PARTE IV: EXERCÍCIOS, CADERNOS E LISTAS
Na resenha de hoje, Cassill resolve ir pra prática e dá algumas dicas ainda mais diretas de como aplicar tudo que já tem ensinado até então. Antes de seguir, entretanto, vale uma ressalva que ele mesmo disse: "Your waste basket is the right and proper destination for everything you turn out as an exercise." (p. 36). Não se preocupe, apenas treine. Agora sim, prossegumos:
- Descrições
- Pratique descrições → curtas, médias e longas
- Lembre-se que as descrições se tratam de observações → isso implica em optar pelo mais relevante
- Narrações
- Aqui já é o contrário da descrição → não deve focar em detalhes
- A narração consiste em generalizar ou sumarizar um período de tempo extenso
- Cenas
- Pegue uma cena do seu cotidiano e corra pra escrever
- Chegando na mesa, você tem duas opções (ambas válidas)
- Escreva tudo o que você conseguir lembrar: ações, diálogo, aparências, etc.
- Faça uma seleção econômica e traga a essência da cena
- Você deve testar sua capacidade de observação e lembrança: quanto mais treinar, melhor ficará.
- Mas o escritor não deve registrar as coisas igual uma câmera
- Por causa disso → as ocasiões mais valiosas para treinar são aquelas em que o escritor é um personagem e não uma mera testemunha
- Imitação → Não tenha medo de praticar um pouco de imitação
- Não há demérito nenhum em praticar utilizando conhecimento e técnicas já conceituadas
- Quando você imita diretamente um texto escrito, você aprende a identificar o que é válido para ser imitado
- Não dá pra imitar sem compreender bem o que se está fazendo
- Além disso, não há nenhuma obra que não utilize, ainda que pouco, a imitação
- Transposição → este é o nome que Cassill dá para este exercício
- Assemelha-se muito à transposição na Música → tirar de uma tonalidade e colocar em outra
- A ideia inicial é: se um texto está em 1ª pessoa, reescreva-o na 3ª pessoa
- Isto obriga a adaptar diversas coisas no texto
- Mas não é só reescrever → é também justificar as escolhas e ações sem utilizar os insights da personagem que estaria narrando.
- Mas essa é só a ideia inicial → pode fazer transposição de diversas maneiras
- Reescrever uma história triste em forma de comédia
- Reescrever uma história de fantasia como realismo (e vice-versa)
- Pegue um texto, recorte (literalmente!) parágrafos e os reorganize em outra ordem → agora escreva todas as transições necessárias para justificar o texto
- Sobre cadernos (lembrando que Cassill escreveu isso na era pré-celular)
- Os cadernos onde escritores anotam suas ideias deveriam ser como cadernos de pintores
- Não é só um amontoado de palavras soltas
- Mas elas devem estar constantemente sendo reorganizadas e montadas
- Não é qualquer coisa que deve entrar no seu caderno
- Não deve ser "mais ou menos" interessante
- Deve ser como um sonho → estranho e familiar ao mesmo tempo
- Cadernos devem ser pensados como incubadoras de ideias
- Sobre listas
- Em determinado momento, as anotações viram listas → material pré-organizado
- Esse material deve ser constantemente RE-organizado
- Experimentação com diferentes possibilidades
- As listas podem ser de qualquer coisa → lista de verbos numa página, por exemplo
- Esse tipo de coisa pode ajudar a formar o "macrocosmo" de uma história
- No fundo, isto é um exercício de criatividade
O que Cassill está fazendo aqui é apenas instrumentalizando a máxima da qual não temos como escapar: é preciso treinar. Todas estas dicas só serão úteis se as colocarmos em prática. É como ele mesmo diz: "Write something every day, even if it must remain a homeless fragment, doomed to the waste basket. Write it as well as you possibly can." (36)
0 comentários:
Postar um comentário