PALAVRAS
Recentemente descobri uma nova expressão que caiu no meu gosto. Sou desses, me enamoro de expressões, canso delas, e logo as troco por outras que trazem de volta a novidade do primeiro amor, só pra depois me ver cansado delas e buscar novas. Um péssimo exemplo.
Gosto da versatilidade de "piriri". É um jeito fácil de falar sobre algo ruim, mas sem dar todo aquele peso. "Vish, ela vai já ter um piriri" é o tipo de coisa que a gente ouve, fica de olho na dita cuja, mas sabe que não vai ser aquele Deus-nos-acuda. Ou ainda "Isso vai dar um piriri depois" é como quem avisa que algo ruim pode acontecer, mas dá a opção da pessoa tentar e lidar com as próprias escolhas depois.
Mas "piriri" está saindo para dar lugar à maravilhosa "pipipi, popopo" (a última parte lê-se "pó-pó-pó").
Ouvi a expressão quando uma colega no grupo de escritores de Roraima disse que foi a um lugar tentar convencer as pessoas no comando a autorizar autores locais a venderem seus livros por lá. "Aí, vocês sabem como é, né? Falei com ela sobre a importância da literatura local, pipipi popopo, e deu certo."
Quando li aquilo fui tomado de um fascínio que não soube explicar. A expressão não é uma onomatopeia, ela não representa um som em si -- mas, ao mesmo tempo, sim. Trata-se da lenga-lenga tradicional do que já se sabe que vai ser dito e da reação que vai causar em quem ouviu. Sabe, pipipi popopo.
A expressão tem um carinho inerente a ela ao mesmo tempo que não cumpre função nenhuma na prática. Ela só preenche um espaço com um gesto linguístico cuja nuance é tão suave que só o português brasileiro pra ter uma coisa dessas. Se tirar da frase, o sentido continua totalmente o mesmo, mas quando acrescenta, traz um sabor totalmente diferente. Uma expressão que tem cara de Brasil.
Quando era mais novo adorava a palavra "maracutaia". Usava em qualquer ocasião. Supresa? "Gente, que maracutaia!". Dúvida? "Que maracutaia é essa?". Alegria? "E aí? Só na maracutaia?". Era outra palavra bem própria do brasileiro.
Na minha época de representante discente na universidade, fazia questão de falar essa e outras expressões nas reuniões, ainda mais quando os professores mais sisudos compareciam. Eventualmente utilizava a variação "marmota", só pra variar um pouco.
Mas maracutaia caiu no meu desuso, passou-se o tempo dela. Deu piriri. Mas, sabe como é, né? Trata-se de um ciclo, da ânsia da novidade e do tédio de tê-la. Uma hora ou outra vou querer outra expressão, porque me canso dessas que já conheço. É aquilo, né? A gente nunca tá satisfeito com o que tem, pipipi popopo.
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