domingo, 2 de dezembro de 2018

Resenha - Contos fantásticos: o Horla & outras histórias

MAUPASSANT, Guy de. Contos fantásticos: o Horla & outras histórias. Porto Alegre: LP&M, 1997.


Livros de contos sempre são legais. Via de regra porque nos trazem uma leitura que não é tão cansativa e bem variada. Eu não conhecia Guy de Maupassant, tampouco esperava que ele fosse autor de contos de terror. Não sei se ele sofreu em comparação com Lovecraft ou simplesmente já estou cansado de ler. A verdade é que à exceção do Horla e Carta de um Louco, os outros contos foram "É, é um conto bom".

Maupassant escreve à moda antiga. Mas também, pudera, o cara é do final do século XIX. Vejo muito nele aquele espírito do tempo, de misturar as descobertas científicas com a ideia do medo, por exemplo. Na verdade nem tanto pelas descobertas, mas por conta das incertezas que elas traziam. Há um apego nele por essas ideias de magnetismo, outros planetas e tudo mais, que (imagino eu) era patente ao homem educado daquela época. Ah, ele também tem um apreço por espelhos e sua capacidade de refletir, talvez, aquilo que não queremos ver: nós mesmos. 

Os contos são bons, um ou outro achei meio simplório e há em alguns um caráter enciclopédico que abomino. Abomino, mas compreendo quando deixo de olhar com olhos contemporâneos: Maupassant estava numa época em que nem todos tinham acesso à informação como temos hoje e criar os pressupostos da história seriam necessários para que ela tivesse a eficácia desejada.

Maupassant trabalha muito bem com o medo do oculto, do não-revelado, o não-dito. Penso que nisso ele se assemelha a Lovecraft e explora bem essa psicologia; embora Lovecraft explore mais o "cósmico", Maupassant faz com as coisas corriqueiras do dia, da cidade, de um quarto ou um livro, e isso achei admirável. 

Em "O Horla", por exemplo, encontramos justamente a expressão disso. O conto é realmente muito bem escrito e a gente fica a todo tempo com a incerteza permeando nossa leitura. Embora a construção seja muito boa e seja ainda o marco da literatura de Maupassant, acho que houve um lapso do editor em colocar as duas versões deste conto uma em seguida da outra. Explico.

O próprio autor gerou duas versões deste conto. Em uma é como se fosse um relato médico de um possível paciente louco, no outro são anotações de diários do próprio paciente, contando as coisas conforme elas se desenrolam. Os dois têm seu charme, mas o segundo é bem mais interessante que o primeiro, porque permite desenvolver a trama com parcimônia e a partir do ponto de vista do personagem principal. 

Dessa forma, quando lemos a primeira versão e logo depois a segunda (tal como está disposto no livro) somos roubados um pouco do suspense, uma vez que já sabemos o que vai acontecer. Talvez omitir a primeira versão tivesse sido ainda mais eficaz, porém compreendo a intenção do editor de apresentar ao leitor as duas versões do Horla. Porém, mais uma vez, logo em seguida, a primeira leitura spoila demais a segunda. E a segunda, repito, é bem melhor.

Não obstante, é uma leitura muito interessante, ainda que, como disse, não tenha achado nada excepcional, à parte destes que citei diretamente. É uma leitura mais do que recomendada e bem fácil de ler. Contos curtos, simples e eficazes, a essência da boa escrita literária.

0 comentários:

Postar um comentário