terça-feira, 21 de março de 2023

Resenha — Peter Pan

BARRIE, J. M. Peter Pan. London: Penguin Popular Classics, 1995.


Novamente dos livros que li há muito tempo e resolvi pegar de novo. Dessa vez um clássico que não é clássico à toa, embora, devo confessar, acho que ele me fascinou mais na primeira leitura do que nessa. E, convenhamos o final é bem inspirador... mas eu me adianto.

Como sempre falo da edição que é um paperback clássico. Aqueles livrinhos com um peso leve que dá pra levar pra qualquer canto e ler sem se preocupar. As folhas amareladas da Penguin Classics são realmente muito boas e agradáveis aos olhos. Sem comentários sobre a tradução dessa vez porque foi em inglês mesmo — o que me surpreendeu, porque encontrei algumas palavras que achei difíceis para crianças (mas estamos falando de crianças de 1911, então vai saber né).

A história em si não tem segredo. É o Peter Pan que todo mundo conhece indo chamar a Wendy e seus irmãos para aventuras na Terra do Nunca. Lá eles têm várias aventuras e lutam contra o terrível Capitão Gancho e seu bando de piratas. 

Em mais de um momento fiquei sinceramente me perguntando se esse livro é para crianças mesmo. O começo me pareceu bem alegórico e até abstrato demais pra uma criança conseguir entender tudo. Falar da Terra do Nunca (Neverland) é falar da mente de uma criança, é uma multitude de possibilidades e ideias, é uma mistura tão bem feita de realidade e fantasia que em vários momentos é bem difícil discernir o que é o quê. E em certo momento, o autor fala diretamente conosco, adultos, ao dizer:
We too have been there; we can still hear the sound of the surf, though we shall land no more. (p. 7)
Ainda nesse tema, uma coisa que sempre me chama a atenção quando leio essa história é como a Tinker Bell é malvada. Além disso, ela nem aparece tanto na história. Ela é bem ativa no começo e depois nem se fala mais nela. Confesso que quando ela voltou perto do fim eu nem lembrava mais que ela existia direito.

Aliás, fadas de modo geral (assim como sereias) não são apresentadas no livro como seres próprios para o convívio com crianças. Em determinado momento uma sereia espera a Wendy desmaiar para então puxar ela para o fundo do lago e afogá-la. Além disso, saca só essa citação aqui sobre as atividades das fadas (escrita em um livro infantil):
After a time he fell asleep, and some unsteady fairies had to climb over him on their way home from an orgy. (p. 75)
A verdade é que o próprio Peter Pan também não é flor que se cheire nem pode servir de modelo algum, nem para adultos nem para crianças. Ele se acha bastante e, honestamente, é o tipo de criança que deve ser insurpotável ter por perto. Ele não liga pra ninguém mais além dele mesmo. Nos poucos momentos que vemos ele se importar com outros, percebe-se que estes momentos são de fato as exceções. 

Há quem argumente que ele não é mau, é que ele só não tem noção das coisas. Mas eu sinto muito, lendo o livro fica bem claro que embora seja possível se divertir com ele em vários momentos, fica evidente que há maldade nele sim.
"Pan, who and what are thou?"
"I'm youth, I'm joy [...]" (p. 158)
Sobre a narrativa em si, achei que o livro ora pendeu pra um marasmo, ora foi bem enérgico. O começo é um pouco lento e mesmo na Terra do Nunca há momentos que a leitura é meio paradona demais. 

Por outro lado, isso contrasta com aqueles momentos em que o livro não nos deixa com muito tempo pra respirar. A ação é muito bem concatenada. Entre as partes lentas, nos animamos com a visita de Peter, uma aventura no meio do livro que serve como um bom filler, e um fim é vertiginoso. No fim das contas uma leitura bem divertida deveras.

E, claro, é inegável que o livro termina com uma nostalgia super envolvente, que faz a gente ter saudade de algo que nunca experimentou — ou, quem sabe, já experimentou sim: a magia infinita de ser criança.

Por fim, é certo que este livro não vai sair da minha estante. Talvez daqui há uns anos eu faça que nem o Peter fez e visite a Wendy de novo. Embora, é claro, ele nem vá se lembrar que eu existo mais. 

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