quarta-feira, 5 de abril de 2023

Resenha — O médico e o monstro

STEVENSON, Robert Louis. O médico e o monstro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.


Este é mais um dos livros que ficou na minha estante por um bom tempo. Sei que já o havia lido, mas não faço ideia de quando foi isso. Só sei que faz tanto tempo que o pobre do livrinho sofreu: as primeiras páginas se soltaram da lombada e agora o bichinho está quebrado de vez.

Essa história é clássica. O médico que desenvolveu uma fórmula pra libertar-se das amarras da sociedade. Ele agora tem um alter-ego que torna possível ele ser quem ele realmente é por dentro. Aliás, o que todos nós somos por dentro: maus por natureza.
Não foi, portanto, alguma falha em meu caráter e uma consequente degradação, mas antes a natureza exigente de minhas aspirações a responsável por separar os domínios do bem e do mal que compõem a natureza dupla dos homens escavando entre eles um fosso ainda maior do que o habitual na maioria deles. (p. 67)
O livro é absolutamente fascinante. É chocante perceber que um livro tão pequeno pode conter uma história tão bem escrita e cativante. Com meros dez capítulos o autor faz a gente ficar cheio de curiosidade e deixa a revelação pra hora propícia: as últimas páginas não são cheias de adrenalina, mas a gente devora elas tão somente porque a curiosidade nos impele.

Aliás, o fim do livro é praticamente um ensaio sobre a natureza humana ponto porém, em lugar de ser entediante e cansativo, nós aplicamos as ideias do autor aos acontecimentos do livro o que lança luz sobre os fatos e deixa tudo muito interessante.

Achei interessante notar algumas pré-concepções que eu tinha do Mr. Hyde, não sei se pelos filmes ou simplesmente pela memória falha. A primeira coisa é que Mr. Hyde não é o equivalente de um Hulk. Pelo contrário, ele é menor e mais frágil que Dr. Jekyll, uma vez que este exercitou durante sua vida o seu lado bom, não o mau. Por outro lado, ele equivaleria ao Hulk num sentido de maldade e capacidade destrutiva. Não porque teria mais poder destrutivo em si, mas porque, sem amarras do bem, ele se sentia livre para fazer o mal.

Além disso, Mr Hyde não é outra pessoa, outra personalidade, se não a MESMA pessoa, mas mostrando o mal que havia dentro dela. Ao quebrar a barreira da separação entre os desejos ocultos e a realidade, Dr. Jekyll percebeu que, sem a Graça Comum, ele estava perdido.

No fim das contas é o que via de regra descobrimos: clássicos não são clássicos à toa. Esta obra fascinante que explora de maneira fantástica a dualidade e as contradições da condição humana certamente vai continuar na minha estante. Mas vou comprar outro exemplar, claro.

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