quinta-feira, 19 de março de 2020

Crônicas literárias - II: um desabafo

Acho que nem se pode chamar isso de crônica, porque não é. Isto é um desabafo. Isto é um memorial. Porque hoje faleceu Devair Fiorotti. Essa notícia veio como um baque pra mim. Não esperava. Não mesmo. Devair era novo, um cara cheio de vida, cheio de energia. Devair era uma coluna para a arte roraimense. Eu não fui tão próximo dele quanto gostaria, mas ainda assim quero deixar registrado aqui o respeito que tinha por aquele homem.

Conheci o professor Devair quando ambos trabalhávamos na UERR. Ele morava em outra cidade (Pacaraima) e comparecia à Pró-Reitoria de Pesquisa (onde eu trabalhava) uma vez por mês para entregar alguns relatórios. Eram as poucas ocasiões em que eu mantinha algum contato pessoal. O que eu não sabia, na verdade, é que já admirava o homem sem saber.

No Facebook, Devair postava uma coletânea de fotos em preto e branco feitas com o lixo que ele encontrava jogado em Pacaraima. Achei aquele trabalho de uma singularidade ímpar. Eu via ali os reflexos de um grande artista que eu mal conhecia. E se eu admirava seu trabalho na fotografia, qual não seria minha surpresa ao descobrir nele um dos maiores poetas de Roraima.

Meus encontros com o prof. Devair sempre foram esporádicos, mas sempre significativos. Ele foi o mentor de um dos maiores eventos culturais de Roraima, o Yamix, que acontecia na fronteira Brasil-Venezuela. E, vejam só como são as coisas, foi o evento que despertou em mim uma fagulha de ideia que depois resultou... no meu mestrado.

Durante minha pesquisa, tive a honra de entrevistar o professor Devair, que me contou parte de sua história e me apresentou todo o trabalho que teve com o Yamix. Ah, eu reconhecia ali não apenas traços do artista, mas do guerreiro. Porque eu vou falar pra vocês: fazer arte no Brasil significa batalha, quiçá guerra. Contra a burocracia, contra a falta de interesse (político), contra a apatia e descaso. Devair era um guerreiro.

Não só na vida artística, como na vida acadêmica. O cara não era apenas criativo, ele sabia o que estava fazendo. Ele tinha domínio da técnica, da teoria e da prática. Caramba, ele foi até parte da banca de qualificação da minha dissertação de mestrado! Não tenho como negar: Devair fez parte da minha história.

Devair foi até citado na crônica que eu escrevi ontem (meu Deus! Ontem! Ontem ele vivia!), quando falei daquele doutor em Letras que foi, de longe, o maior revisor que eu já tive. Era ele. Era o professor Devair Fiorotti. Eu sinto muito não ter ficado mais tempo perto dele. Com sua morte se vai um grande ser humano que prezava pelo bem e lutava pela arte. 

Que Deus console o coração da família e dos amigos enlutados. Você deixou saudade, Devair. 

Devair com a esposa Sony e a filha Amora no lançamento do meu livro (2019)

3 comentários:

Victor Mattioni disse...

Uma triste perda, amigo.
Todos fomos pegos de surpresa que esta notícia.

As Letras,a literatura e a fotografia nacional perdem um grande amante destas Artes.
Aos familiares e amigos enviamos as nossas condolências.
Que o Senhor nos console

Gabriel Alencar disse...

Victor Mattioni, vc falou grandes verdades. Devair era um artista verdadeiramente singular.

Sony Ferseck disse...

Só hoje li seu texto,Gabriel... Obrigada pelo carinho. Estilhaçada por dentro... Mas buscando levar adiante...

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