domingo, 2 de junho de 2024

Crônicas do cotidiano — XV


Veja só, algumas pessoas vão afirmar (e acertadamente, eu imagino) que dentre as tantas opções de lugares nos Estados Unidos, Chicago não é uma cidade boa para se morar. Como disse, elas provavelmente estão certas... mas eu gostei tanto de lá.

É que Chicago é uma cidade americana, não há dúvidas: ela é organizada, limpa até, bem histórica no contexto americano, com todas as lojas, culturas, pessoas tipicamente americanas. Por outro lado, ela é meio zoada. As pessoas que a gente encontra na rua são das mais variadas. O trânsito é meio doido, em alguns pontos ela é mal-cuidada, meio suja. E nisso ela me lembra o Brasil.

Falei isso pro meu amigo George e ele ficou pistola, que Brasil não pode ser sinônimo de desorganização. Mas ele já morou fora e sabe que é verdade, só se recusa a concordar. E fiquei pensativo se o que me lembrou o Brasil foi mesmo a desorganização. Cheguei à conclusão de que não era isso.

Acho que não é a bagunça. Por que viver nos EUA é tão chato? Porque a vida parece artificial. A vida não é limpa e organizada, toda cheia de estrutura, pelo menos não sempre (ou quase nunca). Uma cidade que é sempre "perfeita" não parece humana. Acho que foi isso que me conquistou em Chicago: ela me parece mais humana.


E aí veja você o contraste que faço dela com Minneapolis (na foto acima). Minneapolis é uma cidade "perfeita". Até o mato das esquinas é podado na régua. As árvores todas plantadas com espaçamento perfeito, não se vê um fio de poste nas ruas. Tudo é limpo, organizado. Mas eu nunca vi tanta contradição numa cidade americana como em Minneapolis.

Peguei o metrô e um ônibus ontem pra passear. O tanto de cracudo que eu encontrei tanto no metrô quanto nos ônibus fez eu me sentir inseguro. As pessoas falando alto, rudes, sem nenhuma empatia ou consideração pelos outros. O grama nos canteiros era verdinha, mas o cheiro dentro do ônibus me fez lembrar outro país que não os EUA. 

E fiquei pensando que talvez Minneapolis seja ainda mais humana que Chicago, que ali estão realidades que demonstram mais quem é uma boa parcela dos americanos. Mas enquanto Chicago não quer (ou, mais provavelmente, não consegue) esconder isso, Minneapolis faz um esforço colossal e mascara, maquia, toda uma realidade que é palpável. 

Chega a ser ridículo. Uma parada de ônibus com um letreiro luminoso, indicando quantos minutos faltam para o próximo ônibus. E logo abaixo dela um homem fumando, carregando um saco de tecido com, o que presumo, tratava-se da totalidade de seus bens.

Às vezes, creio que prefiro estar num lugar onde os problemas são visíveis e escrachados do que num lugar onde as pessoas fingem que está tudo bem. No primeiro, talvez ainda haja quem queira olhar para os problemas e resolvê-los, enquanto no segundo muitos vão só fazer vista grossa e olhar para a grama cortada na régua.

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