segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Resenha - Príncipe dos drogados

CORREA, Kinho. Príncipe dos Drogados. Boa Vista: Gráfisa, 2019.


Meus amigos, devo iniciar confessando meu pecado: eu julguei o livro pela capa. Se for pra ser bem honesto mesmo, iniciei a leitura com baixas expectativas. Ao folhear o livro, de cara já me chamaram a atenção a formatação de baixa qualidade do texto, páginas que não estão bem cortadas, um livro não uniforme. A qualidade do papel não é de quinta, embora não seja de primeira. O pior de tudo isso é que, além de julgar o livro pela capa, o autor é também roraimense e (a coisa só vai afundando cada vez mais) eu estive no lançamento deste livro -- meu exemplar é até autografado. 

Mas são coisas que servem de lição. O livro foi uma BAITA surpresa. O conteúdo é de excelente qualidade, coisas que eu jamais imaginaria. Quero fazer aqui uma resenha honesta e portanto vou apresentar tanto as qualidades como os defeitos que encontrei. Vamos seguir.

O que fica evidente pra quem folheia o livro, como já disse, são os problemas com formatação. O exemplo mais nítido é usar hífen (-) para falas. Poxa, podia ser pelo menos o meia-risca, né? (–) Ou, o que seria melhor, o travessão (—). Ou, se optasse pelo hífen mesmo (o que já é feio pra caramba), que pelo menos mantivesse a uniformidade. Mas nem isso! Tem horas que é hífen, tem horas que é dois hífens juntos (--) tem horas que é meia-risca. Um caos. Infelizmente a revisão deixou muito, muito, muito a desejar. Não apenas na parte gráfica ou textual, mas na própria verossimilhança de algumas falas.

Quanto à distribuição dos textos no livro, eu alteraria a ordem. Tem 3 textos que são relatos pessoais de Kinho. Deixaria o primeiro no começo mesmo, pegaria o Mad Max e colocaria logo depois de Marinalva; depois pegaria o Luta por uma causa e terminaria o livro com ele. Assim o livro fica equilibrado: texto do Kinho, 2 relatos, texto do Kinho, mais 2 relatos e outro texto do Kinho pra finalizar. Uma humilde sugestão pra uma próxima edição.

Agora, olha, acreditem se quiser, por piores que estes problemas sejam, eles ficam eclipsados quando nos deparamos com o conteúdo do livro. A proposta é diferente e ousada. Pra começar que não é ficção (não mesmo!) Na ficha catalográfica está "testemunhos". Grande verdade. Há uma excelente contextualização do tema no começo. O que o autor faz é mostrar por meio de relatos o mundo das drogas em Roraima a partir da sua própria experiência e de outras pessoas.

É muito interessante ver este mundo escondido dos olhos do grande público, ainda mais em Roraima, onde há tão pouco material escrito sobre o tema. O livro é honesto. Nossa! E como é honesto! Como nunca pretendeu ser ficção, o autor é livre para compor seus ensaios de maneira clara. O texto é bem escrito e impactante por ser tão direto em alguns momentos: "Na época eu era um dos traficantes mais conhecidos na cidade de Boa Vista/RR [...]" (p. 29)

Temos nos escritos alguns belos testemunhos de conversão. E pense num livro extremamento imersivo. A gente fica vidrado nas histórias da vida real. Talvez justamente porque elas são isso: da vida real! Tem histórias no livro que, pra ser bem sincero, eu preferiria que fossem ficção. 
Eles não brigavam por controle de vendas de drogas ou qualquer outro tipo de tráfico, as violências eram pra mostrar quem tinha mais força. (p. 44)
Há um pouco de auto exaltação que achei desnecessária. Este tipo de informação deve surgir na mente do leitor e não ser forçada goela abaixo. Mas eu mesmo reconheço que Kinho é de extrema coragem. Retratou de maneira bem clara o drama pessoal de algumas famílias que tem dependentes químicos. É uma situação terrível. Eu não sei se teria coragem de contar do jeito que ele contou.

Essa resenha é curta e simples porque eu não tenho coragem de falar aqui dos pormenores dos conteúdos das histórias. Entendam, não há nada explícito. Mas pensar que aqueles são relatos reais, sobre pessoas que ainda existem (e outras que já partiram)... olha... é um livro que precisa ser lido. Realmente abre os olhos para uma realidade. Imagino quantas outras histórias não há para serem contadas.

Conte-as, Kinho.
Eu não vou desistir desse trabalho. Eu sei que eu sofro muitas represálias, sou muito criticado por causa disso, algumas pessoas até acham talvez que eu queira me aproveitar. mas não é isso. Eu quero é ver minha cidade, seus filhos e netos com paz. (p. 88)

1 comentários:

Unknown disse...

confesso que a questão da formatação me irritou bastante, mas, por se tratar de um livro roraimense deixei essa questão de lado, gostei muito do conteúdo do livro, cada historia e bem emocionante e por se tratar de relatos reais foi o que deu um brilho para o livro, gostaria muito que a literatura roraimense fosse mais valorizada.

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