Eu nem sei como começar. Li este livro pela primeira vez em 2009, por conta de uma classe na escola. Hoje, praticamente 10 anos depois, tive coragem pra revisitar a obra. Digo revisitar porque, mesmo tendo passado tanto tempo, eu lembrava do final. Eu lembrava da dor. Não lembrava de cada pequeno detalhe, mas conseguia sentir a mesma emoção mesmo sem ler de novo.
Não é à toa, portanto, que um livro desse marcou uma geração e se tornou um marco da literatura no século passado. Até o meu grande mestre Érico Veríssimo considerava Steinbeck um dos maiores escritores do mundo, tratando sempre dessas temáticas que falam da essência da vida e condição humana na terra.
Ah! Fato curioso: "Of mice and men" foi lançado em 1937 e traduzido para o português pela primeira vez em 1940. A tradução veio por conta da editora Globo. E o responsável pela tradução? O próprio Érico Veríssimo.
Bom, voltando à minha leitura. Comprei o livro num sebo e descobri que ele pertenceu a uma estudante de inglês. Obrigado por ceder este livro ao mundo, Valéria Mendes Vieira, que provavelmente ganhou seu livro em 19/02/1982. Como você mesma disse em 27/02/1982, realmente: "Viver é estar em busca de uma constante realização."
Há um charme especial em ver a história dos livros e sua caminhada. Traz um pouco mais de respeito e consideração sobre as coisas. Talvez se fizéssemos o mesmo com as coisas que estão ao nosso redor, tudo duraria muito mais tempo e teríamos mais coisas para mostrar aos nossos filhos e netos.
Eu divago sem necessidade. Isso aqui é pra ser uma resenha. Culpa do livro.
"Of mice and men" é a história de George e Lennie na Califórnia da década de 1930, arrasada pela Grande Depressão. É uma história que fala de temas profundos: sonhos, desilusão, esperança, morte, solidão, o famoso "sonho americano" e as durezas da realidade. Eu peço perdão, mas não vou me aprofundar mais do que isso no enredo. Não posso correr o risco de destruir a beleza deste livro para outros leitores. Amigos, são meras 107 páginas que mergulham com profundidade na condição humana.
Uma vez que eu já havia lido esse livro, resolvi que dessa vez (e pela primeira vez, aliás!) eu o leria com os olhos do escritor. Não ia deixar de desfrutar dele, mas também não me deixaria carregar de maneira tão inconsciente. Por conta disso, ao fim de cada capítulo eu pensava: "O que foi que o autor fez aqui? Por que ele fez isso?"
Disso resultou a pior análise literária já feita deste livro tão magnífico. No meu humilde caderninho de anotações literárias, surgiram alguns questionamentos e até algumas revelações que eu não teria percebido de outra forma (como o fato de Lennie ser o personagem principal e não George).
Essa nova forma de olhar o livro me ajudou a perceber e ficar ainda mais maravilhado com a genialidade de Steinbeck. Ele está fazendo o que eu e Veríssimo mais gostamos: contando as histórias das nossas vidas, histórias do cotidiano: onde as coisas mais fantásticas podem acontecer.
O livro trata de temas sociais de maneira muito clara, mas sem ser "preachy" ou piegas. Essas temáticas foram tão fortes que o livro chegou a ser proibido em alguns lugares por tratar de maneira tão clara algumas dessas questões. Quanto a isso, trago uma única citação, a do negro Crooks (e acho que isso convém, tendo em vista o momento que estamos vivendo, especialmente nos EUA):
'You're lucky' Crooks continued. 'You've got somebody who goes around with you and talks to you. I've got nobody.' (p. 51)
Durante todo o livro eu achava que Lennie era um dos excluídos. Mas isso não era verdade. Esse foi um dos erros que só percebi depois da minha análise. Enquanto Crooks, Candy e a esposa de Curley eram os verdadeiros excluídos, porque estavam sós, Lennie era diferente dos outros. Lennie tinha o George. Desde o começo até o fim. Até o fim. Ele tinha o George.
Meus amigos, a resenha acabou. Foi muito mal feita, porque não falou quase nada do enredo. Mas a verdade é que não tenho ânimo para encarar esse enredo de novo. Preciso de outros 10 anos para me preparar. Porém não encare isso como um desencorajamento: por favor leia esse livro. Ele me abalou, não porque seja ruim ou porque trate um tema mau. É o contrário. Esse livro me abalou pela sua beleza.
Leia-o.
0 comentários:
Postar um comentário