quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Resenha — For now, forever

ROBERTS, Nora. For now, forever. New York: Harlequin Books, 2007.


Nora Roberts, nunca mais.

Vi esse livro por 3 dólares e pensei que seria uma boa adquiri-lo. Conquanto eu não goste de livros de romance, um bom artista precisa ser minimamente eclético e ler de tudo um pouco, nem que seja para ver o que não fazer em uma história. 

For now, forever é a história do casal Daniel McGregor e Anna Withfield, ele um homem de negócios bem sucedido e ela uma estudante de medicina oriunda de uma família rica. Eles se encontram num baile, ele meio que tem amor à primeira vista e ela "não sabe o que quer ainda". 

Esse livro é uma palhaçada. É por causa de narrativas como essa que se normaliza muita coisa na cabeça de meninas (claramente o público-alvo da autora) e depois elas ficam frustradas ou decepcionadas com as próprias escolhas.

A começar, me assusta como o personagem de Daniel é meio abusivo. Ele meio que agarra a mulher, mesmo ela dizendo não, porque, na verdade, "ela queria sim". Há uma insinuação aqui dizendo: a mulher gosta de ser pegada, mesmo que ela esteja dizendo não. Horrível.

Segundo, a instituição do casamento é totalmente descartável. Paradoxalmente, o homem quer casar com ela, mas ela diz que quer se formar em Medicina primeiro e, mesmo assim, não vai dar garantias de que vai querer se casar com ele. Mas... então ela decide ir morar junto com ele. Oi? Pera... não era a carreira em primeiro lugar e talz? Uma completa distorção. Ah, e ela faz isso simplesmente abandonando os pais. Sai sem dizer nada, simplesmente vai morar com outro homem. A ideia de família, pff, também totalmente descartável. 

O que importa aqui é o individualismo supremo de Anna. Ela quer o que ela quer e pronto, e todo mundo tem que se conformar com isso. Ela não pode ceder, não, porque ela é quem está certa e todo mundo tem que aceitar. No relacionamento dela com Daniel, ela sempre está certa e Nora Roberts faz do homem quase um capacho em alguns momentos. Ridículo, uma completa falta de noção de como um bom relacionamento funciona.

Fora, que o livro deixa muito evidente um dos principais problemas de livros de romance: como tudo tem que ser sobre o casal, o drama ao redor deles se perde, ao ponto de uma cena de luto ser seguida imediatamente por um picnic, com direito a uma furunfada no final. Uma coisa completamente destoante. Uma hora estamos lidando com a perda de uma personagem interessante, pra imediatamente depois nos vermos diante de três páginas de descrição de cena de sexo. 

O livro está muito próximo daquelas novelas da Globo que enalteciam o adultério: o homem começava a história casado, a mulher era sempre uma megera, e ele sempre encontrava uma novinha que era "o amor da sua vida", então não só podia trair a esposa, como a novela incentivava. De forma similar, esse livro é tudo que tem de errado com as noções contemporâneas distorcidas do que é o amor, do que é um bom relacionamento, do que é o casamento, do que é família.

Eu sinto muitíssimo a todas as mulheres que se deixam levar por esses contos da carochinha, criando falsas noções da realidade e, por consequência, vivendo vidas amorosas frustradas. Amor é muito mais que o que "eu quero" ou o que eu "sinto". Por favor, não usem esse livro como base.

Nora Roberts, nunca mais.

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