VOGLER, Christopher. A jornada do escritor: estruturas míticas para escritores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
OS ESTÁGIOS DA JORNADA
Estágios 9 ao 12
Estágios 9 ao 12
#Estágio Nove: Recompensa
- Depois que os Heróis conquistam a vitória → ganham a sua Recompensa
- É natural que queiram festejar
- É preciso refazer as forças para a jornada de retorno
- Nesse ponto é comum haver uma "cena da fogueira" → trocar histórias, relaxar
- Esse tipo de cena é importante pro leitor se recompor depois de tanta emoção com o estágio anterior → conhece-se melhor os personagens
- Pode haver aqui também uma cena de amor
- Vogler chama esse estágio de Apanhando a Espada → ele acredita que é a atitude ativa do Herói que faz a diferença nesse momento
- Campbell chama de "Benção Final" → é quando o Herói consegue aquilo que estava buscando
- Em alguns casos, o Herói consegue isso apenas roubando
- Isso é mais ou menos comum → dificilmente o Herói conseguiria o tesouro sem que precisasse roubar (pense em Indiana Jones roubando o tesouro da caverna)
- Os Heróis emergem mudados da Provação → Campbell chama de iniciação
- Eles podem entrar em uma nova classe, categoria
- O Herói ganha uma nova percepção ou poderes
- Pode até ser mudança de comportamento
- Mas eles também podem ter uma distorção de percepção → ficam cheios de si
- Eles ficam perto do limite entre Herói e Vilão
- Eles podem também ignorar que tenha havido alguma mudança
- Perguntas da seção
- O que o Herói aprendeu após observar a morte?
- Qual a Recompensa que seu Herói conseguiu? Qual foi a consequência da posse disso?
- Sua história muda de direção? Há alguma cena de amor?
- Seu Herói percebe alguma mudança? Ele tem uma nova percepção?
#Estágio Dez: O Caminho de Volta
- Nesse ponto o Herói tem que escolher → voltar ao Mundo Comum ou permanecer no Especial
- São poucos os Heróis que decidem ficar
- Nesse ponto da história, ela volta a ficar mais enérgica
- É quando o Herói volta ao Mundo Comum para aplicar o que aprendeu no Mundo Especial
- Quando os Heróis tomam o Caminho de volta → estão se lançando de novo na aventura
- Isso pode ser voluntário ou motivado por alguma força externa
- Aqui é possível haver uma transição de Limiar → com seu Guardião
- Pode ser uma fuga → traz uma nova crise à jornada
- No caso do roubo da Recompensa, por exemplo → alguém pode tentar reavê-la
- Aqui há sempre a possibilidade da retaliação
- As Sombras que não morreram voltam mais fortes ainda
- Nesse ponto é útil que a Sombra consiga dar um golpe duro no Herói → inclusive matando um de seus Aliados, por exemplo
- Em casos atípicos → o Herói pode ser perseguido por admiradores
- As Sombras podem não estar mortas na história, mas presas → aqui elas escapam
- Nesse estágio dos contos de fada → pode haver o voo mágico
- Um objeto ou Aliado que ajuda o Herói a escapar
- Muitas vezes, na fuga, o Herói pode deixar alguma coisa pra trás
- Em alguns casos, jogam fora até o tesouro para garantir a vida
- É importante haver obstáculos no Caminho de Volta
- O Herói sai da euforia da vitória e volta ao mundo real → vai gerar nova tensão, para um novo clímax
- Perguntas da seção
- Como seu Herói decide voltar?
- Qual o Caminho de Volta na sua história: o Mundo Comum, o Especial, ou outra via?
- Há perseguição ou aceleração nesse estágio da sua história?
#Estágio Onze: Ressurreição
- Esse é um dos estágios mais difíceis de escrever → para completar a jornada, o leitor tem que experimentar ainda outro momento de morrer-renascer
- Esse é o grande clímax → o teste final do Herói ante a morte
- O diferencial aqui é explicitar no Herói alguma mudança e não só descrevê-la
- É um teste para ver se o Herói aprendeu mesmo → é a última chance dele conseguir realmente mudar se ainda não o fez
- Tem que ficar claro que o Herói pode morrer novamente]
- Lembrando que para o Herói renascer → ele tem que sacrificar alguma coisa
- Um clímax ideal testaria tudo que o Herói aprendeu durante a jornada, com os mais diversos Aliados ou Inimigos
- Via de regra os Heróis vencem e o Vilão morre → uma boa sacada, porém, é fazer o Herói cometer um erro logo antes de dar o golpe final, por exemplo
- Há um truque que muitos usam para mostrar que o Herói renasceu → mudar a aparência
- Alerta de Vogler → nesse ponto, parece óbvio que é o Herói que tem que ser a parte ativa da história, fazendo a diferença
- Porém muitos escritores fazem do Herói um agente passivo → trazem Aliados ou outras situações para salvar o Herói da morte
- Ele não condena que o auxílio venha → mas que a ação principal seja do Herói
- Nesse ponto o escritor pode colocar o Herói diante de uma escolha difícil
- Pra ver se ele realmente aprendeu
- A escolha pode ser romântica também
- Apesar de ser o clímax → ele não precisa ser explosivo
- Há possibilidade de clímax tranquilo → seguido de onda de emoção
- É possível até fazer clímax sucessivos → porém o melhor é que seja um
- O clímax tem que trazer liberação de emoção → gargalhadas e lágrimas são o meio mais efetivo
- Isso alivia a ansiedade do escritor e permite se expressar melhor as emoções
- Aqui se completa o arco de personagem do Herói
- Um erro comum é que os escritores desenvolvam o Herói de maneira abrupta, sem respeitar os diferentes estágios
- O Arco do Personagem → pode ser visto em paralelo aos 12 estágios da Jornada
- Consciência limitada do problema → aumento da consciência → relutância em mudar → superando a relutância → compromisso com a mudança
- Experimentando a primeira mudança → preparando-se para uma grande mudança → testando a grande mudança
- Consequências da tentativa → nova dedicação à mudança → tentativa final de grande mudança → domínio final do problema
- No retorno ao Mundo Comum → pode haver um falso pretendente
- Alguém que questiona as credenciais do Herói
- Por isso o Herói apresenta provas de sua jornada
- Em alguns casos ele não tem → o que vale foi sua experiência e muitas vezes a pessoa tem que ir no Mundo Especial para experimentar
- Perguntas da seção
- Que características negativas seu Herói adquiriu? Quais dessas falhas você acha que deveriam ser preservadas nele?
