Acho que eu não deveria escrever essa resenha agora. Talvez eu precise de um pouco mais de tempo pra digerir. Mas sei que é melhor fazer logo enquanto a coisa ainda tá fresquinha na cabeça. Por outro lado, talvez ganhar distância valesse à pena pra colocar as coisas em perspectiva. Ah, mas aí se deixar pra depois minha preguiça ganha. Vamo lá.
Comprei esse livro num sebo nos EUA pelo simples motivo de ele ser um clássico da literatura norte-americana. Uma vez que eu estava nas terras Yankees, que eu procurasse os autores que tornaram aquele povo famoso. Daí eu me deparei com esta belezura aí.
Pra ser bem honesto, pegando o livro na mão agora, eu vejo que é uma edição bem fulerinha, sabe? As páginas são mal cortadas, embora a qualidade do papel seja boa. Mas o livro tem aparência bem frágil e a gente percebe que é uma daquelas edições pra vender barato mesmo. Mas eu entendo: quando um livro desse que nasceu em 1960 permanece até hoje um clássico da literatura, os editores já estão num nível que: "É, vai assim mesmo. Tem problema não." Tanto é que eu comprei um. Oh well.
Bom, eu não sabia o que esperar do livro. O título em si não me ajudou muito [(no português de Portugal a tradução ficou "Por Favor, Não Matem a Cotovia", que é mais literal e ainda melhor do que a tradução para o português brasileiro "O sol nasce para todos" (???)], mas eu segui a leitura, na esperança de que o livro se provasse bom.
Provou.
A melhor maneira de explicar é fazendo um paralelo, nem tão injusto eu diria. A autora Harper Lee é como um Érico Veríssimo dos EUA. "To kill a mockingbird" é uma história carregada de símbolos que apontam para diferentes temas como racismo, classes sociais, moralidade e, principalmente, a preservação da inocência (aqui representada pela "cotovia" ou "mockingbird").
A história é toda contada do ponto de vista da menina Jean Louise (apelidada de Scout -- confesso que este apelido me causou confusão no começo do livro), irmã de Jem e filha do advogado Atticus. Não vou falar tanto da trama, uma vez que já tem até filme sobre isso. Mas o que me interessou foi como a autora fala de uma história tão simples e ao mesmo tempo tão profunda. Tal como Érico Veríssimo o faz.
Veja bem, a história se passa numa pequena cidade do interior do Alabama. Lá não acontece muita coisa, é um lugar paradão. Logo, quando aparece algo fora do comum, isso ganha proporções enormes. E mostrar uma criança narrando tudo isso torna ainda mais interessante. Porque enquanto a narradora não compreende com profundidade o que se passa -- e, portanto, tem dificuldade para explicar, -- o leitor por outro lado entende perfeitamente e se assusta com a profundidade da coisa quando finalmente a compreende.
Apesar de um cenário e trama simples, o livro tem algumas reviravoltas que deixam a gente pensativo. Foi assim até o final (talvez especialmente o final). Eu não quero registrar tanto o enredo porque eu quero esquecer os detalhes. Aí no dia que eu esquecer, vou reler e desfrutar -- ainda que só um pouquinho -- do prazer de conhecer novamente a história e os personagens.
Mas tem alguns detalhes que talvez não tenham me agradado tanto. Como logo no começo da história a gente não sabe direito o que vai acontecer, nem qual é o destino dos personagens na história, cada capítulo se torna uma exploração. Isso aí, dependendo da expectativa do leitor e da sua imersão, pode ser prejudicial à leitura, já que após as pausas na leitura, a gente nem sempre está tão atraído a voltar, porque não tem aquele ímpeto que nos fisga.
Mesmo assim, no fim das contas, a unidade temática da obra é que a torna tão brilhante. A preservação (ou perda) da inocência, com este simbolismo tão singelo com o "mockinbird", é expressa em diferentes momentos do livro, por meio de diferentes acontecimentos, que são apenas reforçados no final. Neste ponto, o livro impressiona pela sua elegância -- e olha que foi o primeiro romance da autora.
Leitura super indicada mesmo. Este livro nunca sairá de moda, porque seu tema perpassa toda a história da humanidade. Espero que não chegue o dia em que as pessoas deixarão de preservar o que é bom. Fica a mensagem:
"Shoot all the bluejays you want, if you can hit 'em, but remember it's a sin to kill a mockingbird." (p. 103)
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