VOGLER, Christopher. A jornada do escritor: estruturas míticas para escritores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
Então. Dando continuidade ao fichamento desse livro (incrível, por sinal!), vamos falar agora das doze etapas que compõem a Jornada do Herói, aplicada ao processo de escrita. Confesso que algumas vezes o livro parece quase uma autoajuda, aplicando alguns desses conceitos à vida real. Não sei até que ponto dá pra aplicar dessa forma, mas é interessante, não obstante.
Nesse post vou abordar os 4 primeiros dos 12 estágios da jornada. A escolha foi para que não ficasse muito grande e o leitor pudesse aproveitar melhor o conteúdo, que, diga-se de passagem, é muito elucidador. Não obstante, mais de uma vez fiquei me perguntando na leitura: mas isso não é fórmula? Ainda defendo que a Jornada do Herói deve ser conhecida, mas não necessariamente seguida.
Agora um importante elogio à didática de Vogler. O cara não somente explica muito bem os termos, dá exemplos que são acessíveis, oriundos especialmente do cinema de Hollywood, aplicando de maneira excepcional o ensino aos roteiros dos filmes. Não satisfeito, ao final de cada capítulo ele traz o que chamei de "Perguntas da seção", onde ele traz exercícios práticos, em forma de perguntas, para auxiliar o escritor na sua própria jornada.
#Estágio Um: o Mundo Comum
Nesse post vou abordar os 4 primeiros dos 12 estágios da jornada. A escolha foi para que não ficasse muito grande e o leitor pudesse aproveitar melhor o conteúdo, que, diga-se de passagem, é muito elucidador. Não obstante, mais de uma vez fiquei me perguntando na leitura: mas isso não é fórmula? Ainda defendo que a Jornada do Herói deve ser conhecida, mas não necessariamente seguida.
Agora um importante elogio à didática de Vogler. O cara não somente explica muito bem os termos, dá exemplos que são acessíveis, oriundos especialmente do cinema de Hollywood, aplicando de maneira excepcional o ensino aos roteiros dos filmes. Não satisfeito, ao final de cada capítulo ele traz o que chamei de "Perguntas da seção", onde ele traz exercícios práticos, em forma de perguntas, para auxiliar o escritor na sua própria jornada.
OS ESTÁGIOS DA JORNADA
#Estágio Um: o Mundo Comum
- O início de uma aventura tem que ter alguma coisa que prenda o leitor
- Qual a primeira coisa que o leitor vai ter da história? Qual a primeira imagem?
- Esse estágio serve para dar um tom e impressão à história
- Um título bem escolhido serve para deixar o leitor curioso e interessado
- Isso se aplica também à capa do livro (não vamos ser ingênuos), a publicidade dele e seus anúncios
- Por isso, o título é um marco para anunciar a natureza da história e atitude do escritor
- Algumas histórias têm prólogo → precede o corpo principal da história
- Tem várias funções → pode informar sobre o passado da história ou algum evento impactante para dar o tom da história
- Pode ser um mecanismo pra desnortear o leitor → deixar confuso pra explicar depois
- Pode iniciar também com o vilão ou uma ameaça (antes do Herói)
- Nem sempre o prólogo é necessário ou desejado → a história que vai dizer
- Nesse primeiro momento se estabelece o Mundo Comum
- O Mundo Especial só vai ser "especial" quando em contraste com o Comum
- Muitas vezes o Comum pode parecer calmo e chato
- Mas as raízes da aventura já estão nele → algumas vezes nos acostumamos com o Mundo Especial que ele se torna um Mundo Comum
- Nesse ponto, muitos escritores salpicam ideias do Mundo Especial, com indiretas
- Toda boa história levanta uma série de perguntas que serão respondidas na trama
- Esse primeiro momento tem que levar a isso
- O Herói vai conseguir? Como ele vai fazer isso?
