Tomei um susto agora quando fui procurar a imagem da capa do livro no Google. É que não sabia que esse livro foi finalista do Prêmio Jabuti de 2024. Gente do céu, se esse livro é o finalista, não sei o que esperar da literatura brasileira. Ou, sendo mais brando, não sei o que esperar do Jabuti, talvez. Enfim, a resenha.
O livro conta a história de Isaque, Cecília e Isabel, nessa ordem e de forma alternada. Eles vivem numa sociedade onde foi passada a Solução 79, onde sacrificam mulheres de 79 anos e usam seu sangue como cura para crianças que sofrem de alguma doença não especificada. O livro narra o dia em que Isaque tem que levar Isabel para a eutanásia forçada e o dilema sofrido por ele e Cecília.
A premissa é interessante, mas, pelo amor de Deus, o livro é muito chato de ler. É um vai e volta desnecessário, a narrativa não é linear e além disso ainda muda de personagem com frequência. Tenho que gastar mais tempo tentando identificar o quem e quando do que me concentrando no quê da história (que foi o que eu realmente me propus a ler).
Só depois que fica claro quem é quem, mas até lá já começamos a olhar o livro com o canto dos olhos. Até porque, embora a narrativa fique um pouco mais organizada, nem por isso se torna menos chata. Os personagens então nem se fala. É triste de ler. É que eles simplesmente não têm progressão: é a feminista sempre revoltada, o introvertido banana e a idosa fundamentalista. São pintados dessa forma e temos que aturar isso até o fim.
Não bastasse isso, o que mata mesmo é a narrativa chata. Cheia de detalhes e causos que contribuem muito pouco pra história. O autor não cumpre sua parte no acordo e fica levando a gente pra caminhos obscuros sem propósito. Me parece que o autor quer criar uma atmosfera, um ethos próprio. É o tipo de livro que está mais interessado em filosofar e criar ambientes de impressão do que de fato fazer o que um bom livro deve fazer: contar uma história
Esse é o tipo de livro que dá raiva de ler, porque a gente sente que só perdeu tempo. Pronto, taí. É o tipo de livro que professores obrigam alunos a ler e depois eles pensam: "Se leitura é isso, nunca mais eu quero ler na minha vida".
Pra se ter uma ideia, a história começa a ficar interessante na página 239, quando já se passou mais de 80% do livro — e se parar pra pensar, é exatamente nesse ponto que a história finalmente avança. Mas ainda assim esse ímpeto dura pouco tempo, porque logo o livro cai no marasmo de novo. Imagine aguentar 239 páginas de setup pra depois ainda não ser recompensado.
Eu entendo o que o autor quis fazer, não é uma ideia errada; mas é que a execução foi péssima. Pra fazer bom uso da narrativa alternada, o autor precisa avançar a trama ao mesmo tempo em que usa as narrativas em tempos diferentes pra complementar o que acontece no presente. Tudo precisa contribuir para a história diretamente, não dá pra só ficar contando causos e pensar que isso preenche bem o espaço.
Pra não dizer que o livro não acertou em nada, acho que a temática, na medida do possível, foi bem representada. O livro tem um forte apelo à exaustão que muitas mulheres sofrem na sociedade atual. E ele é muito certeiro em mostrar a causa disso: a passividade masculina. Quando o homem não é o cabeça, a mulher perde a cabeça.
Mas é isso. Esse é o tipo de livro que me faz querer desistir de literatura contemporânea. Ainda bem que li outros esse ano que salvaram. É a vida.










