terça-feira, 17 de setembro de 2019

Resenha - Prêmio SESC/RR de Literatura (2010)

SESC/RR. Prêmio SESC/RR de literatura 2010: poesia e conto. Boa Vista: Forbrás, 2010.


Gostaria de iniciar reivindicando para mim o pioneirismo na resenha deste livro. Até onde tenho notícia (e pela googlada que dei), fui o único a comentar este livro na forma que proponho. Resenha inédita, portanto. Não obstante, tenho algumas coisas a comentar sobre a edição antes de passar para os textos que compõem o livro.

Este livro foi um presente dado pelo escritor roraimense Edgar Borges (autor do Crônicas da Fronteira, Coletivo Caimbé, e o Cultura de Roraima & afins), que, não por acaso, foi um dos premiados nesta edição do concurso literário do SESC/RR. O livro é subdivido de acordo com as categorias dos premiados: Conto livre (autor roraimense); Poesia livre; Conto livre (outros estados) e poesia livre (ensino médio e ensino fundamental). Falarei de todas estas partes adiante.

A começar pela capa, gostei dessa abordagem contemporânea e quase linguística à afirmação do artista: o que falamos, torna-se parte da nossa própria realidade. Por sinal, nesta imagem, há duas pequenas iniciais que me remeteram a um artista local. Dito e feito. Quando vi a ficha editorial do livro, ora se não era o Renato Costa.

Aliás, essa página é deveras inspiradora. Estamos falando de um livro produzido 100% em Roraima. Desde a equipe que fez a seleção dos contos até a impressão dele. Começando de cima pra baixo, conforme a imagem, é com saudade que muita gente lembra do finado Airton Dias, que sempre foi um incentivador da arte roraimense por meio do SESC/RR. No mestrado, analisei esta instituição e é inegável que boa parte da produção artística roraimense foi, por muitos anos carregada pelo SESC. Teve uma época que as pessoas achavam que ali era a Secretaria de Cultura de Roraima. 

Muitos dos nomes listados não me são conhecidos. Até porque, gente, 2010 foi há 9 anos atrás, né? Mas achei bem legal ver o nome do prof. Roberto Mibielli dentre os jurados e saber que a impressão foi feita na própria Forbrás. Agora, uma coisa me deixou em dúvida. Vendo a ficha catalográfica, me pergunto porque um livro contendo algumas preciosidades como as que mencionarei não gerou um ISBN. Penso que não seria um investimento alto e deixaria registrado algo tão único. 

Agora, passando ao texto propriamente dito, na primeira categoria (conto livre de autor roraimense), vejo claramente porque eu não gosto de antologias de concursos literários. Sendo frio: muito joio e pouco trigo. Eu mesmo já queimei textos que eu julguei excelentes em antologias que o primeiro lugar foi tão mal escrito que eu tenho até vergonha de divulgar minha participação.

No caso dessa primeira categoria, o único que se salva é o texto do Edgar Borges, porque está bem escrito e sucinto (talvez sucinto até demais). Porém os outros... o primeiro e o terceiro lugar contêm erros de português (que agora não sei se foram os autores mesmos ou quem digitou) e um enredo mal desenvolvido. De todos, acho que o terceiro era o que tinha mais potencial, porém não soube escrever bem a ideia. 

Então passamos para a poesia livre. Poxa, Edgar, sei que você ficou em primeiro nessa categoria; mas, pra mim, quem brilhou ali foi o Aldair Ribeiro dos Santos com "Solidor". Rapaz, tive que ler mais de uma vez esse poema para saborear cada pequeno aspecto dele. Aldair também é um escritor roraimense não ao acaso, que já fez contribuições até para a revista Ultimato (a que eu mais gosto é essa aqui).

Agora na categoria conto de outros estados. Aff. Por favor. Como aquele conto chegou em primeiro lugar eu não tenho a menor ideia. A premissa é boa. Mas mal escrito. Começou bem, mas do meio pro fim perdeu o pique e desandou. O terceiro lugar, pareceu mais um lirismo em prosa do que um conto propriamente dito. Mas... aquele segundo conto... "A flauta" de André Telucazu Kondo. Rapaz... não é à toa que o cara chegou a ser finalista do Jabuti, né? E, que irônico, não ficou em primeiro lugar neste concurso.

Acho que a única categoria com a qual eu concordei com o primeiro lugar foi Poesia ensino fundamental. As do Ensino Médio, desculpa, foram muito lugares-comuns. "Estrelas de Papel", de Odara Rufino ganhou de lavada. Muito bem escrita e... poética! E também acho que a poesia de Elizângela Souza fechou o livro com chave de ouro. Pra alguém tão jovem... uma bela construção.


Ler antologias e até mesmo revistas literárias é um exercício de paciência. Primeiro você precisa ter alguma munição e bagagem para não achar que tudo que reluz é ouro. Não é só por que um texto ficou em primeiro lugar que ele realmente seja o melhor dentre os que estão ali. E não vá pra extremos: não é tudo que presta, mas também não é tudo que não presta. 

Obrigado pelo presente, Edgar. Pela oportunidade de conhecer um pouco mais da nossa literatura roraimense e encontrar algumas pérolas neste mar de tantos escritos. Pra quem acha que Roraima não tem nada no mundo da arte, está aí uma prova do contrário. E não é qualquer coisa não, viu? Arte de qualidade também se faz aqui no extremo norte do Brasil.

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