sexta-feira, 10 de março de 2023

Resenha — A máquina de xadrez

LÖHR, Robert. A máquina de xadrez. Rio de Janeiro: BestBolso, 2012


Estamos de volta com livros da categoria "li-há-muito-tempo-e-embora-eu-lembre-um-pouco-da-história-não-lembro-o-suficiente-pra-me-fazer-querer-ler-de-novo" (nome da categoria ainda pode mudar). A máquina de xadrez conta uma versão ficcionada de uma história real: no século XVIII um cidadão chamado Wolgang Von Kempelen construiu um autômato que, segundo ele, podia fazer o que nenhum outro autômato da sua época era capaz: ele podia pensar. 

O livro é realmente fascinante. Como sempre, cito a edição muito bem trabalhada da BestBolso, que embora não seja pocket book (10x15) traz a agradável sensação de um livro compacto e bem recheado com seus 12x18cm. Confesso que fiquei até com vontade de, quem sabe, talvez, publicar meu primeiro romance neste formato. Parece interessante.

Do meu ponto de vista os tradutores fizeram um excelente trabalho. Honestamente eu nem percebi que era uma tradução, de tão bem feito que ficou — por outro lado, o livro original é em alemão e eu não entendo nadinha da estrutura deste idioma. Por isso, minha opinião aqui não é lá muito bem fundamentada.

A história em si é um blockbuster clássico. O autor fez o dever de casa e produziu uma história bem trabalhada, sem muitas arestas e só umas poucas forçadas de roteiro pra coisa dar certo. O começo, por exemplo, é fascinante. O autor vai direto ao ponto, sem muitas cenas ou diálogos, se vale da narração pra rapidamente situar o leitor e fisgar sua atenção. As cenas são bem redondas, trabalhadas. É fácil notar quando a cena realmente tem um fim natural.

O livro é bem leso em alguns momentos e de repente fica super eletrizante. Toda a construção e encadeamento dos capítulos fazem valer a pena chegar até o final e desfrutar da história. Aliás, depois que termina dá até um pouco de pena, porque deixa o gosto de "quero mais".

Penso que o livro erra em poucos pontos: 1) a história tem uns lampejos de flashback que às vezes me confudem; 2) a leitura não é necessariamente leve, por causa do excesso de descrições às vezes o ritmo é cansativo, muitas vezes precisei parar no meio do capítulo pra continuar depois.

Mas até isso é relativo, sabe? Porque até mesmo os flashbacks que o autor usa, ele o faz de modo a dar pequenos spoilers pro leitor e fazer a gente ficar com a pulga atrás da orelha e se perguntando: "Como diabos a história vai chegar nesse ponto?"

O livro não é cheio de grandes citações, tampouco a história tem grandes significados. Enquanto não chega a ser uma leiturinha barata feito A garota do lago também não é nenhum Dostoiévski. Mas isso não significa que não tenha umas tiradas legais, como essa:
As pessoas deste mundo já falam mais do que necessário, por que deveriam as máquinas aprender a falar também? Máquinas de calar, isto é o que eu desejo às vezes. (p. 77)
Por fim, confesso que logo que comecei a ler o livro bateu um desânimo, porque eu lembrava de boa parte da história. Mas agora, depois de terminada a leitura, tenho certeza de que este é um livro que vai ficar na minha estante, porque certamente ele vale a pena ser lido no futuro. Fica a recomendação.

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