[...] naturalmente, Bocage, quando tomava carraspana, descompunha os médicos.— C'est trop fort! bocejou Augusto [...] (p. 9)
Esse intelectualismo que sempre permeou os clássicos foi exatamente o que sempre me afastou deles. Não porque eu (ou outros leitores) não tenhamos capacidade intelectual de entender ou degustar, mas porque é uma leitura feita para uma casta, cheia de rodeios, citações em idiomas estrangeiros e referências que só não são obscuras pra quem tem todo o tempo do mundo pra ler poetas arcadistas.
A história não caminha de fato para frente, mas é permeada por uma sucessão de anedotas que poderiam ser facilmente reduzidas a poucas linhas (e olhe lá – por mim cortava era tudo). Aqui acompanhamos a história de Augusto, um estudante de medicina, que finda se apaixonando pela irmã do seu amigo Fabrício – trata-se de Carolina, a Moreninha –, por ocasião de uma visita que faz à casa da avó de seu amigo.
Outra coisa que incomoda é que é tudo um conto de fadas, um mundo alheio e abstrato. Não que literatura deva tratar apenas do que é real apenas realisticamente; mas é que, mesmo na fantasia ou ficção, é preciso que o leitor se relacione ou se identifique com os personagens.
Talvez isso tivesse sido realidade para o século XIX. Porém, ainda assim, creio que, se o fora, então o foi apenas para uma parcela da população. O distanciamento é tão grande que não parece que estamos lendo uma história, parece que estamos lendo um relato de acontecimentos tão somente. É chato porque é distante, bem distante de nós.
Em mais de uma ocasião me pareceu que o verdadeiro apelo do livro está no seu erotismo nem sempre tão velado. No começo da história, por exemplo, lemos a seguinte descrição que o amigo de Augusto, Fabrício, faz de uma de suas primas:
A mais moça tem um ano de menos: loira, de olhos azuis, face cor-de-rosa... seio de alabastro... dentes... (p. 11)
Pobre Augusto!... não te chamarei feliz!... ele vê a um palmo dos olhos a perna mais bem torneada que é possível imaginar!... através da finíssima meia aprecia uma mistura de cor de leite com a cor-de-rosa e, rematando este interessante painel róseao, um pezinho [...] não foram beijos o que desejou o estudante outorgar àquele precioso objeto [...] (p. 73)
Em amor a imaginação é tudo: é ardendo em suas chamas e elevado nas asas de seus delírios que o mancebo se faz poeta por amor (p. 16)
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