terça-feira, 2 de outubro de 2018

Resenha - A jornada do escritor IV

VOGLER, Christopher. A jornada do escritor: estruturas míticas para escritores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.



OS ESTÁGIOS DA JORNADA
Estágios 5 ao 8

#Estágio Cinco: Travessia do Primeiro Limiar

  • O momento fatídico que separa o Herói em "antes" e "depois" é a Travessia do Primeiro Limiar
    • Via de regra é uma escolha consciente do Herói
    • Normalmente o Herói não aceita os conselhos e presentes do Mentor pra se jogar de bom grado numa aventura
      • O que acontece é que há um turning point, alguma força externa ou acontecimento que marca definitivamente a necessidade de atravessar o Limiar
      • Verdade seja dita que alguns Heróis são lançados à aventura sem muita escolha
  • Neste ponto ele deve encontrar o Guardião do Limiar
    • Via de regra isso é mais um teste para ele poder seguir em frente
    • Ou seja, não é um obstáculo fatal, mas quase uma ilusão 
  • Acontece então a travessia do Mundo Comum para o Especial
    • Nem sempre essa travessia é suave → em muitos casos o Herói despenca
    • Via de regra essa travessia se dá no fim do primeiro ato
  • Perguntas da Seção
    • O seu Herói está disposto a atravessar o Limiar? 
    • Existem forças guardando o Limiar?
    • Quais Limiares você já enfrentou na vida?
    • Na travessia, do que o Herói está abrindo mão? Isso é trazido à tona novamente?

#Estágio Seis: Testes, Aliados, Inimigos
  • Não importa quanta experiência o Herói tenha → no Mundo Especial, tudo é novo
    • As primeiras impressões do Herói tem que destacar o contraste dos Mundos
      • Isso mesmo que o ambiente físico seja o mesmo 
      • A história deve demonstrar que o Limiar foi atravessado, que as coisas são diferentes
  • Este primeiro período no Mundo Especial → testes
    • Os escritores usam esse momento pra ver como o Herói lida com desafios e provas
      • Os testes costumam ser difíceis → mas sem a qualidade de vida-ou-morte
      • Exemplo do cotidiano: Universidade → vestibular pra entrar e depois tem as provas semestrais
      • Em alguns casos os testes podem ser continuação do treino com o Mentor
    • Os testes podem fazer parte da infraestrutura do Mundo Especial
      • Por exemplo um local dominado pela Sombra → armadilhas e capangas
      • A maneira como o Herói lida com as armadilhas é parte do teste
  • É normal que, ao chegar no Mundo Especial, o Herói não saiba em quem confiar → isso também é uma espécie de teste
    • Há a possibilidade de encontrar Aliados → que podem ser companheiros também (ao estilo Sherlock e Watson)
      • Esses aliados mais próximos podem servir de alívio cômico além de assistência
      • Esses personagens podem facilmente vestir a máscara do Pícaro e vez ou outra a do Mentor também
    • Nesse contexto também podem se formar equipes 
      • Pode até ser heróis múltiplos ou um herói apoiado por várias pessoas
      • Pode haver embates pelo controle do grupo também
    • O aparecimento do Herói no Mundo Especial pode chamar atenção de inimigos
      • Pode ser tanto a Sombra quanto os seus servidores
      • Há a figura do rival → não é necessariamente inimigo do Herói, mas sempre quer vencê-lo em competição
  • No Mundo Especial, o Herói tem que aprender as regras do lugar → isso também é um teste
  • Algo interessante → porque o Herói sempre que chega no Mundo Especial vai para os saloons ou tavernas?
    • Metáfora da caça → ao sair da aldeia, os caçadores vão para um local onde tem água, para procurar caça
      • O local de beber água é um local de reunião, de encontros, de observação
      • O bar (ou equivalente) pode ser um microcosmos do Mundo Especial
      • Saloons, boates e outros semelhantes podem ser local de intriga sexual também
  • As cenas neste estágio da jornada são úteis pra que o leitor conheça melhor os personagens
  • Perguntas da seção
    • Qual a diferença do Mundo Especial e o Mundo Comum na sua história? Há contraste?
    • De que modo seu herói é testado? 
    • Ele faz Aliados/Inimigos? Há heróis sem Aliados?
    • Seu personagem faz parte de uma equipe?
    • Como seu Herói reage às regras estranhas do Mundo Especial?

