sexta-feira, 13 de março de 2020

Condição biônica

Os dedos encaixaram na entrada da máquina e, ainda que por pouco tempo, tudo estava bem. Tudo era som, tudo era luz... não... tudo era energia. E ali, naquela máquina velha, no beco com fedor de esgoto, tudo era esquecido. Não havia dois homens brigando no barzinho da esquina; não havia duas enfermeiras na porta de uma casa convidando: “Vem, hoje é promoção”; não tinha um verme nas suas correntes sanguíneas. Não. Tudo era energia.

– Tá bom, animal! – o homem suado o cutucou nas costas, tinha um bafo de cachaça. – Já acabou, bora que tem gente na fila!

Então os dedos se desencaixaram da entrada da máquina e, por muito tempo, tudo não esteve mais bem. Ele cambaleou pra trás, sendo logo empurrado. Mas o que estava fazendo ali? Quem eram aquelas pessoas? Por que estavam roubando a sua energia? Hum... mas agora o cheiro da rua voltava, e os sons, e a luz. Sentiu um aperto no peito, uma vontade terrível de chorar, mas não podia. Porque não tinha mais olhos.


• • •

Amanheceu no sofá-cama do apartamento. Não tinha a menor ideia de como chegara lá. Acordou com o barulho do cytron tocando. Quem ligava? O sol entrava pela janela. Sentiu cheiro de vômito. Sua camisa estava empapa da de suor e ele tinha um gosto amargo na boca. Levantou trôpego e pegou o cytron na mesa da cozinha. Sentou-se na única cadeira e com a testa apoiada na mão, levou o cytron ao ouvido:

– Que é? – ele disse, quase num latido.
– Ah, olá, bom dia...

[...] 

Para ler o resto do conto é só baixar DE GRAÇA a antologia da Coverge: Acid+Neon 2.0!!!
Clique na imagem abaixo!!


0 comentários:

Postar um comentário