VOGLER, Christopher. A jornada do escritor: estruturas míticas para escritores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
OS ESTÁGIOS DA JORNADA
Estágios 5 ao 8
Estágios 5 ao 8
#Estágio Cinco: Travessia do Primeiro Limiar
- O momento fatídico que separa o Herói em "antes" e "depois" é a Travessia do Primeiro Limiar
- Via de regra é uma escolha consciente do Herói
- Normalmente o Herói não aceita os conselhos e presentes do Mentor pra se jogar de bom grado numa aventura
- O que acontece é que há um turning point, alguma força externa ou acontecimento que marca definitivamente a necessidade de atravessar o Limiar
- Verdade seja dita que alguns Heróis são lançados à aventura sem muita escolha
- Neste ponto ele deve encontrar o Guardião do Limiar
- Via de regra isso é mais um teste para ele poder seguir em frente
- Ou seja, não é um obstáculo fatal, mas quase uma ilusão
- Acontece então a travessia do Mundo Comum para o Especial
- Nem sempre essa travessia é suave → em muitos casos o Herói despenca
- Via de regra essa travessia se dá no fim do primeiro ato
- Perguntas da Seção
- O seu Herói está disposto a atravessar o Limiar?
- Existem forças guardando o Limiar?
- Quais Limiares você já enfrentou na vida?
- Na travessia, do que o Herói está abrindo mão? Isso é trazido à tona novamente?
#Estágio Seis: Testes, Aliados, Inimigos
- Não importa quanta experiência o Herói tenha → no Mundo Especial, tudo é novo
- As primeiras impressões do Herói tem que destacar o contraste dos Mundos
- Isso mesmo que o ambiente físico seja o mesmo
- A história deve demonstrar que o Limiar foi atravessado, que as coisas são diferentes
- Este primeiro período no Mundo Especial → testes
- Os escritores usam esse momento pra ver como o Herói lida com desafios e provas
- Os testes costumam ser difíceis → mas sem a qualidade de vida-ou-morte
- Exemplo do cotidiano: Universidade → vestibular pra entrar e depois tem as provas semestrais
- Em alguns casos os testes podem ser continuação do treino com o Mentor
- Os testes podem fazer parte da infraestrutura do Mundo Especial
- Por exemplo um local dominado pela Sombra → armadilhas e capangas
- A maneira como o Herói lida com as armadilhas é parte do teste
- É normal que, ao chegar no Mundo Especial, o Herói não saiba em quem confiar → isso também é uma espécie de teste
- Há a possibilidade de encontrar Aliados → que podem ser companheiros também (ao estilo Sherlock e Watson)
- Esses aliados mais próximos podem servir de alívio cômico além de assistência
- Esses personagens podem facilmente vestir a máscara do Pícaro e vez ou outra a do Mentor também
- Nesse contexto também podem se formar equipes
- Pode até ser heróis múltiplos ou um herói apoiado por várias pessoas
- Pode haver embates pelo controle do grupo também
- O aparecimento do Herói no Mundo Especial pode chamar atenção de inimigos
- Pode ser tanto a Sombra quanto os seus servidores
- Há a figura do rival → não é necessariamente inimigo do Herói, mas sempre quer vencê-lo em competição
- No Mundo Especial, o Herói tem que aprender as regras do lugar → isso também é um teste
- Algo interessante → porque o Herói sempre que chega no Mundo Especial vai para os saloons ou tavernas?
- Metáfora da caça → ao sair da aldeia, os caçadores vão para um local onde tem água, para procurar caça
- O local de beber água é um local de reunião, de encontros, de observação
- O bar (ou equivalente) pode ser um microcosmos do Mundo Especial
- Saloons, boates e outros semelhantes podem ser local de intriga sexual também
- As cenas neste estágio da jornada são úteis pra que o leitor conheça melhor os personagens
- Perguntas da seção
- Qual a diferença do Mundo Especial e o Mundo Comum na sua história? Há contraste?
- De que modo seu herói é testado?
- Ele faz Aliados/Inimigos? Há heróis sem Aliados?
- Seu personagem faz parte de uma equipe?
- Como seu Herói reage às regras estranhas do Mundo Especial?