#Estágio Sete: Aproximação da Caverna Oculta
  • Depois de adaptados ao Mundo Especial →  o Herói segue para o âmago dele
    • Nesse ínterim podem haver outros Limiares com seus Guardiões
    • Há certas funções nessa fase de aproximação
      • Rever planos, reorganizar o grupo (até com mudanças de arquétipos)
      • Aqui é possível elaborar melhor um alívio cômico ou romance antes do perigo 
      • Serve também pra criar um senso de urgência → redireciona a missão da equipe
    • Nem sempre a aproximação será sutil → pode haver necessidade de uso da força
  • Alguns Heróis fazem uma aproximação ousada, sem muito preparo antes
    • Heróis confiantes e decididos podem escolher esse tipo de aproximação
      • Em muitos casos, porém, é uma distração para que algum Aliado faça algo
  • De qualquer forma, é bom que o Herói vá ao acontecimento principal de maneira consciente
    • Quando se aproximam da Caverna Oculta, os Heróis devem saber que ali há perigo de morte
      • Por isso o escritor pode desenvolver aqui as complicações dramáticas → reveses desanimadores conforme o Herói se aproxima do objetivo
      • Geralmente são problemas que testam o Herói para fazê-lo seguir em frente e não desistir diante das adversidades
  • Perguntas da seção
    • Na sua história, o que acontece entre a chegada no Mundo Especial e a crise?
    • O conflito cresce ou os obstáculos ficam mais difíceis?
    • Seus Heróis já pensaram em dar meia-volta e desistir?
    • De que maneira o Herói enfrenta os perigos externos? Você está trabalhando também os conflitos internos dele?
    • A Caverna Oculta é um local físico ou emocional? Como o Herói se aproxima dela?

#Estágio Oito: Provação
  • Este é o ponto da história onde o Herói está prestes a enfrentar o temível adversário →  é o amago do que a trama estava construindo até então
    • No estágio da provação deve prevalecer a ideia → o Herói tem que morrer para poder renascer 
      • Este é o ponto alto desse estágio
      • Na maioria das histórias os Heróis parecem morrer e depois renascem
    • A ideia, porém, é que os Heróis não simplesmente sobrevivem à morte → eles voltam transformados, mudados
  • Esse estágio de provação não é o clímax, é uma crise
    • É um dos principais pontos nervosos da história → muitos fios conduzem a esse ponto e saem dele também
      • Ainda que geralmente seja o ponto alto da história → não é o momento maior dela
      • Antes de melhorar, as coisas têm que piorar
  • O padrão é que esse momento de morte-renascimento venha perto do meio da história
    • Mas isso pode variar → embora uma crise central traga uma boa estrutura de tensão
    • Pode haver retardamento da crise → mas cuidado para não criar um meio enfadonho
      • Por outro lado, esse retardo chega perto da Razão Áurea → proporção elegante de 3/5 (muito apreciada na História da Arte)
      • Isso porque deixa mais tempo para preparativos e permite construir lentamente 
    • De todo modo o segundo ato é um trecho longo da história
      • A crise no meio serve como divisor de águas 
      • Ela mostra ao Herói que tudo mudou
  • Na crise de morrer-renascer é comum a figura da testemunha
    • Algum personagem que presencia a morte do Herói e lamenta por ele 
      • Essas testemunhas representam o leitor → que se identifica com a situação
      • Isso tem a ver com a elasticidade das emoções → quanto maior a tensão, maior a euforia que virá depois
  • Em alguns casos a experiência de quase morte não acontece numa única provação → mas numa série delas
    • O que importa é que o Herói não precisa morrer → ele pode ser testemunha da morte ou até mesmo o seu causador
      • O que está em jogo é a proximidade com a morte em si → é o enfrentamento do medo 
      • Lembrando que não precisa ser algo físico → pode ser amoroso também
  • O evento mais comum na provação é o encontro com a Sombra
    • Essa Sombra pode ser tanto um vilão externo quanto interno
      • De modo geral, a Sombra representa os medos e qualidades ruins rejeitadas pelo Herói 
      • Pode ser projetada num processo de demonização
    • Essa polarização serve para testar o Herói e fazê-lo quase falhar
  • De qualquer forma, no estágio da provação, enquanto o Herói parece morrer → é o vilão que de fato morre
    • Essa morte não pode ser algo fácil, mas algo pelo qual o Herói tenha que se esforçar
    • Isso também não significa que não haverá mais Sombras para o Herói lidar
      • O mesmo vilão pode retornar ou escapar para outro enfrentamento
  • Ao falar do vilão é importante lembrar que alguns são Heróis aos seus próprios olhos
    • Um momento escuro para o Herói pode ser um de luz para a Sombra
    • O escritor deve conhecer bem a sua história a ponto de poder contá-la até do ponto de vista da Sombra → também dos Aliados e até os NPCs
  • Na mitologia clássica os Heróis enfrentam a morte mas sobrevivem graças a alguma ajuda sobrenatural obtida em algum momento da história
  • Perguntas da seção
    • Qual a provação na sua história? Ela é causada pelo vilão?
    • De que modo o vilão/antagonista é uma Sombra do Herói?
    • O poder do vilão está canalizado em subalternos ou concentrado?
    • O vilão pode ser um Pícaro ou Camaleão?
    • De que modo seu Herói enfrenta a morte nesse estágio?

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