sábado, 12 de março de 2022

Resenha – Ben Carson

CARSON, Ben S.; MURPHEY, Cecil. Ben Carson. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2002.


Conversava eu com meu bom amigo Craig Chapman, quando, no meio da conversa, ele citou o nome Ben Carson. Eu parei no meio da video-chamada e disse "Ei! Eu conheço esse cara! Olha só, tenho a biografia dele!". Dito e feito, lá estava o livro na estante. 

Eu o lera a primeira vez na época da adolescência, quiçá fim da infância. Eu não lembrava de detalhes da história, mas lembro que gostei do livro, porque achei a história bem interessante. Ora, uma vez que o livro tinha bons antecedentes, por que não lhe dar outra chance? Lá fui eu.

Antes de falar do livro, vamos falar sobre o livro. A começar pela edição. Confesso que nem sei quem é essa tal de Casa Publicadora Brasileira. Só sei que o livro é velho. A cópia que tenho em mãos tem as páginas todas amareladas e é uma brochura normal. Não obstante, a leitura é bem agradável e, pra ser honesto, as páginas amareladas até me ajudam na leitura.

Agora se for pra falar da tradução, devo dizer que infelizmente o tradutor caiu no erro de traduzir. Eu consigo ver as expressões que fazem sentido em inglês, mas que quando traduzidas diretamente quase não têm nexo. Disso resultam, por exemplo, diálogos sôfregos, exatamente aquele tipo de diálogos que eu condeno veementemente na literatura (perdão pelos advérbios).
"– Continuarei fazendo tudo corretamente – respondi bruscamente. – Estarei bem. Não tenho trazido boas notas para casa?" (p. 58)
Na moral, quem fala assim? Ainda mais um adolescente conversando com a mãe. Não, não dá. Claro que depois de um tempo a gente se acostuma; mas, poxa, custava adaptar só um pouquinho pra leitura ficar mais verossímil?

Findados o pré-texto, podemos falar do conteúdo do livro, que nada mais é do que uma biografia do médico neurocirurgião norte-americano Ben Carson. O livro é dividido mais ou menos em três partes: infância e adolescência, faculdade e cirurgias (ou carreira profissional) até 1990, data da publicação do livro nos EUA.

Pegando o gancho da mãe, que citei ainda há pouco, se no começo o autor falou bastante da sua mãe (de modo bem emocionante até), fiquei surpreso em notar que ela não é mencionada quando de sua partida para universidade, já que esse evento é um marco para muitos pais (e talvez eu tenha aí minha resposta).

Não sei se Ben Carson escreveu esse livro ou foi um ghost writer. Seja lá quem for, é muito bom em narração. O encadeamento dos fatos é muito bem trabalhado, ao ponto de eu começar a ler num dia e no outro perceber que faltavam poucas páginas pro livro acabar. Pra ser exato, li o livro em três dias.

Tendo essa questão da autoria em mente, achei interessante que o autor várias vezes diz que não ligava pra posições de destaque, etc, mas o que eu via era ele no parágrafo seguinte se gabando de como tinha posição de destaque e quase um destino manifesto para sua posição de destaque. Ok, ok. É vero que há um limiar difícil entre se gabar e enumerar seus feitos, mas às vezes me parece que ele erra a mão.

Não obstante esses incômodos, é inegável que o livro traz algumas lições bem interessantes. Não sei se conscientemente, mas ter lido esse livro na adolescência moldou muito do que penso. Hoje ao reler me deparo com vários princípios que eu pensei ter adotado por mim mesmo mas agora me questiono se não foram influências desse livro (que nem a premissa "a inteligência supera a força" que vi, surpreso, o Merlin repetindo no filme "A espada era a lei".)

Pra citar apenas uma, lembro da ideia da mãe de Carson de que "se alguém consegue fazer, então você também consegue." Creio que findei adotando isso de maneira inversa e falava pras pessoas: "Se eu consigo fazer, então você também consegue."
"Outro capítulo da minha vida estava prestes a abrir-se e, como acontece frequentemente antes dos eventos transformadores da vida, eu não estava ciente disso." (p. 151)
Hoje lendo com outros olhos consigo ver algumas coisas na vida de Ben Carson que são na verdade coisas que acontecem com todo mundo, como a citação acima (talvez exatamente nesta época que vivo agora ela seja mais verdade na minha vida). 

Além dela, lembro que em determinado momento ele sentiu o baque que foi sair do Ensino Médio e ir pro Superior, quando percebe que na verdade ele não sabia estudar. Foi exatamente o que aconteceu comigo também na época da universidade.
"Jamais descobrimos porque Jennifer morreu. A operação foi bem-sucedida. Nada na autópsia mostrava que algo havia dado errado. Como às vezes acontece, a causa da sua morte permanece um mistério." (p. 189)
E eis a sina do médico. Apesar da nossa inteligência e criatividade (dois traços bem marcantes da história de Ben Carson), ainda temos que lidar com o que há de mais essencial na vida. Até mesmo o adventista de sétimo dia neurocirurgião. 

No fim das contas não é um livro que eu pretendo doar (atual destino de todos que não gosto muito), porque a leitura é interessante e, bem, creio que daqui a uns 10 anos minha memória não estará melhor do que agora, então talvez será uma boa surpresa encontrar o livro na estante e desprender algumas horas numa leitura agradável.

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