quarta-feira, 23 de junho de 2021

Resenha – É todo um processo...

NOVA, Duda Vila. É todo um processo...: histórias de um judiciário que você não vê na TV. Alagoinhas: UICLAP, 2021.


Este livro representa pra mim exatamente o estado da arte dos novatos escritores brasileiros contemporâneos: excelente premissa, péssima execução.

A começar pela premissa: causos dos bastidores do Judiciário brasileiro. Excelente! Quem não gostaria de ouvir o que acontece por trás dos panos? Que histórias esse pessoal não deve ter pra contar sobre juízes, advogados, e outras personalidades do mundo jurídico? Interessante, quero ouvir!

Execução: em vez do autor ser honesto e simplesmente dizer o que quer falar (as histórias), não. Ele resolve criar cenas, inventar personagens e tentar nos familiarizar goela abaixo com eles pra então contar o que realmente interessa: os causos.

Cara, ninguém quer saber do personagem. Ele é praticamente uma nota de rodapé. O autor perde muito tempo caracterizando as pessoas, enchendo os contos com novos personagens a torto e à direita, só pra lá no final chegar no âmago da questão, que era o que realmente importava desde o início. Até em histórias em que o personagem é bem importante, o autor perde um horror de tempo contando vários detalhes inúteis da vida egressa ou então gastando linhas com caracterizações totalmente descartáveis para o enredo.

Foi uma verdadeira luta conseguir ler o livro até o fim. Já no primeiro 1/4 tava com raiva do tempo que o autor estava fazendo eu perder. Era possível pular vários e vários parágrafos sem que isso afetasse em absolutamente nada a compreensão do texto ou a "familiarização" com os personagens. Histórias que tinham tudo para ser boas como o "Dormientibus...", acabaram sendo perdidas com a necessidade de criar toda uma situação pra uma personagem, que no fim das contas nós descartamos logo em seguida.

No conto "Jandira", eu até entendo a opção do autor por colocar um "caboquês" no texto. Mas ele cai no erro do exagero. Quando colocamos regionalismos no texto ou coloquialismos, isso tem que ser feito com cuidado, porque senão emperra a leitura. A gente já entendeu que a personagem é uma mulher simples e pouco letrada, não precisa forçar o diálogo com essa grafia maluca. O leitor não precisa ser lembrado de absolutamente cada detalhe do texto, ele (no caso eu) é inteligente o suficiente pra montar a cena na própria cabeça.

De longe o melhor conto foi "O crime não compensa". Não porque ele seja bom em si, mas é que, comparado com os outros, ele foi o que chegou mais perto de ser uma história interessante de ler, que foca no que acontece nos bastidores, nos causos mesmo, e não na perda de tempo em situar cenas.

Existe, tranquilamente, muita coisa que dá pra cortar. Excessos como definir o ano e modelo do carro, destacar minutos e segundos, trazer à tona minúcias que são totalmente desprezíveis tanto para entender o personagem como para fazer o enredo caminhar. Só enche o livro e as páginas, perdendo tempo.

Sobre a edição em si, não há muito o que falar. Autores independentes brasileiros não têm condição de fazer nada lá muito elaborado (eu incluso), então dá pra perdoar. Mas na capa penso que foi erro do autor colocar seu nome em preto com fundo escuro, quase não dá pra ver.

No final, a última página tem o currículo do autor. Pelas publicações que ele tem em seleções que eu sei que são difíceis, não posso dizer que ele não tenha capacidade de escrever coisa boa. Só sei que, neste livro, não teve muita coisa para me acrescentar. Perdi meu tempo e desde já informo que o livro está disponível para doação.

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