________. Sussurros na escuridão. São Paulo: PandorgA, 2018.
________. O chamado de Cthulhu e outros contos. São Paulo: PandorgA, 2018
Então. Encontrei essa coleção a módicos R$ 10,00 por livro e resolvi investir. Estava na hora de ler um clássico do terror, embora eu mesmo tenha escrito apenas um conto nesse estilo. Já havia ouvido falar de Lovecraft, claro, por conta do Cthulhu (ainda que não tivesse a menor ideia do que era esse bicho), mas não conhecia de fato a obra do autor. Vou comentar primeiro dos livros, depois das edições e por fim um comentário geral sobre o autor.
O primeiro que li foi A cor que caiu do céu. Além do conto que dá título ao livro, também há dois contos: Ele e Horror em Red Hook. De cara o primeiro conto me bateu com força porque na hora percebi a influência de Lovecraft nos dias atuais: a história é basicamente a mesma do filme "Aniquilação", e eu gostei muito desse filme! Fala de um horror biológico e ao mesmo tempo não natural que permeia uma cidade nos EUA.
Sussurros na escuridão, por sua vez, traz um horror vintage, com troca de cartas entre os personagens principais e com direito a registros fonográficos, fotografias antigas, tudo parte de uma trama que deixa a gente tenso do começo ao fim. Porém, creio que Lovecraft cometeu um erro (olha que ousadia!) porque lá no final a gente vê o personagem principal cometer aqueles erros que só se faz em filme de terror. Tipo quando o cara ouve um som do lado de fora da cabana isolada e resolve ir lá pra ver o que é, sabe? Aquele tipo de momento que a plateia fica "Tem mais é que morrer mesmo".
Pois é, Lovecraft fez isso e me deu foi raiva. No caso dessa história, não sei se Lovecraft escreveu pra ser um conto ou noveleta, mas facilmente funciona como romance mesmo. São 123 páginas de enredo bem construído, paulatino, criando tensão e agonia no leitor. Não fosse por esse final, estaria perdoado todo o livro.
Deixei por último pra ler O chamado de Cthulhu e outros contos justamente porque sabia que aí estava um dos contos mais famosos de Lovecraft. E de fato, vale cada palavra. O conto é sensacional e muito bem escrito. É fantástico como ele consegue em tão pouco espaço (porque o conto não é grande) transmitir tamanha construção e enredo sólido. Isso é algo que contemporaneamente só vi acontecer em Jorge Luis Borges. Além deste poderoso conto, o livro ainda conta com outros cinco, dentre os quais destaco Dagon, o conto que alavancou a carreira de Lovecraft.
Falando da edição agora, a editora PandorgA fez um excelente trabalho gráfico no livro. Não só a capa, mas as divisões internas com páginas escuras, a minibiografia do autor no final de cada livro, a preocupação estética foi excelente. Porém, pecou na qualidade editorial, per si. Vou postar apenas uma das várias falhas que encontrei, e (o pior!) justo no livro do Chtulhu. Na imagem ao lado vocês podem verificar a divisão silábica. Infelizmente, além deste, encontrei erros de espaçamento e grafia (não me refiro a typo, mas sim palavras que não fazem o menor sentido na frase).
Por fim, Lovecraft não tem a fama que tem à toa. Ele realmente é um mestre do terror. Suas histórias são todas ambientadas no seu país de origem, os Estados Unidos do começo do século XX e final do XIX. Seu estilo, como ele mesmo classifica, é o "horror cósmico". As histórias de Lovecraft não são sobre vampiros, monstros (não são, mesmo tendo o Cthulhu) ou assombrações, as histórias deles são sobre horrores que desafiam a realidade, que não fazem sentido e levam à loucura pelo mero conhecimento delas. Esse tipo de horror é explorado em todos seus escritos. E muito bem.
Porém, há algo que fica claro em Lovecraft: racismo e preconceito. Em muitos dos seus contos a origem das coisas horrendas está em pessoas, que ele mesmo chama, de "mestiços", "escuros", "manchados pelo pecado", "provindos da Ásia", "árabes". Aliás, é dito que Lovecraft mudou-se de certa cidade apenas porque lá havia muitos destes tipos.
Nos livros, em vários momentos ele deixa a entender que negros não são capazes de pensamento complexo, sendo quase animalescos e muitos dos horrores que ele descreve tem origem na África ou na Ásia. Não obstante, precisamos ver o contexto em que esse escritor estava. Ainda que não justifique de maneira alguma, lemos seus textos com olhos críticos, sabendo que era alguém cegado, em partes também, por um contexto de racismo institucionalizado e tido como natural.
Mesmo assim, permanece a patente de mestre e recomendo absolutamente a leitura desse mizerávi que consegue criar uma atmosfera de tensão tão grande que a gente fica se contorcendo pensando "Desembucha, homi!", mas ele faz isso de maneira tão simples e colossal ao mesmo tempo que não temos outra opção senão dar-lhe a patente de gênio e ficarmos assombrados com isso.
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