sábado, 21 de dezembro de 2024

Resenha — A vida secreta dos grandes autores

SCHNAKENBERG, Robert. A vida secreta dos grandes autores: o que os professores nunca contaram sobre os famosos romancistas, poetas e dramaturgos. São Paulo: Ediouro, 2008.


Eis o que parece ser a minha última leitura de 2024. Um livro que comprei num sebo em Brasília, só pra ter alguma coisa fácil pra ler na viagem de volta. Sem muito o que dizer, vamos à resenha.

Trata-se de um livro de curiosidades, não tem outra coisa. Aqui vemos causos e detalhes sobre a vida de Shakespeare, Byron, Edgar Allan Poe, Charles Dickens, Tolstói, Conan Doyle, Tolkien, Hemingway e vários outros.

O livro em si é interessante, mas, por incrível que pareça, a leitura cansa. Primeiro porque não há uma narrativa que una todos os capítulos, são apenas fascículos independentes cheios de curiosidades sobre grandes personalidades.

Soma-se a isso também o problema de que... bem, perdoe a franqueza e a ignorância... eu sequer conhecia todos os autores listados. Perdão por não lembrar quem era Louisa May Alcott (embora eu soubesse sim do seu livro Mulherzinhas) ou William Faulkner. Honestamente, nem sei porque peço desculpas, não sabia que era obrigado a conhecer todos. 

De qualquer forma, o livro é interessante. Sabia que o "corvo" do famoso poema de Poe era um corvo real cujo dono era Dickens? Sabia que Mark Twain era amigo de Nikola Tesla e chegou até a patentear algumas invenções? Sabia que após a fama Conan Doyle não suportava mais Sherlock Holmes e decidius matá-lo, mas os fãs foram pra frente da casa dele protestar? 

É para isso que o livro serve, para que a gente possa conhecer um pouco mais sobre os autores mas, principalmente, para que a gente possa mostrar nossa sapiência com esses fatos interessantes nas rodas dos amigos que, assim como nós, fingem que leram todos esses autores. 

Bom, mas acho que valeu a leitura, já que a finalidade era ser simples e ter algum entretenimento. Gostaria de finalizar citando parte do apêndice do livro, que traz as últimas palavras de algumas dessas grandes celebridades. 

As últimas palavras de Lord Byron foram "Agora vou dormir. Boa noite." Oscar Wilde disse: "Meu papel de parede e eu estamos lutando um duelo mortal. Um de nós dois terá de sair daqui." Mas os dois que mais me chamaram a atenção foram H. G. Wells, que disse: "Vá embora. Estou bem."; e Walt Whitman, cujas últimas palavras foram: "Me segure, eu quero cagar."

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Resenha — Chernobyl

LEATHERBARROW, Andrew. Chernobyl: 01:23:40. Porto Alegre: L&PM, 2020.


Ganhei este livro porque um amigo mudou-se e resolveu se livrar de coisa parada presentar-me com parte de seu acervo. Como estou viajando, resolvi que seria uma boa oportunidade pra me dedicar à leitura sem grandes interrupções, e deu certo.

Este livro é uma não-ficção escrita por um entusiasta, um aficcionado do acidente de Chernobyl. Andrew Leatherbarrow nada mais é do que um fã e, depois de tanto pesquisar sobre Chernobyl, percebeu que tinha reunido um poderoso arsenal de dados sobre o caso e foi convencido a publicá-los em livro.

A estrutura do livro segue um padrão estranho. No começo temos uma exposição e introdução ao tema. A seguir, cada capítulo ora fala do acidente em si e suas consequências, ora da viagem que o autor fez ao local do acidente e como isso marcou sua vida. 

Confesso que não vi tanta utilidade no relato pessoal do autor, me interessaram mesmo as partes que falaram do acidente e das dificuldades absurdas que as pessoas tiveram para lidar com as consequências do mesmo. Dizer que ele foi até o telhado de um prédio pra bater umas fotos e isso deixou ele nostálgico, bem... já não sei.

