quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Resenha — The Complete Poetical Works of Edgar Allan Poe

INGRAM, John H (ed.). The Complete Poetical Works of Edgar Allan Poe. New York: A. L. Burt Company, 1875. Digital Kindle Edition (2011).


Então, né. Acabou que voltei. É que fiquei tão animado com meu novo Kindle que resolvi pegar alguma coisa de graça na Amazon, só pra estrear ele mesmo. Acabou que encontrei essa coletânea com as obras de Poe e resolvi dar uma chance. Não costumo resenhar livros de poesia, mas depois que terminei de ler percebi que precisava registrar algo sobre ele.

Eu já havia lido Poe há algum tempo. Na verdade, eu havia lido apenas O corvo e não tinha curtido muito. Penso que é porque eu achava que se tratava de uma narrativa em prosa, não de um poema com algum fundo mórbido. Aliás, pensei que seria algo de terror, e não senti medo nenhum lendo o conto. Acontece que eram apenas minhas expectativas que estavam erradas. Poe é sim muito bom.

Nesta obra temos vários de seus poemas e não dá pra negar que ele é um mestre da palavra. O corvo em si é fantástico, muito bom. Relendo agora com outros olhos, realmente entendi que poesia é sinônimo de ritmo. Além disso, achei genial como Poe não tinha medo de repetição de palavras quando elas serviam para fortalecer a ideia do ritmo. Além disso, ao contrário do que me pareceu no começo não é um poeta limitado a um único tema. 
A DREAM WITHIN A DREAM.

Take this kiss upon the brow!
And, in parting from you now,
Thus much let me avow—
You are not wrong, who deem
That my days have been a dream;
Yet if hope has flown away
In a night, or in a day,
In a vision, or in none,
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream.

I stand amid the roar
Of a surf-tormented shore,
And I hold within my hand
Grains of the golden sand—
How few! yet how they creep
Through my fingers to the deep,
While I weep—while I weep!
O God! can I not grasp
Them with a tighter clasp?
O God! can I not save
One from the pitiless wave?
Is all that we see or seem
But a dream within a dream?
Por um lado, enquanto foi possível explorar outras áreas de Poe que eu não conhecia, também não posso dizer que tudo que ele produziu são flores. Uma crítica que ouso fazer é que é uma poesia, acho, exageradamente intelectualizada. Soa como Machado, citando frases em outros idiomas como se o leitor tivesse obrigação de saber do que se trata (claro que no contexto o francês era a língua franca do mundo). 

Além disso, temos as constantes referências a Grécia clássica. Mano, não consigo entender que fascinio é esse que pro cara ser intelectual ele tem que citar ou estar familiarizado com personagens da Grécia antiga. Honestamente me soa como intelectualismo de fachada.

Outra coisa é que achei muito mais interessantes os seus poemas do que os monólogos de filosofia e teologia (não deve ser à toa que ele é conhecido pelos seus poemas e não outros textos). Não obstante, nota-se que ele era um ávido leitor de poesia. Inclusive elogiando outros poetas.

Por outro lado, os comentários dele sobre poesia e escrita são MUITO interessantes. No ensaio The Poetic Principle ele ensina o que entende por "princípio poético" e como isso guia sua própria forma de escrita — absurdamente genial, cheio de insights muito bons. 

No outro, The Philosophy of Composition, Poe praticamente dá uma aula de como escrever. Ele usa seu próprio poema O corvo e explica como ele fez para escrevê-lo. Nossa, o tanto que dá pra gente aprender sobre poesia com esses dois textos... já li livros inteiros que não ensinaram tão bem como ele.

Enfim, como qualquer outro escritor, há textos e textos. Além de O corvo e Dream within a dream, que citei aqui, houve outros poemas que li mais de uma vez, absorvendo as nuances e a profundidade do autor. Honestamente não esperava gostar tanto de Poe, mas a verdade é que o homem cativou. Permanece na estante, o safado.

(Agora sim, acho que esse foi o último de 2024)

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