terça-feira, 6 de abril de 2021

Resenha – O trílio negro

BRADLEY, Marion Zimmer; MAY, Julian; NORTON, Andre. O trílio negro. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.


Faz um tempo, eu fiz aqui a resenha do Trílio Dourado. O que eu não sabia quando meus pais me presentearam com ele, é que não era o primeiro da série. Então este é mais um daqueles casos que a gente pega o bonde andando. E só agora, sei lá, 15 anos depois, é que estou entendendo o que foi que aconteceu nessa série.

A proposta do livro já é sensacional: reunir três autoras de fantasia/ficção científica e juntas criarem um mundo fantástico onde três princesas (Haramis, Kadiya e Anigel) precisam percorrer a Jornada do Herói para se tornarem pessoas melhores e juntas derrotar o mal sobre seu reino. 

As autoras têm um claro domínio do que estão fazendo. Criam um mundo fantástico sensacional, cheio de criaturas únicas e até mesmo um jogo político bem arquitetado entre as diferentes nações. Como é natural de todas as histórias que tem mais de um protagonista, um deles fica ofuscado. No caso, foi Haramis. Eu tenho uma preferência óbvia por Kadyia e sempre imaginei q a Anigel (cujo único poder especial era "ser princesa") seria muito sem graça. 

Mas o que aconteceu foi que Haramis acabou isolado demais, sem outros personagens para interagir, o que a deixou monótona. Por outro lado, as duas outras princesas estão constantemente interagindo com outros ou em perigo, o que deixa a gente mais vidrado nelas. E o arco de Anigel acabou se tornando o mais interessante, uma vez que ela era quem mais tinha o que mudar.

O livro é estruturado de modo que cada capítulo conta a trama de uma das três princesas. No começo é cansativo trocar entre as personagens, mas depois a gente se acostuma e fica imerso em cada uma delas. Aliás, mais uma vez estou aqui tirando o chapéu para a capacidade das autoras em arquitetar um troço desses, com cada uma escrevendo um trecho e ainda assim respeitando a unidade do livro.

Em todos esses livros do Trílio eu tenho problemas com a tradução. Em determinado momento deste, eu pensei que tinha havido erro na tradução. Como esta parece ser a primeira edição, eu pensei que a tradutora simplesmente tinha esquecido de traduzir a palavra. Deve ter sido um daqueles casos que "ah, vou seguir adiante e depois eu vejo":
"[...] De repente, disse: – Uzun, quer tentar scry pra mim?" (p. 154)
O que eu não sabia, porém, é que isso não foi um lapso, mas uma escolha consciente da tradutora. Aff, foi o que disse: erro na tradução. Se você vai traduzir um texto, por favor se dê ao trabalho de traduzir. Essa palavra nem seria difícil, não custava nada. Em mais de um momento eu notei uma ou outra escolha inusitada de palavras para as quais não vi justificativa clara.

Os livros de fantasia, por excelência, têm uma dificuldade: se livrar do descritivismo prolixo inaugurado por Tolkien. Não vou dizer que neste livro isso aconteceu com tanta ênfase, mas, às vezes na ânsia de descrever, as autoras acabam deixando a imagem mais confusa. A descrição não pode explicar absolutamente tudo, precisa deixar espaço pra imaginação. O livro peca nisso em algumas ocasiões.

Não obstante, o livro é fantástico! Aqui não tem segredo: é uma história padrão de magia, monstros, segredos antigos e misteriosos, um vilão poderoso, uma batalha feroz, superação de personagens, encontro com amigos e inimigos. É o pacote completo. 

Muito diferente de "A garota do lago" que propôs um pacote completo mas estragou todo o conteúdo, esse aqui faz seu dever de casa. Tudo que se propõe a fazer em termos de enredo, faz bem feito. É bem infanto-juvenil às vezes, mas tudo bem, era essa a sua proposta. Eu sinceramente curti demais! Pra ter uma ideia é um daqueles livros que eu até gostaria de reler um dia. 

Por fim, há umas sacadas muito bonitas das autoras. A cena de Anigel no final é linda de morrer. Na verdade eu amo qualquer história em que o herói não vence sozinho, mas precisa da ajuda de outros e eles trabalham juntos pra alcançar os objetivos. 
"– [...] Seu povo me chamou de Olhos Penetrantes, mas só pra me agradar. Sim, posso ver certas coisas, mas, para outras, sou cega!
– Saber que é cega é começar a ver – disse Jagun, suavemente. [...]" (p. 69)
Não tenho nem como concluir isso aqui de outra forma senão recomendando essa leitura. Aliás, as próximas resenhas bem provavelmente ainda serão sobre esta série, já que eu aproveitei a deixa e comprei logo todos os cinco! (risos) (mas risos nervosos). Até o próximo episódio com "O trílio de sangue".

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