quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Resenha – Verissimo Antológico

VERISSIMO, Luis Fernando. Verissimo antológico: meio século de crônicas, ou coisa parecida. Rio de Janeiro: Objetiva, 2020.


Eu não ia, mas vou contar esse livro como lido sim. Ora, não tenho culpa se ele é uma bíblia e interminável. Afinal, são 50 (eu disse cinquenta) anos de crônicas e contos. Se eu, Gabriel Alencar, Escritor ao Acaso, produzi algo em torno de 600 microcontos ao longo de dois anos, que dirá um monstro como Luís Fernando Veríssimo.

A verdade é que fiquei tão contente de ganhar esse livro direto das mãos do autor (contei essa história aqui), que resolvi lê-lo de uma sentada só. Eis o grande erro. Este não é um livro para ser lido assim, eu diria até que não é um livro para ser lido, mas consultado. Resultado: fiquei mais de dois meses lendo ele, nem terminei e ainda perdi o pique da leitura.

A obra gigantesca de LFV é dividida no livro conforme as décadas em que ele as escreveu, começando em 1970 e indo até os 2010. Uma coisa que é bem fácil de notar é a crescente ironia do autor conforme o tempo passa. Na verdade, talvez cada vez mais um realismo duro e cruel disfarçado de humor (ora, mas não é isso o humor?).

Este é um tópico que merece destaque. Luís Fernando Veríssimo foi praticamente o autor que inseriu a categoria de humor como "literatura séria" no Brasil. Antes, este gênero era excomungado a anedotas de escritores fracos, sendo os capacitados mais voltados à "alta literatura". Conheci até um grande jornalista que uma vez disse: "O que diabos aconteceu com esse cara?", referindo-se, claro, ao contraste com a obra de seu pai, Érico Veríssimo.

Outro destaque é para as próprias crônicas do autor. Seriam elas mesmo crônicas? Mas que crônicas são essas que acontecem com personagens? Ah, então são contos. Mas... pera... essa aqui não parece ser um conto... Pois é. Luis Fernando Veríssimo tornou-se um mestre de escrever esses textos simples e envolventes que a gente não sabe nem classificar.

Que a família Veríssimo é parte da minha história, isto já contei aqui também. E por isso não posso deixar de gostar do livro e de recomendar a leitura, muito embora agora eu reconheça que a leitura deva acontecer com parcimônia. Programe-se para ler ao longo do ano, talvez; quiçá intercalando após uma leitura pesada. Garanto que haverá material.

Não tem como não se admirar com a obra do cara. Um dia, quem sabe, chego também a meio século de escritos – isto é, se algum deles prestar o suficiente pra sobreviver ao teste do tempo, né? 
Veremos.

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