) The green mile (À espera de um milagre) |
Ago | -- |
Set | 17) Crime e castigo |
Out | 18) Dinheiro; 19) Blanco nocturno |
Nov | 20) A camareira |
Dez | 21) Chernobyl; 22) A vida secreta dos grandes autores; 23) The complete poetical works of Edgar Allan Poe |
Nesse ano é muito fácil escolher o melhor: La catedral del mar, disparado. Uma ficção histórica de fazer inveja. É o livro que eu sempre quis ler e não sabia. Absurdamente visceral e realista, contando a história de um rapaz que nasce e cresce em Barcelona no contexto da Inquisição espanhola e o período medieval. Até agora ainda consigo lembrar de cenas do livro que me dão arrepios de tão boas.
Por outro lado, também ganha em disparada a pior leitura: Ready Player Two. O autor conseguiu destruir tudo que construiu com o primeiro livro, apenas com o intento de lucrar. É o retrato da nossa época, creio.
Pensando na quantidade de livros, houve uma ligeira recuperação em relação ao ano anterior, mas ainda muito aquém do histórico. O que aconteceu com aquele Gabriel? Será que as prioridades mudaram tanto? Será que simplesmente não encontrei tantos livros bons? Não sei.
2018: 27 livros2019: 37 livros2020: 40 livros2021: 21 livros2022: 35 livros2023: 20 livros2024: 23 livros
2. Concursos literários e produções
Este tópico está intimamente ligado com a nova seção que criei abaixo. Por enquanto, basta dizer que estou explorando novos horizontes.
Acho que aqui oficialmente começa a ladainha da tristeza e do porquê meu ano literário foi tão ruim. Na verdade, os concursos são apenas reflexo do desânimo, não o contrário. Este foi oficialmente meu pior ano (disparado!) em textos aprovados para concursos/revistas literárias. Mas tem o pulo do gato: neste ano não submeti nenhum texto para concursos ou revistas literárias no Brasil.
Também tem o fato de que não escrevi textos direcionados. No Brasil, via de regra eu olho o edital ou a revista literária e escrevo um texto que se encaixa na proposta deles. Não fiz isso para os EUA. Pela tabela é possível ver que foram praticamente os mesmos textos enviados para revistas diferentes. É bem possível que isso tenha contribuído. Ou é simplesmente a conclusão mais simples: meus textos são uma bosta.
2018: 18 textos enviados, 4 aprovados → 22% de aproveitamento2019: 17 textos enviados, 4 aprovados → 23% de aproveitamento2020: 18 textos enviados, 6 aprovados → 33% de aproveitamento2021: 35 textos enviados, 6 aprovados → 17% de aproveitamento2022: 46 textos enviados, 7 aprovados → 15% de aproveitamento2023: 10 textos enviados, 4 aprovados → 40% de aproveitamento2024: 25 textos enviados, 1 aprovado → 4% de aproveitamento
Sei que os números são apenas números (tenho dito isso em todos esses anos). Mas ainda são a métrica que temos, que posso fazer? Nos resta então o seguinte gráfico:
3. "Carreira" literária
Talvez essa aqui seja a parte mais interessante dessa retrospectiva. Tudo que falei acima está intimamente ligado com o que vou falar agora. 2024 foi um ano bem triste para a minha literatura, em especial para meus livros.
Desde 2019/2020, tenho publicado quase um livro por ano.
- Personagens não bíblicos e suas histórias (2019) foi meu "debut" e teve uma excelente abertura. Não foi a abertura que a editora esperava, mas dentro das minhas proximidades, saiu muito bem.
- Meu segundo livro foi É a vida: microcontos de risadas, amor e morte (2021). Esse saiu chorando, mas atribuí isso à pandemia.
- Quando chegou meu terceiro livro, Outros personagens não bíblicos e suas histórias (2022), eu esperava uma recepção parecida com o primeiro. Mas foi um tremendo fiasco. Enquanto o primeiro vendeu 600 exemplares tranquilo (só parou por causa da pandemia), esse outro não vendeu nem 300.
- Não satisfeito com as derrotas, lancei o Pois é e outros microcontos (2023), na esperança de que os microcontos me dessem alguma abertura em escolas para que eu pudesse fazer oficinas (coisa que o É a vida fez muito bem). Esse também não saiu quase nada.
