segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Resenha — Crime e castigo

DOISTOIEVSKI, Fiódor. Crime e castigo. São Paulo: Abril, 2010. (Clássicos Abril Coleções, v. 1 e 2). 


Voltei. Dois meses de desânimo e leitura errante. Mas aqui estou e finalizei a leitura desse clássico de Dostoiévski. Estranho, deve ter sido o primeiro livro que li dele na adolescência. Mais estranho ainda foi ele ter me fascinado à época, coisa que não conseguiu fazer de novo agora. Vamos à resenha.

Primeiro deixa eu falar dessa edição da Abril. Não é o único livro que tenho dessa coleção, mas todos eles têm um ponto em comum pra mim: odeio essa capa áspera. Entendo a ideia dos editores, mas pra mim realmente não colou. O texto é até disposto de maneira agradável, o papel é a bom e a fonte é adequada (ainda mais considerando que dividiram a obra em dois volumes), mas o toque da capa é bem incômodo.

Como o autor dispensa introduções e não nego que sou muito fã dele (já inclusive fiz resenha de outras obras dele como Uma criatura dócil, Noites brancas, Gente pobre, O ladrão honesto e outros contos, O idiota, Notas do subsolo e Os irmãos Karamazovi), vale a pena a gente ir direto pro texto e eu explicar porque essa é a obra dele que menos gostei, embora os críticos a considerem sua obra-prima.

Em Crime e castigo acompanhamos a história do estudante Raskólnikov, que abandonou a universidade por causa da sua situação financeira e de saúde. Vivendo num estado deplorável, ele achou uma solução para mudar sua vida: cometer um crime. O que ele não esperava, porém, era o peso que esse crime traria sobre seu espírito e como isso destruiria-o ainda mais.
Mais tarde compreendi, Sônia, que esperarmos que todos se tornem inteligentes é arriscar-nos a perder muito tempo. Pude, depois, convencer-me de que tal momento jamais chegaria, de que os homens não podeiam mudar, não estando no poder de ninguém modificá-los. Seria inútil perda de tempo tentá-lo. Sim, tudo isso é verdade... É a lei humana... (p. 186)
A princípio, fiquei dividido com o ritmo do texto. Por um lado, noto que Dostoievski não se incomoda com frases longas. Talvez ele fosse um dos últimos espécimes de uma época em que frases curtas não eram necessárias para que livros fossem considerados bons e acessíveis ao público. 

A minha primeira impressão foi de que, uma vez que nos acostumamos com o ritmo de Crimo e castigo, a leitura fica bem mais agradável. A princípio achei-a lenta demais, porém creio que seja apenas reflexo de nossos tempos. Como disse, uma vez acostumado ao ritmo do autor, a história fica (à sua própria maneira) eletrizante.

Porém essa impressão não durou. Não só as frases longas e sem impacto direto na narrativa se tornaram mais comuns, como também o próprio enredo pareceu se perder. 

Na verdade, em alguns momentos me parece que Dostoievski esquece o fio condutor da história e traz várias cenas que me soam mais como "casos de família" do que narrativas que contribuem para o ponto central da história. Aliás, me parece que vários momentos intensos da história sequer se dão com o personagem principal. Certamente os verdadeiros críticos literários terão explicações para isso, mas eu, mero leitor, não fiquei convencido.

Quanto ao tema, bem, não é outro senão o tema central da obra de Dostoiévski: a condição humana. Na verdade, salvo engano Dostoievski era católico, mas me pergunto se ele não leu uma dose cavalar de Nietzsche antes de escrever Crime e castigo, porque em alguns momentos me parece que ele não só retrata a dureza da vida, mas a leva a extremos para reforçar seu ponto (refiro-me à história contada por Marmeládov no começo e todo o desenlace com sua família no decorrer do livro).

Enfim, não dá pra negar que esta é uma obra profunda, que Doistoiévski conseguiu retratar a alma, o espírito abalado de Raskólnikov de uma maneira sensacional. Tendo dito isso, porém, a leitura foi muito chata pra mim. Precisei fazer esforço em vários momentos. O final até anima, os últimos capítulos retomam a narrativa de um jeito interessante; mas pra mim não compensa o livro inteiro. Talvez fosse o caso do editor ter sugerido cortar algumas partes (eita que agora os críticos me crucificam).

Por enquanto, pretendo doar meu exemplar. Triste dizer isso, mas não creio que terei interesse em reler essa obra tão cedo e, quando/se tiver, vou comprar uma edição melhorzinha. Ainda gosto muito de Dostoiévski e ainda planejo ler sua obra completa. Por hora, porém, Crime e castigo não foi a melhor das leituras.