- Na apresentação do Herói → ele deve ter um problema interno e um externo
- Muitos escritores se concentram só no problema externo
- Mas ele deve ter alguma dificuldade interna → falha moral ou de personalidade
- Isso dá mais profundidade ao Herói e torna ele mais crível
- O leitor deve estabelecer um vínculo com o Herói → ele tem que ser relacionável
- Isso não quer dizer que o leitor deve simpatizar com o Herói
- Mas que o leitor vai se identificar com alguma coisa no Herói
- Algo que ajuda nisso é revelar uma carência (interna ou externa) do Herói
- Isso ajuda a criar uma solidariedade com o Herói → gera o desejo de que ele se torne completo no final
- Um jeito de fazer isso é colocar o Herói numa situação simples e mostrar que ele tem dificuldade de lidar com isso
- Na mitologia grega → mesmos os melhores heróis tinham falhas trágicas
- O Herói pode ter uma ferida (externa ou interna)
- Ele até tenta esconder isso, mas é evidente na sua personalidade
- Nesse momento também surge a questão → como o Herói entra em cena?
- Esse primeiro contato com o Herói já informa sua atitude, estado emocional, contexto, forças, problemas, e por aí vai
- Uma maneira interessante de revelar isso é por meio do diálogo → fazendo outros personagens revelar essas informações do Herói ao leitor
- Desde o começo da história → o leitor precisa ter noção do que está em jogo
- O escritor é que estabelece essas regras do jogo
- Para o Herói, tem que ter alguma coisa em jogo → senão a história não é interessante
- Outra coisa que pode haver nesse primeiro momento é a História Pregressa
- Às vezes é necessário conhecer algo do passado do Herói para seguir em frente
- A ideia é revelar essas coisas com elegância no decorrer da trama
- A exposição não pode nem congelar a história nem ser o foco dela
- Muita coisa é revelada pelo que o Herói não faz ou não diz
- Facilita que nesse momento se revele o tema
- Não é uma afirmação explícita → mas uma demonstração subjacente do teor da trama
- Uma hora ou outra, porém, ele deve ser trazido à tona → pois vai influenciar nas escolhas e atitudes do Herói
- Perguntas da seção
- Como o Herói da sua história é incompleto?
- Qual a história pregressa desse Herói?
- Até que ponto você conhece o Herói?
#Estágio Dois: Chamado à Aventura
- Geralmente o Mundo Comum é uma coisa estática → mas ali estão as sementes para que algo aconteça
- Por isso, depois de apresentado o Herói, é preciso colocar as engrenagens em movimento → alguma coisa acontece ou uma mensagem é trazida à tona
- Isso significa que o Chamado pode ser causado tanto por fatores externos como internos (pode ser o descontentamento do Herói com o Mundo Comum)
- O Chamado pode até ser uma tentação sobre o Herói
- O Chamado não precisa ser um evento único → pode ser um encadeamento de fatores
- Um desses fatores pode ser o Arauto → um personagem que apresenta ao Herói um convite ou desafio ao desconhecido
- Esse Arauto pode ser tanto Aliado como Inimigo
- Os Arautos podem abrir os olhos do Herói mostrando que há algo errado → muitas vezes o que há de errado no Mundo Comum já foi apresentado ao leitor no prólogo
- Esse Chamado provavelmente será perturbador e desorientador para o Herói
- Em alguns casos, o Herói pode simplesmente não ter opção senão aceitar o Chamado
- Em alguns casos, pode até haver mais de um Chamado durante a história
- Perguntas da seção
- Você já recebeu Chamados a aventuras? Como reagiu a eles?
- Você consegue pensar em alguma história sem um Chamado ao Herói?
- Onde está o Chamado na sua história? É possível protelá-lo? Isso é viável?
- Dá pra passar sem o Chamado?
- Como você pode apresentar o Chamado sem transformá-lo num clichê?
#Estágio Três: Recusa do Chamado
- Quando nos colocamos na posição do Herói, vemos que diante do Chamado é plausível hesitar e ter medo da nova situação
- Essa é uma parada importante → mostra ao leitor que a aventura tem riscos e perigos
- Além disso, essa pausa garante que a escolha do Herói será pensada
- A maioria dos Heróis recusa ou hesita
- Algumas vezes é por experiência anterior → já passaram por algo assim e não querem se submeter de novo
- O Herói pode dar uma lista de desculpas
- Essa Recusa Persistente por parte do Herói pode trazer consequências terríveis (eu estou olhando pra você, Peter Parker! Cadê o Tio Ben??)
