sábado, 20 de outubro de 2018

Resenha - Ciência Maluca

CASTRO, Carol. Ciência maluca. São Paulo: Abril, 2015.


Esse foi um livro bem diferente. Depois de ler clássicos do terror, um pouco de literatura contemporânea, navegar pela literatura que fala sobre escrever e aprender tanto... resolvi pegar um livro de... como classificar isso? É daqueles livros que a gente lê só pra matar a curiosidade sabe? Porque, no fundo, é um livro sobre curiosidades. Não necessariamente sobre ciência.

A proposta não deixa de ser boa: reunir curiosidades sobre experimentos científicos e descobertas malucas (como aquelas do prêmio IG Nobel). A linguagem é bem despojada e jovial, algumas vezes até chula (especialmente na parte que fala sobre sexo), mas a leitura é muito fluida, com uma linguagem de revistas jornalísticas mesmo. 

O livro fala de laboratórios, experimentos com animais (incluindo o macabro experimento de manter uma cabeça de animal viva sem corpo), vampiros, corpo humano e comportamento humano, até amor e Deus entraram na salada. Os assuntos são bem variados, o que torna o livro ainda mais interessante, numa leitura que não cansa. 

Vale ainda citar que quando a autora fala algo como "cientistas estudaram que...", ela faz a grande gentileza e honestidade intelectual de referenciar. Então, ao final do livro, há todos os estudos citados, com local de publicação, ano e tudo o mais. Só isso já deu uma credibilidade enorme pro livro e deu ainda mais gosto em aprender o que está lá.

Porém, como tudo na ciência, tem muita coisa questionável no livro. Isso me preocupa, sabe? Passa muitas coisas como verdade, porque houve estudos científicos por trás, porém há falácias e estudos, no mínimo, duvidosos. Aponto uma falácia, por exemplo: foram realizados estudos nos EUA demonstrando que Coca-Cola e Pepsi são a mesma coisa. Sim. 

Eles pegaram voluntários e colocaram numa sala pra beber de diversos copos com refrigerante da cor escura. Ao final eles tinham que dizer qual era Coca e qual era Pepsi. Os acertos eram ínfimos, ninguém sabia realmente diferenciar. Qual a falácia disso? Eles partiram do pressuposto que Coca e Pepsi têm a mesma concentração de fórmula em qualquer lugar do mundo. E isso eu sei por fato que não é verdade. A Coca nos EUA tem um teor de glicose menor que a nossa. Tanto é que muitos dos meus amigos lá gostavam de comprar Coca do México, porque ela é mais doce. Pressupostos falsos.

Além disso, são citados estudos sobre comportamento humano realizados na década de 1970! Aí pra tentar reforçar a ideia e mostrar como são reais, a autora cita outros estudos realizados nos anos 90! Gente do céu. Isso é, no mínimo, duvidoso. Depois dos anos 90 houve transformações tão profundas no mundo e na forma das pessoas se comportarem (queda do muro de Berlim, crises financeiras, surgimento da internet, computador, 11 de Setembro, guerras, tanta coisa!) que fica difícil dar credibilidade para afirmativas oriundas desses estudos e dadas como verdades.

E, claro, o livro ataca a ideia da existência de Deus e coloca tantos pressupostos embutidos na parte que fala sobre religião que dá até agonia. Argumentos bem fraquinhos mesmo, que no meu outro blog dava pra desconstruir. Tudo bem, a autora escreve o que quer. Só assusta pensar que muitos lerão isso e terão como verdade simplesmente pela falta do senso crítico. Penso que o trabalho de livros como esse deveria ser "in" não desinformar.

Por fim, foi com tristeza que encontrei ainda alguns erros de grafia soltos no livro e outros de espaçamento. Poxa, uma editora tradicional como essa não poderia ter deixado passar essas coisas. Achei ruim porque já foi o segundo livro contemporâneo (esse é de 2015 e o de Lovecraft é de 2018) que veio com essas edições furadas. 

Não obstante, é uma leitura muito divertida. Algumas seções para que foram feitas pra gente levar o livro pro banheiro e ler entre um movimento peristáltico e outro, haha. Isso, no meu ponto de vista, não torna o livro ruim, só dá uma nova perspectiva. Acho que precisamos de leituras assim também, nem tudo pode ser tão sério. A vida se vive também nos detalhes, não só nos grandes momentos.

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