FITZGERALD, F. Scott. The Great Gatsby. New York: Charles Scribner's Sons, 1953 (?).
Primeira coisa, é que não tem nem perigo desse livro ser de 1953. Está conservado e novo demais, mesmo pra um livro que talvez nunca tenha sido lido. Fui procurar pra ver se descobria de onde vem essa edição fantasma. Porque no livro mesmo só existem duas indicações: que os direitos autorais foram comprados pela Charles Scribner's Sons em 1925 e que esses direitos foram renovados em 1953. É o que temos.
Procurei muito, mas muito mesmo, na internet e eis o que consegui: primeiro, esta edição é uma "book club edition", ou uma "edição do clube do livro". Isso significa que foi uma impressão feita especificamente para alguma espécie de assinatura de livros (não sei estimar com que frequência as pessoas ganhavam os livros). Logo, esta edição não tem valor colecional quase nenhum, sendo a impressão mais barata que poderia haver. Além disso, "The Great Gatsby" não foi o único livro a compor essa book club edition. Na verdade, outros três títulos de Fitzgerald foram incluídos nela.
Pelo meu olhar bibliófilo amador, estimo que essa edição deva ser da década de 1980; mas encontrei um vendedor online que acha que pode datar do final dos 1960s ou 1970s. Vamos pela média e dizer que então esta edição é dos 1970s. Essa busca pelas edições corretas só relembra uma coisa: The Great Gatsby é um clássico da literatura norte-americana.
Eu imagino que este livro deve trazer uma série de lugares-comuns aos americanos, o que o torna muito familiar e atrativo. Mas talvez só a eles. O começo é bem chatinho e me lembra um bocado The Judgment of Paris (fiz a resenha desse aí também). Aliás, é bem chato. E as semelhanças com o livro de Gore Vidal se perpetuam na leitura (com a exceção da escrita não ser tão cativante quanto a de Vidal).
Só começamos a ter mais intimidade com Gatsby la pela página 63 (e o livro tem 159, ou seja, depois de ler praticamente 40% do texto). E, durante a história, é interessante como o personagem se transforma de uma figura enigmática, quase paternal, para uma figura cada vez mais infantil, especialmente no campo amoroso. Aliás, pra ser bem honesto, vai ficando cada vez mais desprezível conforme nos aproximamos do fim da história.
Parece-me haver um pseudo glamour embrionado no imaginário americano que torna atrativo todo tipo de história em que há um desinteressado e descompromissado approach da vida. Festas caras? É, acho que eu vou pra lá. Carros caros em acidentes? Que coisa não. Te encontrar tal hora pra voar no seu aeroplano? Por que não? Isso sem falar dessas conversas da "high society". Argh!, quanta pompa pra não dizer nada. Experiências vazias e perdas de tempo.
Só começamos a ter mais intimidade com Gatsby la pela página 63 (e o livro tem 159, ou seja, depois de ler praticamente 40% do texto). E, durante a história, é interessante como o personagem se transforma de uma figura enigmática, quase paternal, para uma figura cada vez mais infantil, especialmente no campo amoroso. Aliás, pra ser bem honesto, vai ficando cada vez mais desprezível conforme nos aproximamos do fim da história.
Parece-me haver um pseudo glamour embrionado no imaginário americano que torna atrativo todo tipo de história em que há um desinteressado e descompromissado approach da vida. Festas caras? É, acho que eu vou pra lá. Carros caros em acidentes? Que coisa não. Te encontrar tal hora pra voar no seu aeroplano? Por que não? Isso sem falar dessas conversas da "high society". Argh!, quanta pompa pra não dizer nada. Experiências vazias e perdas de tempo.
Há no livro um problema constante: o narrador sem sal. Tudo bem que o livro é sobre Gatsby, mas esse narrador passivo dá agonia. Houve vários momentos que o autor suprimiu diálogos que poderiam muito bem contribuir pra trazer mais densidade ao narrador. Aí ficamos com um narrador que assiste a tudo, sem dar grandes opiniões, sem participar direito dos eventos. Um manézão que vai na onda de todos e, na hora que deveria fazer algo de verdade, só fica parado.
Lendo assim pode parecer que eu sou um viciado em ação, que não gosto de livros mais tranquilos. Porém isto não pode prosperar. Meu autor favorito, Érico Veríssimo, não é um autor de cenas de ação, nada disso. O que eu quero é uma história que carregue a gente pra frente, que não nos deixe imergido num eterno marasmo permeado por alguma curiosidade pelo que vem adiante. Quero livros que engajem. Quero livros em que eu possa me relacionar com os personagens; gente e experiência que, no fundo, reflitam a mim mesmo e me façam crescer.
Teve um trecho aleatório que eu gostei bastante. Não sei dizer se tem algo a ver diretamente com a história, mas é uma descrição muito bem feita. Sabe quando a gente quer falar alguma coisa que está na ponta da língua mas não consegue e esquece? Olha só como Fitzgerald escreveu isso:
No fim, a gente tem uma sensação parecida com a do narrador, Nick Carraway. Ficamos numa nostalgia e ao mesmo tempo familiaridade com tudo o que aconteceu. Só nos resta dizer, como ele:
Teve um trecho aleatório que eu gostei bastante. Não sei dizer se tem algo a ver diretamente com a história, mas é uma descrição muito bem feita. Sabe quando a gente quer falar alguma coisa que está na ponta da língua mas não consegue e esquece? Olha só como Fitzgerald escreveu isso:
"For a moment a phrase tried to take shape in my mouth and my lips parted like a dumb man’s, as though there was more struggling upon them than a wisp of startled air. But they made no sound, and what I had almost remembered was uncommunicable forever.” (p.100)E falando de frases e da própria história, é apenas no último 1/4 do livro que a gente realmente se vê imerso na história. O livro tem apenas 9 capítulos, abrangendo uma história curta, até mesmo simples. É justamente nesta reta final que vemos frases muito bem escritas, como:
"Let us learn to show our friendship for a man when he is alive and not after he is dead, [...]" (p. 151)Nossa e que final marcante. Finalmente. Penso que, no fim das contas, é este final que realmente ajuda a carregar a fama do livro. É muito bem escrito, muito envolvente. Quisera eu que todo o livro fosse assim. Mas estes é um daqueles livros que a gente não se arrepende de ler até o fim. Aliás, já pensou se eu tivesse desistido no começo, por que não havia gostado? Que grande erro teria sido.
No fim, a gente tem uma sensação parecida com a do narrador, Nick Carraway. Ficamos numa nostalgia e ao mesmo tempo familiaridade com tudo o que aconteceu. Só nos resta dizer, como ele:
"Good-by," I called. "I enjoyed breakfast, Gatsby." (p. 136)
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