- Há outros casos, porém, que a recusa é algo bom
- Quando o Chamado é para o mal, por exemplo
- Quando é um tipo de renegação → o Chamado era para algo que até poderia ser bom, mas o Herói abre mão disso em prol do bem comum
- Por outro lado, há o caso dos Heróis Voluntários
- Estes, quando recebem o Chamado, o aceitam prontamente e quase impetuosamente
- Nestes casos, é comum haver outros personagens que alertam o Herói quanto aos perigos que podem haver na aventura
- O Herói ainda pode ser posto à prova pelo Guardião do Limiar → eles eriçam o medo
- Em alguns casos o Mentor pode exercer essa função também
- Mas há o caso da Lei da Porta Secreta → se há uma porta e o Herói é impedido ou desencorajado a passar por ela, então, em algum momento, ele vai passar por ela.
- Então, mesmo que o Mentor ou o Guardião do Limiar tentem impedir, o Herói vai em frente
- Na história, essa Recusa pode ser um momento sutil
- E também uma boa oportunidade para redirecionar o foco da aventura, torná-la mais profunda
- Perguntas da seção
- Do que o Herói da sua aventura tem medo? Esses medos são reais? Como ele expressa isso?
- O Herói recusou o Chamado à Aventura? Como ele fez isso? Quais as consequências?
- Se o Herói é voluntário, há personagens ou situações deixando claro ao leitor que a aventura incorre em perigos?
- Você já aceitou Chamados à Aventura? Você já aceitou Chamados à Aventura que preferiria ter recusado?
#Estágio Quatro: Encontro com o Mentor
- Muitas vezes não é má ideia recusar um Chamado até estar pronto
- E na maioria das vezes é o Mentor que vai ajudar nesse preparo
- Nesse Encontro com o Mentor, o Herói recebe ensinos, provisões e até equipamentos para dar segurança na jornada
- Mesmo que na história não haja um personagem como Mentor → haverá alguma fonte de sabedoria ou segurança que ajude o Herói a aceitar o Chamado
- Para o escritor esse é um excelente momento para criar tensão, envolvimento, humor ou drama
- O Mentor é importante para ajudar a desencadear a história
- Um bom Mentor é entusiasmado em ensinar o que sabe
- De qualquer forma, o Mentor age principalmente na mente do Herói, para dar confiança
- É importante evitar os clichês → mude o tipo de Mentor ou talvez tire ele da história, veja como o Herói se comporta sem um auxílio maior
- Outra técnica é usar o Mentor como um engano ao leitor → pode ser uma máscara usada pela Sombra ou um Guardião, atraindo o Herói para o perigo
- O escritor pode usar a relação Mentor-Herói como uma fonte de conflito que pode escalar até gerar morte
- Às vezes o Mentor se torna um vilão ou trai o Herói
- Em alguns casos a lealdade do Mentor é dúbia → leva o Herói a questionar
- Pode ser até que o Mentor seja superprotetor → atrapalhe o Herói
- Há casos em que a história se desenrola em torno do Mentor
- De qualquer modo é comum que o Herói passe por treinamentos e testes para ajudar na sua caminhada → e geralmente quem faz isso no primeiro momento é o Mentor
- Ele é importante para ajudar o Herói a quebrar a barreira do medo e falta de confiança
- Ele serve para desempacar a história
- Praticamente em qualquer história há algum personagem ou situação que usa essa máscara para ajudar o Herói
- O escritor é um tipo de Mentor para os leitores → e o escritor também tem Mentores
- Perguntas da seção
- Pense em 3 seriados de TV. Quem são os Mentores na história?
- Existe alguma história em que o personagem é integralmente Mentor, sem exercer nenhuma outra função?
- Ajudaria a uma história sem Mentor que houvesse um?
- Quem é o Mentor na sua história?
- Seu Herói precisa de um?
- Seu Herói tem um Mentor interno, como código de honra ou ética?
- Na sua história, como é a relação Mentor-Herói?
____________________
Confesso que dá vontade de escrever logo sobre os outros estágios, mas vou seguir meu plano inicial, mesmo que isso gere um pouco mais de posts. É importante que a gente consiga absorver bem o que Vogler está querendo ensinar. Há muita coisa pra aprender, especialmente pra depois quebrar com a ideia. De qualquer modo, há muita coisa pra aprender. E segue a jornada.
0 comentários:
Postar um comentário