sábado, 3 de junho de 2023

Resenha — Pax Romana

BALBÁS, Yeyo. Pax Romana. Barcelona: Roca Editorial de Libros, 2012.


Este é oficialmente o primeiro livro em espanhol que leio. Uma obra com pouco mais de 600 páginas recheadas de uma ficção história magistral. Este livro é, de fato, uma obra prima da ficção histórica de um jeito que eu ainda não tinha visto. Acho que é o tipo de ficção histórica que eu mesmo gostaria de ter sido capaz de escrever. Vamos à resenha.

Comprei este livro em 2013, quando em intercâmbio na Espanha. Salvo engano, eu estava no aeroporto de Madrid, com alguns Euros ainda no bolso que eu precisava gastar, porque se eu voltasse para o Brasil com eles, os mesmos não teriam utilidade nenhuma e eu ainda sairia perdendo se resolvesse fazer o câmbio de volta para Reais. Por isso, foi numa dessas livrarias de aeroporto que eu peguei esse livro aleatoriamente.

Literalmente 10 anos se passaram com esse livro parado na estante. Ocorre que eu até tentei ler ele antes, mas meu nível de espanhol não estava bom o suficiente para que eu pudesse de fato acompanhar a história. Não sei o que aconteceu em 2023 que meu espanhol melhorou e eu finalmente consegui apreciar essa belezura de livro.
En fin, los hombres pueden tener distintas facciones y la piél más o menos oscura, pero la estupidez es universal. (p. 53)
Como já comentei, essa é uma obra-prima da ficção histórica, onde o autor retrata o cotidiano da vida de soldados legionários romanos em meados do século I. Como o autor é espanhol, ele ainda teve a sacada genial de retratar essa história durante um período formativo bem importante para a história do seu país: as Guerras Cantábricas.

O tanto de pesquisa que esse cara fez pra escrever esse livro não está no gibi! É uma monstruosidade de conhecimento para saber detalhes de como funciona não só uma legião romana, mas como as pessoas viviam em Roma, como eram as relações, quais eram as intrigas políticas que permeavam aquela república corrupta e falida, como se tratavam os diferentes graus hierárquicos, como era a vida de escravos, mulheres, crianças, pobres, ricos, estrangeiros... meu Deus... só por ser capaz de reunir tanta informação num livro sem que ele seja chato, o autor já provou sua capacidade.

A história que acompanhamos aqui é de Marco, um jovem romano do bairro pobre de Subura que é adotado por Vitruviano, um grande arquiteto romano, que o ensina o ofício. Marco então vai parar na IX Legião Romana como mensor (uma espécie de engenheiro militar) e ali participa das campanhas militares de invasão à Cantábria (mais ou menos a região norte do que hoje é a Espanha). 

A narrativa é sensacional, cheia de excelentes e inesperadas reviravoltas; os personagens são muito bem trabalhados e todos têm motivações e objetivos muito fortes e claros; as descrições não são cansativas, pelo contrário, são na medida para deixar a gente curioso; os diálogos também são bem trabalhados, não deixando espaço para aquele formalismo besta que tanto permeia a ficção histórica e ainda abrindo espaço para trabalhar conceitos como a retórica romana importada da Grécia antiga.

O livro é cheio de ensinamentos e citações que vêm, de fato, dos romanos antigos. Propositalmente, trouxe apenas aquela citação acima para o meu próprio benefício. É que esse livro é tão legal e cheio de citações tão boas, que não quero registrá-las aqui. Quero dar à minha memória a chance de esquecer o máximo possível para que, daqui a alguns anos, eu possa revisitar essa obra e ler de novo. 

A vontade mesmo agora é adquirir todas as obras desse autor, porque ficou mais do que evidente aqui que o cara escreve bem. O mais chocante pra mim foi saber que Pax Romana tratava-se de seu primeiro romance. Oloco, cara bom demais.

Em suma, livro bom, história boa, autor bom. Vale a pena ler.

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