Esse ano todos os meus livros ficaram encalhados. Resolvi colocá-los na Amazon. Teve trimestre (trimestre!) que meu total de vendas foi de R$0,10 (sim, dez centavos). Comecei a ficar com angústia de ver tantas caixas de livros encalhados no quarto, era um atestado da morte da minha literatura.
Distribuí sugestões de oficina em escolas. Fiz toda uma formalidade, apresentei um programa por escrito, sugestão de contrapartida, cronograma, tudo. Algumas escolas nem me receberam. Outras disseram que iriam me chamar para seus festivais literários ou para dar a oficina em outro momento. Nenhuma entrou em contato de novo.
Ano passado escrevi meu primeiro romance, Coisas da vida, que foi contemplado no Concurso “IV Literatura de Circunstâncias” da UFRR, mas que ficou só nisso mesmo e nunca foi publicado. Quando entrei em contato com a editora para ver se havia alguma atualização, se limitaram a dizer que estava previsto no edital que o livro só seria publicado se houvesse possibilidade. E é isso.
Tentei então submeter o livro como projeto no edital da Lei Paulo Gustavo, lançado pela Secretaria de Cultura de RR. Fiz todo o projeto, seria o único romance roraimense que se passa totalmente na cidade de Boa Vista, é uma história que fala da realidade local, no meu projeto coloquei como sugestão a doação de 500 exemplares para escolas de todo o Estado, no cronograma e orçamento coloquei valores condizentes com a realidade do país, pensei em como baratear custos... fiz tudo o que podia. Quando saiu o resultado, meu projeto ficou em último lugar. Ali eu entendi que, de fato, era o fim.
Nos meses que se seguiram, doei todo o meu estoque. Tudo. Alguns lugares ainda se solidarizaram comigo e compraram alguns exemplares a preço de custo. Vários outros nunca recebi nem um obrigado, só receberam a doação mesmo e ficou por isso. Quando doei o último exemplar, senti que eram os últimos pregos do caixão. Estava morto, podem elogiá-lo à vontade.
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Pra ser justo, houve dois respiros de literatura esse ano, e os dois graças ao SESC. Fui convidado para palestrar na Semana Literária (é a foto que está acima) e também fui dar oficina no interior de Roraima, em São João da Baliza. Esses momentos foram bem únicos.
De modo geral, passei (passo?) por um momento bem triste, pensando em desistir mesmo da literatura e talvez voltar para as composições musicais ou até mesmo explorar uma outra arte. Porém ainda surgiu uma luz no fim do túnel: escrever em outro idioma. Foi aí que resolvi enviar textos para o exterior.
Apesar de apenas 1 ter sido selecionado, encaro isso com bons olhos. Tem escritores nativos do inglês que passam uma vida para conseguirem ser publicados. Eu consegui isso em 2023 e 2024. E olha que o conto de 2023 foi comédia (considerado um dos gêneros mais difíceis de escrever em inglês). Tudo isso me mostrou que talvez haja uma solução.
Esse ano, então, comecei a pensar num romance para escrever diretamente em inglês e publicar no exterior. Estou oficialmente migrando minha literatura para fora. Não pretendo escrever outros textos em português, e nem investir mais na literatura no Brasil de modo geral. Já terminei o plot do meu próximo romance e devo começar a escrevê-lo em meados de Janeiro/2025 pra tentar a sorte por lá. Não sei se vai dar certo, mas sinto que as circunstâncias me empurraram para esse caminho. Quem sabe este não é o futuro?
#O resumo da ópera
- Livros lidos: 23
- Textos escritos: provavelmente nenhum, embora tenha feito umas 3-4 traduções de textos meus. Por outro lado comecei a plotar 3 livros esse ano e um deles vingou, tenho a estrutura dele completinha já.
- Textos enviados pra concursos literários: 25
- Textos aprovados: 1
Em 2023 escrevi meu primeiro romance aos trancos, dessa vez fiz com mais técnica, espero que ele saia com mais qualidade. Vamos ver. Pretendo usar meus contatos para me ajudar com a publicação no exterior e talvez até com publicidade — mas vamos ver.
No momento, o único plano é tentar escrever um bom livro. É isso. O que vai ser dele eu não sei. Mas, pelo menos, Deus, me ajuda a contar uma boa história. De tudo que perdi, é disso que sinto mais falta.
Mas vamos ver.
Amanhã é 2025 e eu não sei o que esperar dele. Alguém sabe?
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