sexta-feira, 24 de junho de 2022

Resenha – Babel

McPHERSON, Brennan. Babel: The Story of the Tower and the Rebellion of Man. Sparta: McPherson Publishing, 2019.


Ai ai. O que aconteceu foi o seguinte. O autor, no seu primeiro livro, foi ele mesmo. Quando ele escreveu Cain (resenha aqui), ele foi honesto consigo mesmo, ele escreveu a história que ele queria escrever: fantasia aplicada à ficção bíblica. A ideia foi genial, eu amei. Tanto que achei que valia a pena continuar lendo as outras obras do autor.

Porém, houve um problema de opinião pública. Embora muitas pessoas tenham gostado do livro, várias outras fizeram críticas e não quiseram aceitar a abordagem que ele fez (mesmo que a abordagem não tivesse NADA de heresia ou coisa do tipo, era puro preconceito). 

Verdade ou não, o autor se deixou abater pelas críticas. Quando chegamos no seu segundo livro, Flood (a história do Dilúvio, resenha aqui), nos deparamos com um autor tímido, um livro cheio de falhas e sinceramente bem cansativo de ler. O autor praticamente abandonou a fantasia. 

Aqui em Babel, terceiro livro do autor, ele começa, ainda timidamente a voltar à fantasia. Mas é realmente uma pena que ele não abra seu coração novamente e se deixe levar pelo seu próprio instinto. Também neste livro não consigo dizer que tive um tempo proveitoso. O trauma dele foi tão grande que, depois de um tempo, ele tirou Cain de circulação e o trocou por Eden (resenha aqui), onde ele parece ter aperfeiçoado o equilíbrio desejado entre fantasia e ficção bíblica (embora, do meu ponto de vista, em Cain isso já estava bem estabelecido).

Bom, falemos então dessa história. Aqui temos novamente Noé como protagonista, uma vez que ele ainda estaria vivo nos tempos da famosa Torre de Babel. A história navega entre a família de Noé (Sem, Cam e Jafé) e outras pessoas que ele encontra no meio do caminho. É difícil dizer qual é o problema principal da história, uma vez que nem o autor parece ter isso muito claro. Basta dizer que há um racha entre Noé (profeta do Altíssimo) e Cam, que se proclama profeta do Satanás (no livro o nome é outro), sendo que este último resolve construir uma Torre como templo a este último.

A história já começa um pouco conturbada, um problema semelhante ao que vi na segunda parte de Cain, quando o autor joga muitos personagens na nossa cara de uma vez e não nos dá tempo pra nos familiarizarmos com eles. Ainda no começo, a ação de Cam no meio de tanta coisa importante acontecendo ao mesmo tempo tenta trazer algo de épico, mas não tem espaço pra isso e só resulta em uma sensação de bagunça. Tem horas que acho que tem personagens demais e isso atrapalha o leitor.

Em vários lugares o livro é preachy. Por mais que seja ficção cristã, não significa que é necessário fazer um sermão cristão na fala dos personagens. As verdades sempre são mais profundas (sejam elas religiosas ou não) quando são demonstradas, e não somente ditas. Entendo o esforço do autor em mostrar o lado espiritual dos personagens observando o que acontece em suas vidas e interpretando de acordo com a vontade de Deus. Muito legal, mas simplesmente não funciona assim e, por isso, soa novamente preachy e pouco verossímil. 

Assim como aconteceu em Flood, a tentativa romântica no meio do turbilhão não me convenceu nadinha. Não que não possa haver amor em meio a tribulações. Mas eu, como leitor, preciso ser convencido de que isso é possível! Pequenos gestos e algumas insinuações não são suficientes.

Alguns personagens secundários me soam meio rasos, sendo maus só porque são maus (tipo capangas de vilão em filme). Além disso, uma coisa que me incomodou foi a total desconsideração pela jornada do herói que Noé passou no livro anterior. Flood. Aqui em Babel várias características que ele ganhou simplesmente somem, sem explicação convincente pro retrocesso dele. 

Ainda nessa questão do protagonista, sinto que em alguns momentos a trama sofre da síndrome do duplo-personagem-principal. Tem horas que parece ser Noé, tem horas que parece ser Arã. Não há problema em haver mais de um, mas os arcos precisam ficar claros porque senão o leitor não sabe em quem prestar atenção e qual história realmente importa. 

Conforme o livro caminha pro fim, vai perdendo qualidade. A sequência final de eventos me soa mecânica e quase infantil. Noé se torna insuportável de ler. Tudo que ele fala é preachy e ele tem um complexo de messias que é de dar nos nervos. Se algo da errado, é porque ele não fez algo que deveria ter feito e por isso, oh, toda a humanidade está condenada. Então, agora, é seu dever restaurar a todos e salvar o mundo... Mano, não é tudo sobre você meu camarada.

Mas se nem tudo na vida são flores, nem tudo na vida são espinhos também. Embora eu tenha severas críticas, isso não quer dizer que acho o livro totalmente descartável e vejo sim alguns bons aspectos. Pra começar, não dá pra negar que mais de uma vez fui envolvido pela narrativa e me senti imerso naquele mundo (o que, pra mim, deve ser o propósito maior de qualquer livro). Além disso, o autor tem sacadas bonitas que valem a pena registrar, como essa:
But all men have a heart that beats to the rhythm of pride. (p. 68)
Some-se a isso os momentos em que o autor abraça novamente a fantasia na história. Creio que estes são os melhores momentos do livro. Só acho sinceramente uma pena que ele não tenha feito isso em toda a história. Ainda tenho mais um livro pra ler dele, Abram, e espero que, pelo menos nesta última, eu consiga ver alguma redenção. Dá pena, porque sei que o cara é bom, só precisava... 

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