AEROPORTOS - III
Dessa vez não é tanto sobre aeroportos, mas sobre as coisas que as viagens em aeroporto nos proporcionam. É que pousei em Chicago e tive a oportunidade de ver a cidade pela janela. Uma reflexão se formou na minha cabeça.
Tenho um fascínio por pessoas e relações humanas. Acho muito interessante pensar na complexidade da vida e como cada vida é uma miríade de possibilidades, sonhos, vontades.
Lembro que foi no começo da adolescência, quando pegava ônibus para visitar a Biblioteca pública de Roraima. Eu estava cansado, tive que andar bastante, estava quente, mas pelo menos eu estava indo pra um lugar com ar-condicionado. E de repente eu olhei para o ônibus lotado e tive a súbita realização de que todos ali tinham uma vida tão complexa quanto a minha. A senhora gorda do meu lado estaria indo pra onde? Aquele jovem com a bola, vai jogar em que praça? Aquele homem olhando pela janela com ar cansado, no que estaria pensando?
Desde então, não tive escolha senão contemplar as pessoas como muito mais que simples seres humanos, mas como verdadeiras vidas. Engraçado que foi justamente nessa época que se intensificou minha paixão por Érico Veríssimo, o autor que melhor capturou a essência da vida brasileira nos seus livros.
Tudo isso pra dizer que foi ali, olhando pela janela avião e contemplando a imensidão da cidade de Chicago, que tive novamente a mesma realização. Olha o tamanho desse assentamento humano. Centenas, milhares de pessoas. Quando na história teria se pensado em metrópoles tão grandes e complexas?
Via os carrinhos pequenos nas ruas, as casinhas que pareciam até de brinquedo, e não consegui evitar o pensamento, a curiosidade de conhecer as vidas que estavam dentro daquelas casas. Que dramas não se desenvolveriam naqueles espaços? Sorrisos e choros. Orgulhos e decepções. Naquela casa mora um idoso doente e solitário? Uma família com pais e filhos? O homem naquele carro está indo pra casa, pro banco?
Tantas possibilidades e, ao mesmo tempo, todas elas reais. Pessoas que vivem, que enfrentam problemas, dúvidas, pequenas e grandes alegrias. E pensar que era um país diferente, com pessoas diferentes, vidas diferentes. Mas, ainda assim, iguais.
Quando penso nisso consigo entender um pouco por que Cristo morreu por e escolheu salvar pessoas. Trabalhar com gente é ruim, tem gente que a gente nem suporta. Mas, ao mesmo tempo, é bom. Seria isso um reflexo, ainda que deformado, do Deus relacional?
Acho que o problema de hoje em dia é a vontade ferrenha de apontar para as diferenças, quando na verdade somos muito mais parecidos do que somos diferentes. Precisamos todos da mesma coisa, tanto faz o lugar, o idioma, a condição financeira.
Enfim.


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