Sobre os fatos em si, o livro trouxe muitos detalhes que eu não conhecia. O autor aponta duas grandes causas para o acidente: problemas na própria construção e estrutura do reator de Chernobyl, e erro humano, devido à falta de consideração que Anatoly Dyatlov, vice-engenheiro-chefe da Usina Nuclear de Chernobil, teve por procedimentos de segurança e a vida humana.

Eu não tinha noção de como se deram os reparos e como foi o processo de contenção. Fiquei muito impressionado em ver que muitos dos que trabalharam nos esforços sabiam muito bem que não voltariam, realmente se sacrificaram para salvar a humanidade. Ou pior: muitos que foram e nem sabiam a que estavam se submetendo. Era gritante a corrupção e o descaso que a União Soviética tinham pela própria população. Triste e revoltante.

Destaco aqui o trabalho dos Liquidadores, dos Biorrobôs, dos bombeiros e dos mineradores — os verdadeiros heróis dessa história.. Mas de todos os detalhes que o livro traz, quero transcrever aqui um relato que o autor faz de outos acidentes radioativos em diferentes lugares no mundo. Os grifos são meus:
[...] mais de 240 pessoas foram expostas à radiação em Goiânia, no Brasil, em setembro de 1987, depois que uma dupla de ladrões desmontou uma cápsula de aço e chumbo que haviam roubado de um hospital meio abandonado ali próximo. 

A cápsula, que fazia parte de um aparelho de radioterapia e continha césio, ficou guardada no quintal da casa de um deles. Lá, os dois ladrões ficaram batendo vários dias na cápsula para perfurar a proteção externa de aço, ao mesmo tempo em que adoeciam. Atribuíram seus sintomas a algum alimento que tivessem ingerido, sem suspeitar do objeto roubado, e depois venderam a cápsula danificada a um sucateiro chamado Devair Ferreira.

Naquela noite, Devair notou que o material interno soltava uma luminosidade azulada e imaginou que devia ser valioso — até sobrenatural. Para protegê-lo, guardou a cápsula na casa onde morava com a esposa, Gabriela, e distribuiu pó e fragmentos de material entre amigos e parentes. 

Um deles foi o irmão de Devair, que deu um pouco do pó de césio para a filha de seis anos de idade. Encantada com aquele brilho mágico azul, a menina ficou brincando com o pó de césio, passando em si mesma como se fosse purpurina e ingerindo partículas radioativas. Dois empregados de Devair ficaram alguns dias mais tentando desmontar a cápsula para extrair o chumbo que continha.

Gabriela foi a primeira a perceber que ela e todos os seus próximos estavam adoecendo gravemente. Um médico lhe disse que era uma reação alérgica a alguma coisa que comera, mas ela estava convicta de que a culpa era do material estranho que tanto fascinara a família. 

Gabriela pegou de volta a cápsula que tinham revendido a outro ferro-velho, levou-a — de ônibus — até um hospital local e lá declarou que aquilo estava “matando [sua] família”. Essa providência impediu que o episódio tivesse uma gravidade muito maior.

O césio então ficou num pátio até o dia seguinte, sem ser identificado, até que um radioterapeuta, a quem um médico do hospital pedira que fosse examinar a cápsula, “chegou bem a tempo de demover os bombeiros de sua intenção inicial de pegarem a fonte e jogarem num rio.”

Gabriela, a menina e os dois empregados de Devair morreram. Devair sobreviveu, mesmo tendo absorvido uma dose maior do que os outros quatro. Como a cápsula tinha sido aberta e transportada várias vezes naquelas duas semanas, diversas áreas da cidade ficaram contaminadas, exigindo a demolição de muitos edifícios. (p. 24-25)
Não há como negar que essas histórias fascinam. São interessantes porque são absurdamente reais. Ainda que a energia nuclear seja a mais eficaz entre todas as energias limpas disponíveis hoje, o risco que ela traz ainda é muito grande. O mundo tem medo demais de um inimigo invisível. Chernobyl certamente não será o último acidente energético, mas espero que seja o último dessas proporções.

Enfim, o livro vale a leitura, ensina demais sobre o que é o ser humano e os limites da ciência. Pelo menos por enquanto, vai sim ficar na estante.