segunda-feira, 19 de maio de 2025

Resenha — Mind Machines

ZALES, Dimas. Mind Machines: Human++ (Book 1). New York: Mozaika, 2016.


Fico extremamente triste quando vejo um livro que tem potencial para ser bom, mas que é desperdiçado por insistir em obedecer a fórmulas do mercado do que é uma boa história. Infelizmente, a fórmula é falida e seu livro se torna apenas mais um entre muitos. Bom, vamos à resenha.

Neste livro de ficção científica, acompanhamos a história de Mike Cohen, um filho de imigrantes russos que mora nos EUA. Mike é multimilionário e investe parte de sua fortuna numa nova tecnologia chamada "Brainocytes", robôs nanotecnológicos que são injetados na corrente sanguínea de uma pessoa e vão para o cérebro, onde aprimoram os neurônios e a pessoa. Ele faz isso porque sua mãe tem Alzheimers e ele vê nisso uma chance de salvá-la.

Essa premissa me fez botar bastante fé na história, me pareceu que seria sobre família. Ele tem um parzinho romântico (Ada) que é uma cientista no projeto, um outro amigo russo rico (Mitya), e um primo considerado perigoso por seu passado criminoso (Joe). Porém isso não durou.

Preciso confessar que vejo que há certa maturidade na escrita do autor. Não foi à toa que os primeiros 55% do livro foram bem agradáveis de se ler. O cara realmente sabe escrever, não só os diálogos, a narrativa, mas até as elocubrações filosóficas sobre o uso de tecnologia e seus impactos na sociedade me fizeram pensar que este seria um bom livro de ficção científica, daqueles que fazem a gente pensar.

Porém, como disse no primeiro parágrafo, logo o livro caiu nos clichês. A mãe do personagem principal é raptada e de repente não estamos mais lendo um livro sobre família, virou uma história de ação estilo 007, onde agora personagens com cyber-poderes vão até a Rússia para invadir uma instalação militar e salvar a mãe do protagonista. 

Cara, deu pena ver isso acontecer. O livro perdeu toda a razão de ser, virou só mais um clichê porque (presumo eu) o autor pensou que talvez isso pudesse virar filme. É a única explicação que consigo pensar. Desperdiçou todo o potencial de explorar os limites da humanidade, de ver até onde a tecnologia pode realmente ajudar, de questionar o que torna o humano, humano.

Além disso (ou talvez, por causa disso) logo os personagens ficam em segundo plano, e só o que importa é a ação propriamente dita. Os personagens não evoluem, permanecem o mesmo do começo. Não há nenhum claro problema a ser consertado neles, o arco é apenas uma série de eventos (deveras, até interessantes em certa medida), mas que são apenas eventos.

Segue-se que só nos interessamos nos eventos, não nas pessoas, elas se tornam bem esquecíveis. O personagem principal apenas ganha mais poder por conta da experiência que viveu, mas psicológica ou moralmente não muda nada. Ou seja, fez toda a jornada do herói só pra voltar pra casa o mesmo que começou. Em outras palavras, fez a jornada por nada.

Enfim, é a tristeza de ver clichês e mais clichês. Daí a minha grande dificuldade em ler literatura contemporânea. Pra mim ela é toda igual. Quero estar errado, mas esse livro não está ajudando. Infelizmente não ficará na minha estante — mesmo sendo ebook.

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