segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Resenha – Os três mosqueteiros

DUMAS, Alexandre. Os três mosqueteiros (adaptação). Cotia: Pé da Letra, 2020.


Ai, gente. Eu sou muito burro. Estou com um ódio ferrenho de mim mesmo agora. Porque eu tive que mudar completamente tudo que escrevi. O que vocês lerão aqui é o que sobrou da rapa. Eu não li "Os três mosqueteiros"! Eu li uma adaptação da obra! Afff. Nossa que ódio. Culpa minha na hora de comprar. 

O grande problema de ler uma adaptação é que todos os meus comentários aqui têm que terminar com um: "mas será que no original é assim?". Existem algumas questões de estilo que acho que dá pra falar com firmeza, mas o resto... putz... vão desculpando aí, mas é o que temos. Vamos ver o que sai.

Já que estou de mau humor, vamos começar dizendo que a revisão foi mal feita, tem vários lugares com erros de digitação e ausência de sinais. A tradução tem uns momentos de gafe, do meu ponto de vista. Mantém um contínuo no trejeito de falar dos personagens mas de vez em quando solta umas expressões que parecem não fazer parte daquele mundo (que nem quando a gente assiste um filme e ouve alguém falar, do nada, "macacos me mordam!").

Esta adaptação é uma mistureba de aventuras. Sinceramente, essa abordagem episódica até não seria tão ruim se houvesse pelo menos uma trama mínima que ligasse todas elas. Não há um ticking clock ou um objetivo claro desde o começo que impulsione a história para frente.  

As aventuras até funcionam de forma isolada; mas quando elas terminam, a gente fica com a sensação de que o livro deveria ter acabado também. Mas não. Ele se prolonga, se prolonga, e perto do fim a gente só quer que acabe logo. Há um encadeamento quase frio de fatos que desenvolvem os personagens muito devagar.

Aliás, que personagens? Somos apresentados às figuras de modo bem descritivo logo no começo e eles ficam nessa superficialidade. Por exemplo, os arroubos românticos de D'Artagnan não contribuem, apenas o tornam mais simplório em vez de desenvolvê-lo. Mas... será que o original é assim?

Bom, pelo menos do estilo eu acho que dá pra falar com alguma segurança, uma vez que tenho algum conhecimento sobre o Romantismo. E ficam claras na obra as questões de honra muito pungentes, de tal forma que sentimos no coração. Tá loco é bonito demais. Coisa que impressiona mesmo. Tem uma tendência ao exagero, mas é bonito.

Agora é interessante notar que ao falar desse Romantismo e das novelas quixotescas que tanto repercutiram na época, falamos também da honra. Mas, enquanto a honra é muito bem trabalhada e (por falta de palavra melhor) honrada, o mesmo já não se pode dizer da moral. Eita, que aí vira o samba do crioulo doido. É a rainha que tem um caso com um duque, é um mosqueteiro que se apaixona pela esposa do cara, é a mulher casada que dá mole pro outro. Vish. Um balaio de gato só.

Por outro lado, não dá pra negar que a narrativa tem seus momentos eletrizantes, dignos das aventuras dos mosqueteiros. É ação e intrigas que vocês querem? Pois tome. Com direito a fuga, lutas, donzelas em perigo e tudo que reza a cartilha romântica. Isso sem falar do gosto pela guerra e a batalha honrada. É bem interessante de se ver. No trecho abaixo, imagine os personagens sorrindo jovialmente enquanto falam:
– Agora está em suas mãos, jovem; talvez nos encontremos no campo de batalha; mas, enquanto isso, seremos bons amigos, assim espero.
– Sim, milorde, mas com a esperança de nos convertemos em inimigos.
– Fique tranquilo, eu prometo. (p. 159)
Olhando com olhos de hoje, porém, me surgem algumas questões pessoais. Vejo, por exemplo, que são histórias onde se mata e morre por muito pouco. Além disso, os cavalheiros tratam como iguais apenas outros cavalheiros, os servos são tratados como pessoas de segunda mão, apesar de todo o esforço que fazem. Se fossem apenas desvalorizados, até dava pra entender (não aceitar, entender). O problema é que eles são até usados e descartados como meras ferramentas para concluir aventuras específicas.

E aqui eu fico com uma dupla questão: 1) será que no original é assim (tudo me leva a crer que sim, porque é coisa da época); 2) será que eu posso olhar com olhos de hoje sem cometer um anacronismo? Eu acho que não dá. Por isso, por mais que essas questões me incomodem, estamos falando de uma Europa ainda na transição para o Iluminismo, então é evidente que muitas estruturas sociais levariam anos para serem modificadas.

No fim da história, apesar das minhas frustrações, eu consigo reconhecer que a obra é boa. Eu não sei, como tenho me desculpado até então, se o original é bom ou não. Posso dizer que a adaptação é mais ou menos. Mas, vejam bem, se eu aqui recomendo a leitura até mesmo dessa adaptação como forma de passar o tempo, avalie o original. Vamos correr atrás... e ler!

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