quarta-feira, 30 de junho de 2021

Resenha – A senhora do trílio

BRADLEY, Marion Zimmer. A senhora do trílio. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.


Sabe quando você se arrepende do tempo que perdeu fazendo alguma coisa? Pois é, foi assim que me senti quando terminei esse livro. Já tendo lido todos os outros da série Trílio, eu sabia que não deveria esperar muita coisa; mas, putz, foi o fundo do poço.

Depois de vencer o preconceito peguei o livro. Tudo já começa errado. Esse livro foi escrito antes do Trílio Celeste e simplesmente ignora tudo que aconteceu naquela história. É como se o leitor tivesse sido transportado para uma realidade paralela onde nada aconteceu e ele tem que se satisfazer em ver novamente a arquimaga Haramis se comportando feito uma adolescente numa história sem pé nem cabeça.

Isso sem falar no começo muito abrupto da história. A criança (moça de 12 anos de idade) vê seu amigo de infância ter a cabeça arrancada e no momento seguinte está viajando e se aventurando animada nas ruínas da cidade perdida. Gente, que isso? Pra piorar: essa é uma constante do livro. Coisas sem sentido a torto e à direita.

Clichês e mais clichês. Diálogos explicativos desnecessários, cenas totalmente descartáveis, personagens ora super maduros, ora pueris. Até a própria arquimaga tem comportamentos que não fazem sentido às vezes. A autora introduz temas do nada e depois os deixa morrer no parágrafo seguinte como se nada tivesse acontecido.

Chamado à Aventura fraquíssimo, um festival de simplificações, personagens-tampão e um calhamaço de "contar" em vez de "mostrar". Sinceramente, eu devia ganhar um prêmio por ter aguentado esse livro até o fim. A autora sequer se deu ao trabalho de criar um nexo que desse unidade à história do começo ao fim, foi simplesmente jogando as coisas e empurrando com a barriga.

Caramba, será que isso era uma época onde ainda não havia pipocado autores de fantasia e por isso os poucos que havia faziam sucesso? É a única explicação que posso encontrar pra um livro tão fraco como esse ter ido tão longe. O meu chute aqui é que: 1) o livro só vendeu porque a autora já tinha outras produções de sucesso; 2) a autora não queria escrever isso e foi obrigada.

Os heróis não tem inimigos, não têm um objetivo definido, não têm uma jornada. A gente só vê eles sorrindo e pululando em aventuras e desenvolvimentos pífios. Fica bem claro que eles não correm perigo, a gente não tem como se preocupar com eles ou engajar com seus problemas. Já vi livros infantis pra bebês com mais estrutura do que essa porcaria.

Não vou entrar em detalhes como a sucessora da arquimaga, Mikayla, ser uma jovem de 12 anos e ter um comportamento totalmente incondizente; não vou comentar a hora que ela resolve se unir a uma Seita maligna sem sequer perguntar quem são eles; não vou falar do abutre albino que ela encontra do nada e que serve de transporte pra ela por conveniência; não vou falar dos feitiços que envolvem lágrimas e sangue e ela executa como se fosse passar manteiga no pão; não vou falar do sacrifício estúpido e gratuito que ela poderia simplesmente ter ignorado e seguido com a vida; e isso tudo sem falar dos inuendos sexuais gratuitos que a autora traz à tona e ignora no parágrafo seguinte. Em suma, não vou falar sobre com minúcias sobre as imbecilidades que esse livro tem, porque eu, ao contrário da autora, respeito o tempo do meu leitor e quero que ele ganhe alguma coisa com sua leitura.

Só o que posso fazer, novamente, é ficar abismado com o fato deste livro ter chegado a estantes de tantos lugares. Uma clara jogada de nome e fama, não de conteúdo. Esse livro vai pra doação por falta de opção, porque é tão ruim que minha vontade era jogar fora.

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