quinta-feira, 10 de março de 2022

Resenha – A morte de Ivan Ilitch

TOLSTÓI, Leon. A morte de Ivan Ilitch. Porto Alegre: LP&M, 2020.


Considerando a situação atual do mundo (estamos há quase um mês do início do conflito Rússia - Ucrânia), talvez eu deva conceder que os russos não produzam os melhores políticos; mas, diabos, como sabem fazer bons escritores. Não é meu primeiro livro de Tolstói e devo admitir que foi justamente essa experiência prévia que me levou a comprar esse livro (fiz uma resenha de Anna Karenina quando o li). Fiquei encantado com a capacidade da narrativa do autor que resolvi explorar outras obras. E, nossa, como valeu a pena. 

Pra variar começo elogiando a edição da LP&M. Não é segredo algum que amo literatura de bolso, especialmente quando esses livrinhos empacotam boa literatura russa. Na verdade, creio que já percebo os primeiros sintomas da velhice: quando abri o livro, uma das primeiras coisas que notei foram as letras grandes (não enormes, mas apropriadas) e o excelente trabalho de diagramação. 

Não há muito o que falar da narrativa do livro senão aquilo que já comentei em Anna Karenina: extremamente fluida, dá gosto de continuar lendo. Aliás, o autor imprime uma verossimilhança tal no comportamento dos personagens que o modo como narra e descreve o definhamento de Ivan Ilitch, me fez pensar que Tolstói realmente viveu aquilo, pra falar com tanta propriedade.

O grande tema do livro não é Ivan Ilitch, mas a morte. O autor faz um contraste entre a vida de Ivan, seu florescimento e ápice, pra depois mostrar sua decadência até chegar, enfim, na morte. Em poucas palavras, Ivan enfrenta o que há de mais básico na existência humana, talvez até mais comum do que a própria vida: o fato de que todos vão morrer. 
"Ivan Ilitch via que estava morrendo e desesperava-se. No fundo do coração sabia que estava indo embora e, longe de acostumar-se com a ideia, simplesmente não conseguia entendê-la." (p. 69)
Conforme lia a narrativa, fiquei pensando como deve ser horrível viver com esse medo – ou pior, morrer com esse medo. Confesso que me peguei triste por saber que esta é uma realidade não de poucos, para quem o futuro nada mais é do que a escuridão do desconhecimento do que há depois da vida.

Aliás, a reflexão que o autor faz no capítulo 9 sobre vida e morte é absolutamente genial. Penso até que aquele capítulo, por si, já justifica a honra que todo o livro leva (críticos consideram este livro como uma das novelas mais perfeitas da literatura mundial).

Não havendo mais o que ser dito, basta dizer que é realmente um livro incrível. E agora que parei pra verificar o blog, tenho lido bastantes autores russos nestes últimos tempos. É como falei. Não sei se produzem bons políticos; mas, meu Deus, como souberam fazer bons escritores.

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