segunda-feira, 1 de março de 2021

Crônicas do cotidiano – XI

Eu acredito que existem momentos que devem ser vividos, sem que precise registrar com fotos. Hoje eu tive um desses momentos. Porque hoje foi o dia em que conheci Luis Fernando Veríssimo.

Conhecer é modo de falar. Quando a gente lê um bocado do que alguém escreve, a gente conhece um pouco sim da pessoa (um pouco, eu disse). Este trecho estará registrado também no meu diário de viagem, mas, por enquanto, eu preciso garantir que minha memória não vai me trair. Apesar de não ter nenhuma foto, eu preciso registrar esse momento na minha vida.

Era algo em torno de 15:30 quando chegamos na porta da casa. No carro, eu não tinha certeza se teria coragem de descer. Sinceramente, ainda bem que a Lyssa estava comigo para dar aquela força moral.

Descemos do carro. Um muro com trepadeiras e um portão de ferro pequeno nos separavam de duas mulheres que conversavam na pequena varanda. Eram mãe e filha, descobrimos logo em seguida (esposa e filha de Luis Fernando Veríssimo). Elas nos viram chegando e eu tirei coragem sabe Deus de onde pra dizer:

– Boa tarde, aqui é a casa do Luis Fernando Veríssimo?

Mal pude acreditar na simplicidade e na recepção dessas pessoas. Não fosse a pandemia, tenho certeza que estava até agora na cozinha deles tomando um café e proseando sobre a vida. Quem diria, são gente como a gente.

A porta da casa tinha uns ladrilhos que me chamaram atenção desde o começo. Os tijolos aparentes, o verde, as flores... será que é clichê demais falar que: "Tem cara de casa de artista mesmo"? Acho que é. Mas só de pensar que naquela casa morou Érico Veríssimo, que ali ele recebia os outros artistas, folheava seus manuscritos...

Talvez tenha sido isso que me deixou tão emocionado. Acho que nunca eu chegarei tão perto daquela família quanto naquele momento. Finalmente minhas influências literárias, minhas inspirações, meus heróis ganhavam corpo e forma. Não eram mais letras no papel, eram gente, eram vida.

Como pode ser que gente de tão longe tenha tanta influência sobre nós?

Olhando pra trás, quem ler meu primeiro conto ("Um dia de chuva") vai ver que o estilo é uma cópia descarada daquelas crônicas e contos de Luís Fernando Veríssimo em livros como "Comédias para se ler na escola". E isso sem falar de "Personagens não bíblicos e suas histórias", cuja influência de Érico Veríssimo não é apenas reconhecida, como também incentivada.

No fundo, só acho uma pena que esse momento tenha durado tão pouco. Foi o que conversamos lá na porta, separados pela grade, pela distância, mas unidos pela simples vontade de estarmos juntos: é a desculpa pra voltar outra vez.

Obrigado por me receber, Luis Fernando e família. Na próxima vez, eu levo paçoca, vocês vão adorar.

0 comentários:

Postar um comentário