domingo, 7 de junho de 2020

Resenha - As aventuras de Tibicuera

VERÍSSIMO, Érico. As aventuras de Tibicuera. São Paulo: Globo, 1996.


E aí, pessoal? Estamos aí de volta para mais uma resenha. E voltando ainda para aquele que eu considero o grande mestre da literatura brasileira: Érico Veríssimo. Tenho a coleção completa desse cidadão e estou terminando a leitura de todos eles. Por isso acabei me deparando com "As aventuras de Tibicuera".

Eu provavelmente não teria lido o livro se não fosse um fã inveterado e estivesse na meta de finalizar a coleção. Digo isso porque o livro tem uma proposta muito específica e clara: é um livro infantil, de caráter didático. Nele Veríssimo conta a história do índio Tibicuera, desde seu nascimento em 1490 até o ano de 1942. Sim, o índio viveu mais de 400 anos. Isto é explicado na história quando o pajé fala com Tibicuera:
"Tibicuera morre? Os filhos de Tibicuera continuam. O espírito continua: a coragem de Tibicuera, o nome de Tibicuera, a alma de Tibicuera. O filho é a continuação do pai. E teu filho terá outro filho e teu neto também terá descendentes e o teu bisneto será bisavô de um homem que continuará o espírito de Tibicuera e que portanto ainda será Tibicuera." (p. 22)
O grande objetivo do livro em tornar o personagem contínuo dessa forma é simples: contar a história do Brasil. Tibicuera presencia a chegada dos portugueses, a colonização, as invasões estrangeiras, o fortalecimento do Império com a chegada da Família Real, chegando na ascensão da República e seu desenrolar até 1942, ano em que escreve o livro.

A leitura é simples, mas tediosa. O livro é cheio de figuras e tem como característica capítulos de duas páginas, quando muito três. Como tem caráter didático, não há um aprofundamento do personagem Tibicuera, apenas sua inserção em grandes eventos históricos que justificam sua presença pela agenda didática que cumprem.

Sobre este caráter didático, encontrei na internet uma dissertação de mestrado bem interessante, de Ana Lucia Ioppi Zugno, que trata especificamente desse livro na formação pedagógica infantil na década de 1940. O trabalho dela é muito interessante e aponta como o Estado Novo reformava a educação na época e como a obra de Érico Veríssimo foi relevante para isso:
"Ora, quando avaliamos o efeito catártico que Tibicuera oportunizava, indiscutivelmente se explicita o modo pelo qual o governo Vargas pretendia que a sociedade se visse: sua intenção era promover uma identidade, alicerçada numa história comovente já no seu início, e cheia de aventuras de um personagem saudável, atuante e puro, que tivesse em suas ações mais ganhos do que perdas, coroada ainda com um final feliz." (ZUGNO, Ana Lucia Ioppi. Usos da literatura infantil no Estado Novo: o caso de As aventuras de Tibicuera, 2007, disponível aqui.)
É interessante ver a força histórica que teve um personagem como Érico Veríssimo, fazendo na literatura algo muito próximo do que fez Heitor Villa-Lobos na música brasileira. Não é à toa que ambos são grandes mestres que marcaram o Brasil no século passado. Razão mais do que justificada para todo mundo ler Érico Veríssimo com mais frequência.

0 comentários:

Postar um comentário