sábado, 10 de dezembro de 2022

Resenha — A pérola

STEINBACK, John. A pérola. Rio de Janeiro: BestBolso, 2007.


Eu não entendo por que há livros que me batem tanto. Não entendo como pode haver uma história tão bem escrita que fica reverberando na minha mente por tanto tempo, mesmo depois que eu já a li toda. É um verdadeiro mistério que eu fique regurgitando e procurando cada pequeno significado escondido em frases, expressões, acontecimentos, linhas, parágrafos. Como pode?
Contam na vila a história da grande pérola [...]. Falam de Kino, o pescador, de Juana, mulher dele, e do garoto Coyotito. E tantas vezes foi contada esta história que se gravou na cabeça de todos. E como acontece com todas as histórias repetidas que ficam no coração dos homens, há coisas boas e más, coisas pretas e brancas, bens e males sem nada no meio. (p. 6)
Eu já havia lido Steinback antes com "Of mice and men" (resenha aqui) e já sabia que o cabra era bom. Foi por isso que encontrei esse livro baratinho na Estante Virtual e aí resolvi comprar. Nossa como valeu a pena. Uma edição de bolso maravilhosa de se ler e de se ter.

A história de "A pérola" é exatamente essa que está na citação aí em cima. O que eu gostaria de chamar a atenção é que o livro encontra-se naquele limiar misterioso na língua portuguesa entre o "conto" e o "romance". Ao mesmo tempo que não é um romance literário (por conta da sua extensão) também não é um conto (por conta da sua extensão). Ou seja, vive no limbo do "pequeno demais pra um livro" x "grande demais para um conto". 

Há quem chame esse limiar de "novela". Mas a verdade é que o próprio termo "novela" já traz tantos significados no português brasileiro que é difícil usar o termo assim. Quiçá uma "novela literária"? Ou uma "noveleta"? Que tal simplesmente "um conto grande pra caramba"? Ou "um livro pequenininho"?

A verdade, porém, é que Steinback consegue escrever pouco e passar MUITO. Pra começar que a sua narrativa é arrebatadora. Já no primeiro capítulo somos fisgados sem dó nem piedade, e não nos resta outra opção senão continuar lendo a história até o fim — que, aliás, não decepciona.

É um absurdo a capacidade do autor em inserir pequenos símbolos no meio do texto sem que eles se tornem supérfluos ou prejudiquem o andamento da história. É justamente o contrário! Ele constrói o cenário ao mesmo tempo em que apresenta os símbolos. Que isso, mano! Que habilidade fenomenal é essa, que elegância no uso da literatura como arte e como ferramenta!

Confesso que terminei de ler o livro me tremendo um pouco. Não consegui desgrudar das páginas e, quando tudo acabou, fiquei me perguntando e me perguntando e me perguntando. Tenho certeza que há muitas coisas que eu deixei passar, simplesmente porque este não é o tipo de livro que você consegue absorver tudo numa lida só. 

Obra que vai ficar bem guardadinha na minha estante, esperando a revisita.

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