- Qual a provação final do seu Herói? Como ele ressurge?
- Há necessidade de embate físico na sua história?
- Seu personagem apresenta mudanças graduais, respeitando o arco de personagem?
- Quando Herói morre ou não aprende suas lições, quem aprende alguma coisa?
#Estágio Doze: O Retorno com o Elixir
- Os Heróis retornam ao Mundo Comum com algo especial que trouxeram da Jornada → significa introduzir mudanças na vida cotidiana
- Pode ser chamado denouement (desatamento, desenlace, desfecho)
- O escritor tem que tomar cuidado para que, ao tentar desatar os nós da trama, não se enrole com eles
- É importante cuidar dos enredos secundários → o Retorno pode até suscitar novas questões, mas antigas tem que ser trazidas
- Ao desatar os nós → efetua-se a distribuição de recompensas e castigos
- Vilões são punidos e Heróis são recompensados
- Em ambos os casos deve ser proporcional aos atos dos personagens
- Duas maneiras de concluir a Jornada
- Final circular → mais comum na cultura ocidental
- O Herói retornar ao ponto de partida → oportunidade de comparação
- Dá uma ideia de conquista ou superação → muitos escritores retratam isso com um casamento no final
- Final aberto → mais comum na cultura oriental
- Os defensores dessa abordagem dizem que o final fica a cargo do leitor
- Especialmente porque algumas questões realmente não têm respostas
- O final aberto é ideal para histórias mais sofisticadas
- O Retorno tem funções importantes → ele se parece com a Recompensa
- Mas nesse caso → é a última chance de trazer emoções ao leitor
- Ele não pode ser muito arrumado → tem que ter ainda alguma surpresa
- Essa surpresa não precisa ser boa → pode revelar um desvio oculto
- Mas é preciso ter cuidado ao escrever o Retorno
- Problemas → muito abrupto ou prolongado / sem surpresas
- Quando é muito abrupto → o leitor não tem tempo de se recompor depois do clímax → não há conclusões satisfatórias
- Também não pode haver excesso de finais → o escritor sem saber qual o final correto, acaba escrevendo vários
- É importante que no final o escritor não saia do foco da história
- Mesmo que seja interessante deixar algum gostinho de desconhecido no final
- O Elixir também pode ter diferentes significados
- Pode ser o amor, a sabedoria, uma nova visão de responsabilidade
- Pode ser um elixir de tragédia → quando o Herói morre, quem aprende é o leitor
- É possível que o Herói não aprenda com seus erros → ele se condena a repetir as mesmas coisas até que aprenda sua lição
- Epílogo → não é obrigatório
- Mas pode complementar a história → geralmente falando de algo no futuro dos personagens
- Perguntas da seção
- Qual Elixir seu Herói traz da experiência?
- Seu Retorno está muito abrupto ou prolongado?
- De que maneira seu Herói foi transformado?
- A sua história vale a pena ser contada?
CONCLUSÃO
Uau! Deveras foi muita informação aí. Ao final do livro, Vogler falou aquilo que também defendi: a Jornada do Herói, ao final, é uma sugestão. A boa história não estará garantido só porque seguiu o padrão. Aliás, o ideal é que nem todas as histórias apresentem todas as etapas da Jornada: quem dita a estrutura é a história, não as regras.Uma ideia interessante pra uso da Jornada do Herói é aplicar ela na sua história depois que você escreveu pra encontrar os pontos fracos dela. Gostei da ideia de Vogler que o ideal é a gente aprender a Jornada do Herói pra depois esquecer. A gente usa como um mapa: na hora que não soubermos o caminho, consultamos. Mas a viagem não é seguir o mapa, é aproveitar a experiência.
Uma regra básica: qualquer elemento da Jornada pode aparecer em qualquer momento da história. Há até a possibilidade do escritor desenvolver cenas que não se encaixam em nenhum dos 12 estágios padrão, adaptando a estrutura da Jornada às suas necessidades.
Vogler termina seu livro analisando filmes como Titanic e Rei Leão, aplicando sobre eles a Jornada do Herói. São análises muito boas, especialmente porque ele trabalhou na formulação de filmes da Disney. Sabe a cena do Rafiki levantando o Simba na pedra em Rei Leão? Foi ele que pensou nela. Realmente há muito o que aprender com Vogler. Mas penso, e creio que ele concordaria comigo, que o verdadeiro aprendizado só acontecerá quando trilharmos a nossa Jornada do Escritor.
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