#Estágio Sete: Aproximação da Caverna Oculta
- Depois de adaptados ao Mundo Especial → o Herói segue para o âmago dele
- Nesse ínterim podem haver outros Limiares com seus Guardiões
- Há certas funções nessa fase de aproximação
- Rever planos, reorganizar o grupo (até com mudanças de arquétipos)
- Aqui é possível elaborar melhor um alívio cômico ou romance antes do perigo
- Serve também pra criar um senso de urgência → redireciona a missão da equipe
- Nem sempre a aproximação será sutil → pode haver necessidade de uso da força
- Alguns Heróis fazem uma aproximação ousada, sem muito preparo antes
- Heróis confiantes e decididos podem escolher esse tipo de aproximação
- Em muitos casos, porém, é uma distração para que algum Aliado faça algo
- De qualquer forma, é bom que o Herói vá ao acontecimento principal de maneira consciente
- Quando se aproximam da Caverna Oculta, os Heróis devem saber que ali há perigo de morte
- Por isso o escritor pode desenvolver aqui as complicações dramáticas → reveses desanimadores conforme o Herói se aproxima do objetivo
- Geralmente são problemas que testam o Herói para fazê-lo seguir em frente e não desistir diante das adversidades
- Perguntas da seção
- Na sua história, o que acontece entre a chegada no Mundo Especial e a crise?
- O conflito cresce ou os obstáculos ficam mais difíceis?
- Seus Heróis já pensaram em dar meia-volta e desistir?
- De que maneira o Herói enfrenta os perigos externos? Você está trabalhando também os conflitos internos dele?
- A Caverna Oculta é um local físico ou emocional? Como o Herói se aproxima dela?
#Estágio Oito: Provação
- Este é o ponto da história onde o Herói está prestes a enfrentar o temível adversário → é o amago do que a trama estava construindo até então
- No estágio da provação deve prevalecer a ideia → o Herói tem que morrer para poder renascer
- Este é o ponto alto desse estágio
- Na maioria das histórias os Heróis parecem morrer e depois renascem
- A ideia, porém, é que os Heróis não simplesmente sobrevivem à morte → eles voltam transformados, mudados
- Esse estágio de provação não é o clímax, é uma crise
- É um dos principais pontos nervosos da história → muitos fios conduzem a esse ponto e saem dele também
- Ainda que geralmente seja o ponto alto da história → não é o momento maior dela
- Antes de melhorar, as coisas têm que piorar
- O padrão é que esse momento de morte-renascimento venha perto do meio da história
- Mas isso pode variar → embora uma crise central traga uma boa estrutura de tensão
- Pode haver retardamento da crise → mas cuidado para não criar um meio enfadonho
- Por outro lado, esse retardo chega perto da Razão Áurea → proporção elegante de 3/5 (muito apreciada na História da Arte)
- Isso porque deixa mais tempo para preparativos e permite construir lentamente
- De todo modo o segundo ato é um trecho longo da história
- A crise no meio serve como divisor de águas
- Ela mostra ao Herói que tudo mudou
- Na crise de morrer-renascer é comum a figura da testemunha
- Algum personagem que presencia a morte do Herói e lamenta por ele
- Essas testemunhas representam o leitor → que se identifica com a situação
- Isso tem a ver com a elasticidade das emoções → quanto maior a tensão, maior a euforia que virá depois
- Em alguns casos a experiência de quase morte não acontece numa única provação → mas numa série delas
- O que importa é que o Herói não precisa morrer → ele pode ser testemunha da morte ou até mesmo o seu causador
- O que está em jogo é a proximidade com a morte em si → é o enfrentamento do medo
- Lembrando que não precisa ser algo físico → pode ser amoroso também
- O evento mais comum na provação é o encontro com a Sombra
- Essa Sombra pode ser tanto um vilão externo quanto interno
- De modo geral, a Sombra representa os medos e qualidades ruins rejeitadas pelo Herói
- Pode ser projetada num processo de demonização
- Essa polarização serve para testar o Herói e fazê-lo quase falhar
- De qualquer forma, no estágio da provação, enquanto o Herói parece morrer → é o vilão que de fato morre
- Essa morte não pode ser algo fácil, mas algo pelo qual o Herói tenha que se esforçar
- Isso também não significa que não haverá mais Sombras para o Herói lidar
- O mesmo vilão pode retornar ou escapar para outro enfrentamento
- Ao falar do vilão é importante lembrar que alguns são Heróis aos seus próprios olhos
- Um momento escuro para o Herói pode ser um de luz para a Sombra
- O escritor deve conhecer bem a sua história a ponto de poder contá-la até do ponto de vista da Sombra → também dos Aliados e até os NPCs
- Na mitologia clássica os Heróis enfrentam a morte mas sobrevivem graças a alguma ajuda sobrenatural obtida em algum momento da história
- Perguntas da seção
- Qual a provação na sua história? Ela é causada pelo vilão?
- De que modo o vilão/antagonista é uma Sombra do Herói?
- O poder do vilão está canalizado em subalternos ou concentrado?
- O vilão pode ser um Pícaro ou Camaleão?
- De que modo seu Herói enfrenta a morte nesse estágio?
0 comentários:
Postar um comentário